Hipnose clínica é reconhecida como auxiliar terapêutica útil na área de Saúde
Pouco conhecida na Paraíba, a hipnoterapia, que é a hipnose aliada à terapia, tem sido considerada uma técnica eficaz para reduzir sintomas de depressão, ansiedade, pânico, fobias e estresse, entre outros transtornos do comportamento, além de algumas doenças físicas, chamadas de psicossomáticas, nas quais o corpo sofre por causa da mente. Resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM), Conselho Federal de Psicologia (CFP), Conselho Federal de Odontologia (CFO) e Conselho Federal de Fisioterapia (Coffito) permitem a utilização da hipnose como recurso auxiliar no tratamento dos pacientes.
A esse respeito, a presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP), na Paraíba, a psicóloga Ana Sandra Fernandes Arcoverde Nóbrega, esclarece que, de acordo com a Resolução CFP Nº 013/ 2000, o Conselho Federal de Psicologia reconhece e considera a hipnose como recurso complementar e auxiliar da Psicologia. “Porém, para fazer uso desse recurso, o profissional psicólogo precisa estar capacitado adequadamente e possuir a devida comprovação desse conhecimento e se utilizar dele dentro dos padrões éticos e que garanta a segurança da pessoa atendida, em condições de trabalho dignas e apropriadas, sendo vedado ao psicólogo a utilização da hipnose como instrumento de demonstração fútil ou de caráter sensacionalista ou que crie situações constrangedoras às pessoas que estão se submetendo ao processo hipnótico”, avisa.
Também sobre o assunto, o presidente do Conselho Regional de Odontologia (CRO), Abraão Alves de Oliveira, explica que, segundo a Resolução CFO-185/93, o profissional da odontologia tem a prerrogativa de empregar a hipnose, desde que comprovadamente habilitado, quando a técnica se constituir num meio adequado para o tratamento. “A prática, que é regulamentada pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), não chega a ser área de especialidade, mas é uma habilitação. As pessoas que se interessam e que estudam têm cursos sob a forma de habilitação, mas a prática é de direito legal da odontologia”, observa.
Abraão Alves considera a utilização da hipnoterapia como uma importante ferramenta auxiliar no tratamento odontológico de pacientes que têm determinados comportamentos de pânico ou de difícil controle emocional, além de pacientes com necessidades especiais, que às vezes também não têm o controle ou o domínio da consciência. “A hipnose é de grande importância para as atividades do dentista e diante desses casos, pode ser o próprio profissional que aplica a técnica e trata o paciente, desde que ele tenha a habilitação em hipnose. Caso contrário, há profissionais habilitados que são chamados pelos dentistas, no momento de atender pessoas que têm essas complicações, para aplicar a hipnose e acompanhar o tratamento até o término”, detalha.
De acordo com o parecer do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 42/1999, a hipnose é reconhecida como valiosa prática médica, subsidiária de diagnóstico ou de tratamento, devendo ser exercida por profissionais devidamente qualificados e sob rigorosos critérios éticos. A técnica recebeu o nome genérico de hipniatria. Na Paraíba, não se tem notícia de qualquer procedimento ou ato médico que utilize a hipnose como parte do conjunto terapêutico. Segundo informa o médico Marco Smith, neurologista e membro do Conselho Regional de Medicina (CRM), não se toca nesse assunto no conselho, na Paraíba. “Pode até ter gente utilizando essa técnica, mas desconheço quem faz isso aqui no estado, principalmente psiquiatra ou neurologista. Quanto ao conselho, não existe esse assunto no CRM”, afirma.
Prática da hipnose ainda é objeto de desinformação e preconceito
O psicólogo clínico Deusdedit de Lima revela que são poucos os psicoterapeutas que utilizam a técnica da hipnoterapia, na Paraíba. Ele atribui esse fato à desinformação e ao preconceito que ainda impera com relação à hipnose. “Aqui na Paraíba não existe um trabalho com hipnose nos hospitais, porém nas regiões Sudeste e Sul, onde a hipnose é bastante aceita, existe o registro de equipes habilitadas que trabalham com a hipnose para diminuir a dor, a exemplo do que acontece no Hospital Miguel Couto, no Rio de Janeiro, e no Hospital das Clínicas da USP, que tem um grupo da Sociedade de Hipnose de São Paulo atuando no Departamento de Neuropsiquiatria. No Paraná existe o Laboratório Forense com a prática de hipnose, único na América Latina e que tem como objetivo a investigação de casos policiais”, complementa.
Deusdedit de Lima explica que existem diversas definições para a hipnose. Uma delas é a da American Psychological Association (APA), que descreve a Hipnose como uma interação cooperativa em que o paciente responde às sugestões do hipnotizador e interage com objetivos terapêuticos preelaborados, ou seja, a hipnose é um procedimento em que um cliente, paciente ou indivíduo experimenta mudanças nas sensações, percepções, pensamentos ou comportamento. “Podemos dizer que a Hipnose é um estado de atenção concentrada em alguma coisa, isto é, quando a atenção está focada para algo que nos paralisa. Exemplos: visualizar uma imagem com muita atenção, ler uma revista ou jornal, assistir a um programa de TV, um filme, uma peça teatral, uma entrevista, palestra ou aula que prenda a atenção e propicie um transe hipnótico, isto é, um estado de concentração elevada, bem como um relaxamento físico que provoca bem estar”, especifica Deusdedit Lima, ao mesmo tempo em que mostra, em seu consultório, o divã onde o paciente deita para fazer o relaxamento para a hipnose.
O psicoterapeuta acrescenta que é no momento do transe que são aplicadas técnicas da terapia, onde o senso crítico é afastado e a pessoa, que escuta tudo, é conduzida pela voz do terapeuta com sugestões ou induções positivas, de acordo com as queixas ou sintomas do referido paciente. Ele informa que também existe a hipnose condicionativa que, como a própria palavra diz, tem referência com condicionar a memória com pensamentos positivos e sugestões positivas, para que, a partir de sua aplicação, o paciente passe a ser mais positivo na vida. “Utilizo a técnica hipnótica mais demorada, que é a do relaxamento. A gente faz com que o paciente deitado venha a relaxar o corpo todo e comece a sentir uma sensação de prazer, de calma, além de ficar bem tranquilo e de olhos fechados. Depois, de acordo com os sintomas e com as queixas que ele apresente, a gente aplica os comandos, as sugestões, que também são chamadas de induções positivas. As sugestões farão com que o paciente retire da mente os pensamentos negativos e comece a interpretar e viver a vida mais positivamente”, detalha.
O especialista explica que existe a hipnose clássica e a hipnose ericksoniana, só que dentro dessas, modernamente, cada teórico ou escritor segue uma linha. Deusdedit de Lima se revela seguidor da teoria de Milton Erickson (1901-1980), considerado pai da hipnose moderna, cujas técnicas da hipnoterapia, além de se popularizarem, até hoje são utilizadas. “Erickson criou várias técnicas modernas de indução e utilizava anedotas e metáforas para facilitar o estado da hipnose. Suas técnicas foram aplicadas em milhares de pessoas com muito sucesso e resultados comprovados”, comenta.
Deusdedit revela que no Brasil, por exemplo, existe a hipnose cognitiva comportamental, cuja finalidade é estudar a cognição e o comportamento. “A cognição está ligada mais aos pensamentos, à memória, a percepção e a interpretação que a pessoa faz daquilo que vai modificar a vida, ou seja, ela vai agir e se comportar de acordo com o que pensou. Por isso é chamada hipnose cognitiva comportamental, porque os pensamentos influenciam os sentimentos e estes, por sua vez, influenciam no modo de agir. Então, tudo está no pensamento”, assegura.
Indicações e eficácia da hipnose como método auxiliar de tratamento
As principais indicações da hipnose, de acordo com o psicoterapeuta Deusdedit de Lima, são ansiedade, transtorno do pânico, fobias, estresse, estresse pós-traumático, baixa autoestima, compulsões alimentares e para compras e jogos, emagrecimento, depressão, tiques, tabagismo, dores, dificuldade de aprendizagem para estudantes e candidatos a concursos, doenças psicossomáticas, transtorno do sono, questões emocionais, disfunções sexuais masculinas e femininas, entre outros. Ele acrescenta que a hipnoterapia pode não surtir bons resultados em pacientes que apresentem Alzheimer e Parkinson, além de quadros psiquiátricos graves, esquizofrênicos e psicóticos, devido à dificuldade de concentração e relaxamento.
O especialista assegura que a hipnose é muito eficaz contra a obesidade e para promover o emagrecimento. “A hipnose não é milagre. Então, a gente precisa ensinar a auto-hipnose para a pessoa fazer em casa, a fim de dar continuidade ao tratamento, que deve ser complementado com a prática de atividades físicas e uma reeducação alimentar. No caso da obesidade, a gente vai trabalhar para diminuir a gula e para que a pessoa possa saciar a fome com pouca comida. Na hora da alimentação, o cérebro está sugestionado e ela vai colocar pouca comida no prato”, complementa.
Especializado em psicoterapia sexual e educação sexual, Deusdedit Lima acrescenta que a hipnose também é usada para tratar as disfunções sexuais. “No homem, ela pode corrigir a ejaculação precoce e a disfunção erétil, ou ainda a falta de desejo sexual. O tratamento vem através de sugestões, principalmente para diminuir a ansiedade, a causa maior desses problemas. A hipnose também atua na correção dos transtornos de humor”, continua.
Deusdedit faz questão de frisar a importância da hipnose para os estudantes que vão se submeter a concursos e às provas do Enem. “É muito comum chegar ao consultório gente com dificuldade de aprendizagem para dominar o conteúdo dos concursos. A hipnose é excelente e bastante eficaz para que ele obtenha resultados positivos na aprendizagem, memorizando melhor os conteúdos que podem aparecer nas provas”, garante.
Psicoterapeuta conta como surgiu a hipnose
Não se conhece ao certo a origem da hipnose. Mas, segundo informa Deusdedit Lima, os povos antigos como os maias, os astecas, os persas e os gregos utilizavam a hipnose como meio de cura. “Na história, temos vários nomes, a exemplo de Anton Mesmer (1734-1815), que iniciou o emprego sistemático da hipnose. Depois veio James Braid (1795-1860), que utilizou a palavra “hipnos”, que em grego quer dizer sono, e explicou a natureza deste estado hipnótico, excluindo a existência de fluidos magnéticos emanados das mãos ou dos olhos do magnetizador”, relata.
Ele acrescenta que o termo “hipnotismo” surgiu pela primeira vez por meio de James Braid, para designar o procedimento de indução ao estado hipnótico. Hipnos significa sono, uma vez que a hipnose coloca a pessoa num estado especial do cérebro que se assemelha ao sono, mas que não é o sono. Em seguida, outros estudiosos como Liebeault e Bernheim também contribuíram para a história da hipnose. “Vale destacar ainda a contribuição de Charcot (1825-1893), que era um famoso neurologista francês que pesquisava a histeria. Temos também Sigmund Freud (1856-1939), que foi aluno de Charcot e praticou a hipnose em seus tratamentos, mas depois de um período abandonou a prática da hipnose, porque a utilizava para a obtenção de memórias reprimidas e passou a usar o método de “Associação Livre”. Émile Coué (1857-1926), farmacêutico e psicólogo, estudou os trabalhos de Liebeault e é considerado o pai da “auto-hipnose”, prossegue.
O psicoterapeuta lembra que foi Johannes Heinrich Shultz (1884-1962), psiquiatra freudiano de origem alemã, quem pesquisou a relação entre a mente e o relaxamento. “Conhecedor das técnicas da hipnose elaborou um método de auto-hipnose conhecido como o Treinamento Autógeno de Schultz. Já Ivan Pavlov, pai da hipnose russa, foi o primeiro a introduzir a hipnose cientifica como médico e conhecido por suas pesquisas sobre o comportamento. Albert Ellis estudou hipnose na Associação Americana de Psicologia (APA) e durante 30 anos foi presidente da Sociedade Americana de Hipnose Psicológica. Milton Erickson (1901-1980), pai da hipnose moderna, era um famoso psiquiatra norte-americano, especializado em terapia familiar e hipnose, fundador da Sociedade Americana de Hipnose Clínica. Erickson completa o time de cientistas, popularizando um novo tipo de hipnoterapia, conhecida como Hipnose Ericksoniana”, conclui.
Técnica da hipnose ajuda no tratamento da odontofobia
Muitas pessoas têm medo de ir ao dentista. Enfrentar as brocas, seringas, agulhas, pinças e alicates é para muitos uma verdadeira tortura. Segundo estudos, os odontofóbicos, aqueles que nem cogitam entrar no consultório odontológico, representam 10% da população. Mesmo os que vão ao dentista, cerca de 50% da população, o fazem com certa dose de ansiedade. A utilização da hipnoterapia tem sido uma boa alternativa para minimizar o medo e trazer ao consultório odontológico os pacientes que têm odontofobia.
A cirurgiã-dentista, Taís Cristina da Rosa, que tem formação em Hipnose Condicionativa e é membro da Sociedade Ibero Americana de Hipnose Condicionativa, explica que o principal objetivo da utilização da hipnose na odontologia é tirar o trauma dos pacientes. “Muitos pacientes têm medo de ir ao dentista e às vezes não conseguem nem entrar no consultório e nem na clínica. Esses pacientes chegam suando frio, faltam as consultas e inventam milhares de desculpas para não vir, sabendo que precisam. Então eles ficam naquela do eu tenho que ir e não consigo”, prossegue.
Ela revela que os pacientes da hipnoterapia saem satisfeitos e com novas perspectivas, pois o tratamento tem eficácia comprovada. “O que na hipnose pode parecer milagre, nada mais é do que o acesso às novas respostas interiores, em função da junção entre a motivação do paciente e a abertura às riquezas de cada um, em seu inconsciente”, evidencia.
Taís Cristina esclarece que a hipnose, além de servir principalmente para tirar o medo, também é usada em alguns casos para a dor e para diminuir o limiar de sensibilidade. “Têm pacientes que qualquer coisinha dói muito, então a gente consegue diminuir a dor com a hipnose”, testifica. Ela assegura que todo paciente é passível de tratamento por meio da técnica. “Tem uns que demoram mais e outros que demoram menos. Depende do paciente. Quanto mais cético for o paciente, o tratamento demora um pouquinho mais, porque ele fica mais alerta e não consegue entrar em sono terapêutico e relaxar. Então leva mais algumas sessões para ele ter confiança”, observa.
A especialista afirma que a hipnose agrega resultados positivos, por exemplo, em tratamentos odontológicos em crianças, já que a técnica serve como apoio nos problemas relacionados a dores e disfunções da mastigação, bruxismo, dores da ATM, e também remoção de hábitos de chupar dedos e chupetas. Taís Cristina atende na Clínica Atelier do Sorriso São Rafael, fundada por ela em João Pessoa e que conta com métodos de anestesia por meio de um injetor computadorizado e o método da hipnose.
Taís explica que a utilização desse tratamento no Atelier do Sorriso São Rafael começou porque ela foi pesquisar na internet uma técnica que resolvesse a questão do medo de dentista. “Acabei encontrando o Dr. Luiz Carlos Crozera, fundador e diretor do Instituto Brasileiro de Hipnologia e Sociedade Ibero Americana de Hipnose Condicionativa, vi alguns vídeos dele no youtube, me interessei e fui atrás. Gostei muito da técnica e fiz o curso no Hospital do Exército, em Recife. Foi maravilhoso, vários médicos do hospital estavam lá, assim como pessoas do Brasil inteiro. A hipnose é tanto utilizada na odontologia, como também na advocacia, na área policial, na psicologia e no direito. É uma técnica muito eficiente”, assegura.
Segundo a dentista, tudo começou quando ela percebeu que a maior queixa dos pacientes não era financeira, não era de tempo, e sim, de medo. “Os pacientes faltavam por medo ou simplesmente não procuravam o dentista, e quando vinham ao consultório, já chegavam com a boca bem prejudicada. Nesses casos a gente já tinha que fazer procedimentos mais invasivos, como extração e cirurgias, sabendo que antes o problema seria resolvido com uma limpeza ou uma restauração. Esses, geralmente, são pacientes que acabam tendo outros problemas na cadeira do dentista, como hipertensão, por exemplo, de tão ansiosos que ficam”, constata.
Ela ressalta que a hipnose na odontologia pode tornar certos pacientes hipersensíveis com o limiar de dor bem baixo, durante o tratamento. “Às vezes não precisa nem de anestesia, mas o paciente tem o livre arbítrio. Mesmo que seja tirado o trauma, o paciente pode voltar a ter medo e dor, dependendo até da atenção dada pela mãe, pelo dentista ou por outra pessoa. Então depende muito do paciente. Ele tem que querer não ter medo”, destaca.
Hipnose e cotidiano como prática natural do ser humano
A hipnose está presente no dia a dia, mas as pessoas não sabem disso. A afirmação é do hipnólogo e mestre em História, Crítica e Processo de Criação em Artes Visuais, Sidney Azevedo. Segundo ele, a hipnose é provocada pela repetição e, por exemplo, a TV, o marketing, a música, por meio do sistema da repetição, entorpecem o lado crítico da mente que fica adormecido, ou seja o indivíduo fica hipnotizado sem saber.
“Se você fica oito horas diante da TV, é claro que você não fica oito horas concentrado. No entanto, você fica concentrado na hora do jogo de futebol, e entre um intervalo e outro tem as propagandas, isso tudo é hipnose, ou seja, programação neurolinguística. Ao estudar essas questões, tenho pensado em escrever sobre o assunto, para advertir as pessoas sobre essa hipnose negativa, que não é permissiva. Quando você quer ser hipnotizado por um motivo especifico, ela é ética, agora quando é hipnotizado sem saber, aí já é maléfica, tem má intenção”, analisa.
Sidney, que também é artista plástico e arte-educador, explica que muita gente pratica hipnose sem saber. Segundo ele, um bom vendedor, um político hábil ou um bom orador, são hipnotistas, porque a hipnose é uma prática natural do ser humano. “O ser humano tem facilidade de entrar em transe e colocar os outros em transe. Toda vez que você comunica uma coisa a alguém e a pessoa aceita e reproduz, existe aí um processo hipnótico”, teoriza.
Na opinião de Sidney Azevedo, nem todos que trabalham com marketing conhecem a fundo o assunto hipnose. “Eles têm uma consciência mais linguística, uma consciência da simbologia que determinadas cores ou palavras provocam em termos de determinadas fisiologias. É mais uma prática do que teoria. Eles conhecem a teoria da forma, as palavras de efeito, mas talvez não tenham tanta consciência que isso é hipnose”, considera.
Sidney acrescenta que a hipnose é ritmo e como a música é rítmica, quem a escuta e entra no seu ritmo passa por um processo hipnótico. “A música entorpece o lado crítico da gente e algumas religiões usam a música para provocar o êxtase, como por exemplo as afro-brasileiras e o Movimento Hare Krishna”, observa.
A hipnose é um estado alterado de consciência natural ou induzido. Segundo Sidney Azevedo, quando alguém causa uma confusão mental numa pessoa e ela fica em estado alterado de consciência, o hipnoterapeuta pode chegar perto dela e dar uma ordem contundente, com isso mudando o seu estado emocional, sem ela nem saber o porquê. “Quando a pessoa está com medo de ser hipnotizada, mais facilmente e rapidamente ela é hipnotizada, porque o medo também é um estado alterado de consciência, o que facilita a hipnose. Você pergunta: está com medo? O cara responde que sim. Aí você diz: relaxe, fique tranquilo. Você toca no ombro do cara, de forma bem fraternal. Quando ele solta o ar, relaxa e o olho dá uma tremidinha, ele já está praticamente em transe”, detalha.
Na avaliação do hipnólogo, é mais fácil hipnotizar alguém inteligente, com poder de concentração e imaginação, do que alguém que tem déficit de atenção. Ele revela que as pessoas não hipnotizáveis são as crianças pequenas ou indivíduos de idade muito avançada, além das pessoas que apresentam quadro patológico clinico, a exemplo dos esquizofrênicos e altistas. “As pessoas de modo comum, de 15 até 30 anos, são muito fáceis de hipnotizar”, comenta.
O arte-educador explica que a hipnose é lúdica e trabalha com a imaginação e os estados emocionais. Ele acrescenta que dá para hipnotizar alguém sem a pessoa saber e sem ela querer, basta para isso usar a hipnose conversacional, que é uma conversa fiada, onde o hipnotista detecta o sistema de crença da pessoa e as metáforas que ela usa. “Conversando cinco minutos, você detecta uma série de coisas, se ela é sinestésica, se é visual, se é auditiva, no que que ela acredita. Aí você começa a copiá-la, a acompanhá-la e depois inverte o jogo e ela começa a imitar você sem perceber. Então, você vai dando sugestões, dizendo que ela está no controle o tempo todo, não fala de hipnose, nem de meditação ou de relaxamento, fala outras palavras, já que para toda fechadura tem uma chave”, declara.
Sidney esclarece que existem hipnotistas que só sabem duas ou três técnicas e por isso necessita que as pessoas se enquadrem nas técnicas que domina. Ele informa que a hipnose é uma linguagem rica, um processo de comunicação do consciente do hipnoterapeuta com o inconsciente do paciente; é um processo de comunicação que tem resultados intencionais, seja para entretenimento, cura e divertimento. As hipnoses mais comuns são as de rua, clínica e de palco.
Pesquisador dedicado aos estudos sobre a hipnose, Sidney tem participado de diversos cursos sobre o assunto e prepara-se para participar, no próximo mês de outubro, de um curso de formação em hipnose clínica, que será ministrado pelo hipnoterapeuta Antonio Carreiro, doutor em Ciência pela Universidade da Bahia. “A formação dá o certificado para a gente atender. A hipnose ainda não é regulamentada academicamente, apesar de já ser admitida, aceita e aprovada por alguns conselhos federais, como os de medicina, psicologia, odontologia, fisioterapia e nutrição, mas os hipnotistas são formados por outros que tem conhecimento de causa e curriculum comprovado”, esclarece.
Futuro da hipnose é alcançar status acadêmico
Azevedo prevê que em no máximo 10 anos a hipnose passará a ser algo acadêmico e deixará a condição de técnica alternativa. “Hoje, com a Neurociência, com o eletroencefalograma e com os equipamentos que veem que o cérebro em transe funciona de outra maneira e que os resultados da hipnose são verdadeiros, a tendência é que a hipnose seja cada vez mais respeitada”, argumenta.
Para evidenciar a expressão fisiológica da hipnose, Sidney Azevedo defende que é preciso observar que o cérebro tem três divisões, além daquelas duas que se conhece, como o hemisfério esquerdo e direito, ou seja, o lógico e o intuitivo. o cérebro se divide em córtex que é a parte intelectual, o sistema límbico, ligado a emoção e a todo fisiologismo, e o sistema reptiliano que é o extinto de sobrevivência. “A hipnose atua nesses dois sistemas, o límbico e o reptiliano, e esses sistemas são os que coordenam toda a nossa fisiologia, batimento cardíaco, digestão, hormônios, por isso é que quando o paciente está em estado de hipnose, o hipnoterapeuta pode trabalhar todas as questões hormonais”, detalha.
No entanto, sustenta o pesquisador, é o inconsciente do paciente que vai fazer o diagnóstico, porque o inconsciente da pessoa sabe mais do que a própria pessoa. O hipnotista não precisa saber a origem do trauma, quem vai dizer é o próprio inconsciente do hipnotizado. É como um autodiagnostico, mas não intelectual. O paciente pode não saber nada, mas o inconsciente dele sabe e é por isso que a psicoterapeuta trabalha os sistemas cerebrais que coordenam toda a parte corporal.
Ele explica que quando alguém tem uma crise de pânico, apresenta toda uma sintomatologia e o coração fica com taquicardia, as extremidades do corpo ficam frias, a pessoa não consegue respirar direito, mas tudo isso é uma sugestão mental. Alguma coisa desencadeou o pânico nela, ou seja, uma espécie de estado de auto-hipnose. Quando essa pessoa procura o hipnoterapeuta, ele vai colocá-la em transe para buscar a causa dessa fobia, que pode estar na infância, na vida uterina ou nas vidas passadas. É a partir desse momento que o hipnoterapeuta tira o conteúdo que incomodava paciente, substitui por outro conteúdo e a pessoa se livra do problema. Esse processo chama-se condicionamento.
Hipnólogo pratica técnica desde a infância
A relação de Sidney Azevedo com a hipnose começou na infância, quando tinha 12 anos e teve acesso a um manual prático da hipnose. “Desde criança, por pertencer a uma família com pessoas católicas, espíritas e místicas, eu já tinha preocupação com a mente, com faculdades extras sensoriais e tinha muita sensibilidade espiritual, que chamam mediunidade. Além disso, tinha uma tia psicóloga e um tio curioso e que estudava todas as questões ligadas à mente”, relata.
Sidney conta que foi exatamente na casa do tio que encontrou o livro sobre hipnose. Seu tio, mesmo relutante, lhe emprestou o livro que falava da história da hipnose, desde Franz Anton Mesmer, passando por James Braid, por Jean Charcot, por todos os hipnólogos antigos e modernos. “O livro falava da hipnose prática e depois dele comecei a ler vários outros sobre o assunto, que comprava pelo reembolso postal, e me transformei num aficionado por hipnose, por volta dos 12 anos. E aí comecei a hipnotizar todo mundo, como as pessoas no meio da rua, nos postos de gasolina, supermercados, no recreio da escola, toda hora sempre tinha alguém que queria ser hipnotizado”, lembra.
Como sempre foi uma pessoa que mexia com arte, com desenho, Sidney era meio recluso, introspectivo. O que chamava um pouco a atenção das outras pessoas era o fato dele gostar de magia e dominar a técnica da hipnose. “Os colegas sempre me pediam, perguntavam, desafiavam, diziam que isso não existia. Todo dia eu hipnotizava pelo menos três pessoas. Isso aconteceu até eu chegar aos 20 anos, quando dei uma parada e fiquei uns dois ou três anos sem fazer hipnose, apenas estudando espiritismo e aprofundando o conhecimento sobre a própria hipnose e outras questões”, rememora.
Hipnose transforma realidade de hipnotizador e hipnotizado
A prática da hipnose pode ser usada como um instrumento para aliviar o sofrimento e como exercício de dedicação ao próximo. É o que afirma o comerciante aposentado Gecemar Cordeiro, 77 anos de idade, dos quais 46 são dedicados ao estudo e aprimoramento das técnicas de hipnose. Cordeiro faz experiências com os amigos e outras pessoas que o procuram para aliviar fobias, medos, depressão, angustia, mal-estar, dores de qualquer natureza. “Agora, com a minha aposentadoria, tenho mais tempo para me dedicar ao meu semelhante e por isso adotei uma nova maneira de praticar a hipnose: aliviar sofrimentos”, destaca.
A hipnose apareceu na vida de Gecemar Cordeiro através da curiosidade, em 1969, quando leu o livro intitulado “Cristo, o Hipnotizador”, escrito por Marcos Hochheim, um dentista de Porto Alegre. Mesmo discordando do título, Cordeiro diz que o livro o instruiu para começar a hipnose. Depois, com a leitura do livro espírita “Mecanismos da Mediunidade”, psicografado pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, com autoria atribuída ao espírito André Luiz, descobriu que os efeitos que o hipnotizador produz em benefício dos outros, serve como aprimoramento próprio.
“Mesmo o livro abordando a hipnose de palco e de circo, tem uma passagem que fala da importância da hipnose para aliviar o sofrimento e isso me levou a pensar no assunto e, aos poucos, estou descobrindo coisas que eu pensava que não existia, como por exemplo, a alegria que sinto quando alivio a dor de alguém, ou quando produzo, através da hipnose, o bem estar em uma outra pessoa”, ressalta.
Cordeiro ressalva que não cura a doença, apenas alivia o sofrimento, já que, segundo ele, só quem cura é Deus e o médico. Após a aplicação da hipnose, para prolongar os efeitos hipnóticos, Cordeiro ensina técnicas de auto-hipnose, presenteando o paciente com duas bolinhas de cores diferentes, uma de cor rosa para dormir e outra de cor perolizada para aliviar a dor, angústia, depressão e medo. “Toda vez que a pessoa quiser dormir e não tiver sono, olha fixamente para a bolinha cor de rosa, cujo comando está vinculado ao seu subconsciente e estará dormindo quando terminar de contar até dez. Quando a pessoa estiver se sentindo mal, com dores diversas, olha a bolinha pérola, senta em um lugar e conta até dez e estará livre da dor de qualquer espécie”, garante.
Gecemar Cordeiro explica que não cobra nada para fazer levar os benefícios proporcionados pela hipnose para as outras pessoas. “Dá de graça o que de graça recebeste”. Não paguei nada para receber esse conhecimento, essa habilidade, então não posso cobrar pelo que não paguei. Tudo o que faço é de graça, até as bolinhas que eu dou é de graça, não cobro nada de ninguém”, frisa.
O hipnotista explica que, por não ser dotado de carga magnética pessoal, só consegue hipnotizar pessoas hipersensíveis. “Só faço hipnose de autossugestão, para quem é hipersensível. Agora, a autossugestão não é limitada a pobre, nem a rico, nem a instruído e nem a analfabeto. Qualquer pessoa que seja hipersensível, pode ser médico, advogado, carroceiro, lenhador, pode ser o que for, se for hipersensível, a gente faz a hipnose”, conclui.
Vera Lúcia Francisco do Santos, 42 anos, é uma das pessoas atendidas por Gecemar Cordeiro. Ela assegura que após a sessão de hipnose, percebeu um grande alívio nas fortes dores de coluna que sentia. “Fazem dez meses que eu não sinto mais dor na coluna. Às vezes, ela fica querendo doer, mas não é como doía antes. Eu estou muito bem e quando começo a sentir algum sinal da dor, pego na bolinha, conto até dez e fico boa, a dor passa na hora”, atesta.
Mitos e verdades sobre a hipnose:
1- A hipnose não acontece por força ou poder do hipnotizador, e sim pela aceitação e confiança da pessoa que entra em transe e deseja ser hipnotizada. Cerca de 10% das pessoas não são hipnotizáveis.
2- O hipnotizador não controla os desejos da pessoa. Ela está consciente, ouvindo, escutando tudo. Desta forma, ninguém faz o que não quer, mesmo estando hipnotizado.
3- A hipnose não faz mal, desde que aplicada por pessoas preparadas e bem intencionadas, éticas.
4- A hipnose não causa dependência.
5- A pessoa não fica “presa” no transe nem corre o risco de não acordar (hipnose não é sono); caso o hipnotizador pare de falar, duas coisas podem acontecer: o paciente despertar ou dormir e despertar um tempo depois.
6- Hipnose não é regressão.
7- A hipnose de consultório (hipnoterapia), utilizada como ferramenta terapêutica, é diferente daquela usada por hipnotistas e mágicos, no palco – chamada de hipnose de palco ou show.
8- Estar em transe não significa estar inconsciente. Hipnose não é meditação, não é terapia e nem é sono. A pessoa está consciente, escuta, ouve o que se passa dentro e fora de si, apenas está muito relaxado.
9- A pessoa hipnotizada não revela seus segredos, não fala o que não quer dizer e nem fica à mercê do hipnotizador.
Dicas do Dr. Deusdedit de Lima – Psicólogo Clínico
Instituto Brasileiro de Hipnologia prepara profissionais em técnicas de Hipnose Condicionativa
Utilizada em mais de 6 mil clínicas e centros terapêuticos em todo Brasil e diversos outros países, como Estados Unidos, Portugal, Espanha, Índia, Itália, França, Inglaterra e Angola, a Hipnose Condicionativa é hoje a mais nova linha científica de hipnose clínica, a nível mundial. Para dar sustentação jurídica à disseminação das técnicas, assim como suporte e assistência aos alunos, após suas formações, o pesquisador Luiz Carlos Crozera, autor da Hipnose Condicionativa, fundou em janeiro de 2005 o Instituto Brasileiro de Hipnologia, com sede na cidade de Jaú, em São Paulo.
“Sempre fui um apaixonado pelos estudos e pesquisas sobre a mente humana e suas potencialidades, depois de longos 20 anos criando, desenvolvendo e testando, o que mais tarde batizei com o nome de Hipnose Condicionativa. A partir daí, muda-se todos os conceitos terapêuticos, indo diretamente nas “causas” dos problemas que cercam um indivíduo, revertendo os “sintomas”, sabendo que o único meio para entrar na mente, consciente e principalmente inconsciente, é via hipnose. Em 2009, após as técnicas estarem em diversos países, resolvo criar a Sociedade Ibero Americana de Hipnose Condicionativa, onde os alunos ficam engajados como membros, para receberem, durante o tempo que decidirem, total assistência do Instituto”, relata Crozera.
O Instituto criado por Luiz Crozera mantém permanentemente uma agenda de formações, para cobrir todos os Estados do Brasil. “Mantemos de 2 até 4 cursos ao ano, nas regiões Sudeste e Sul. Os Estados das regiões Norte e Nordeste recebem cursos intercalados, uma formação a cada 2 anos, devido estarem fortemente enraizados em velhos conceitos, principalmente os psicanalíticos, barreiras que aos poucos vamos rompendo. As formações de Hipnose Condicionativa são abertas, os cursos são livres e voltados para todos os profissionais das mais diversas áreas da saúde, educação, desportes, criminalística e recursos humanos, necessário ter mais de 21 anos, ter cursado ou estar cursando nível universitário, em qualquer área. Temos diversos alunos em João Pessoa, a exemplo dos psicólogos clínicos Deusdedit Lima e Natícia Bueno”, destaca.
Alguns benefícios e Indicações terapêuticas da Hipnose Condicionativa
Inúmeras são as indicações, dentre elas, Crozera cita as mais utilizadas: ansiedade, depressão e a síndrome do pânico, vários distúrbios e transtornos provocados ou acentuados pelo estresse e um desequilíbrio emocional; nos distúrbios psicossomáticos, onde um fundo emocional pode ocasionar uma gastrite, asma, processos alérgicos, enxaqueca e vaginismo; no apoio ao tratamento do câncer, da AIDS; nos processos dolorosos, principalmente nas dores crônicas; na cardiologia no controle da hipertensão e outras cardiopatias; na ginecologia, na obstetrícia, o parto sem dor com um acompanhamento pré-natal com sessões de hipnose.