Atletas podem treinar para serem mais resistentes ao estresse, diz estudo
Quando os atletas aprendem a ter maior consciência de seu corpo, também podem mudar o funcionamento do cérebro e se tornar mais resistentes ao estresse, segundo novo estudo dos efeitos da meditação de plena atenção sobre a função cerebral em atletas dedicados.
Publicado recentemente em “Frontiers in Behavioral Neuroscience”, o estudo teve origem em uma obstrução na largada de um dos principais atletas da seleção masculina de BMX dos Estados Unidos. O técnico confuso se perguntou como ele poderia ajudar os corredores a lidar melhor com a ansiedade e os rigores psicológicos da competição. Assim, ele procurou cientistas ligados ao departamento de Psiquiatria e ao Centro para Plena Atenção da Universidade da Califórnia, campus de San Diego, perto de onde a equipe treina, e perguntou se eles estariam interessados em trabalhar e estudar seus sete atletas.
A proposta foi aceita. Pouco antes, os cientistas haviam terminado um estudo com imagens computadorizadas do cérebro de fuzileiros navais que estavam prestes a entrar em serviço, durante os quais examinaram os militares enquanto estes eram submetidos ao cansaço físico. Os soldados usavam máscaras que dificultavam um pouco a respiração – o corpo considera tremendamente estressante a dificuldade para respirar – e aprenderam várias técnicas meditativas antes do exame ser repetido. Depois do treinamento, partes do cérebro reagiram de forma diferente ao mesmo cansaço físico. Os cientistas acreditavam que as mudanças na atividade cerebral permitiriam aos fuzileiros reagir com menor ansiedade em situações difíceis.
Decerto, o esporte está longe de ser um combate, mas atletas sérios podem sentir um estresse considerável ao antecipar a competição. Os cientistas se perguntaram se o treinamento adequado da mente poderia mudar o cérebro dos competidores e auxiliá-los a lidar melhor com isso.
Assim, concordaram em trabalhar com os esportistas de elite de BMX e lhes ensinar a atenção ao corpo. Os cientistas definiram essa plena atenção como uma concentração absorta em sinais recebidos pelo cérebro de outros pontos do organismo.
Para testar o nível com que os atletas percebiam os sinais ligados ao estresse no começo do estudo, os pesquisadores lhes deram máscaras que, a critério do cientista, poderiam prejudicar levemente a respiração, de forma a induzir o estresse.
A seguir, fizeram os rapazes se deitarem em máquinas para escanear o cérebro e observaram imagens de várias cores piscarem na tela acima de suas cabeças. Quando a cor amarela aparecia, os cientistas muitas vezes, mas não sempre, dificultavam a respiração. Rapidamente os atletas aprenderam a antecipar que aquele amarelo poderia representar perigo. O cérebro reagiu de acordo.
Os esportistas completaram sete semanas de treinamento de plena atenção, durante as quais foram ensinados a se concentrar intensamente no corpo e não no barulho ou nas distrações ao redor. Entre outros exercícios executados pelos atletas, os pesquisadores pediram que estes examinassem mentalmente o corpo, observando cuidadosamente como cada membro e órgão interno se sentia naquele momento. Eles também tiveram de respirar por meio de canudinhos e colocar as mãos em água gelada para acentuar a habilidade de se concentrar em sensações físicas imediatas e estressantes.
Contudo, os cientistas não costumam se referir a esse trabalho como treinamento de plena atenção. “Nós o chamamos de ‘treinamento tático'”, disse Lori Haase, professora assistente de Psiquiatria que conduziu o novo estudo. Os atletas “demonstravam certo aborrecimento se o chamássemos de ‘plena atenção'”, ela afirmou.
Após oito semanas de treinamento tático, os ciclistas voltaram a se deitar nas máquinas para escanear cérebros enquanto mais imagens piscavam no monitor e os pesquisadores acompanhavam as reações cerebrais.
As reações foram diferentes. Quando a cor amarela aparecia, os atletas mostravam atividade aumentada em uma parte do cérebro envolvida em motivar ações futuras e no controle da atenção. Contudo, o fluxo de mensagens entre aquela parte do cérebro e outra que pudesse dar início a aumentos abruptos no despertar corporal foi reduzido.
Em essência, a resposta ao estresse iminente parecia envolver um maior reconhecimento de que eles estavam prestar a entrar em uma situação potencialmente estressante, mas sem o pânico psicológico consequente – uma reação que, na vida real, poderia se traduzir em resultados físicos desejáveis, tais como reagir rapidamente ao disparo de uma sirene, em vez de congelar.
Entretanto, segundo Lori, o experimento não focava no desempenho atlético posterior, então essa possibilidade continua sendo teórica. O estudo foi pequeno e envolveu somente atletas de BMX jovens, em forma, homens, o que é uma amostra bastante especializada.
Ainda assim, os resultados podem significar que prestar muita atenção aos nossos corpos pode nos ajudar a ser esportistas melhores e mais calmos.
Caso você deseje testar essa possibilidade, Lori e seus colegas oferecem cursos de treinamento especializado de plena atenção dentro do campus para atletas.
Ou, como ela disse, simplesmente tente “pensar nos seus pés”. A meta do treinamento da plena atenção é a vigilância concentrada e a consciência corporal. “E, quando você se concentra nos pés, não está pensando em outras coisas.”