O país do contrassenso
Leia o artigo de Fernando Coura, diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) sobre os desafios da produção minerária
Fernando Coura * redacao@revistaecologico.com.br
O Brasil poderia ser o terceiro maior produtor de alumínio do mundo – Imagem: Divulgação/Sindicato das Indústrias
“Muito boa a visita do ministro da Indústria, Comércio e Inovação da Suécia, Mikael Damberg, ao Brasil. Fiquei impressionado, porque estamos construindo o futuro e nos espelhando em um país como a Suécia. Damberg é ministro da Indústria e da Inovação e o tempo todo se referiu a centros tecnológicos e universidades. A Suécia é um país em que todos os aços especiais do mundo foram desenvolvidos lá. É um país que produz minério de ferro a mil metros de profundidade, num local em que a temperatura é de -50o!
Enquanto o minério deles tem baixo teor, o nosso tem alto teor. Temos sol o ano inteiro, recursos hídricos, energéticos, minerais, recursos humanos fundamentais. Então, o que eu posso dizer é que a crise tem servir para oportunidade e para aprendizado. E nós temos que, no Brasil, nos atentar ao seguinte: é desta crise que podem sair soluções particularmente para a indústria mineral.
Estamos mudando processos, otimizando as operações… O que significa uma contribuição ambiental, porque reduzimos energia, recirculamos mais água (são cerca de 95% de recirculação de água em nossas operações), fazemos cogeração de energia e aumento a recuperação nos processos, reduzimos emissão de rejeitos… E, com isso, diminuímos custos para enfrentar algo que não tem nada a ver com a economia brasileira, porque temos um fator externo: a queda das commodities.
Fernando Coura: “O Brasil poderia ser o terceiro maior produtor de alumínio do mundo”
Agora, há um grande dificultador, que estamos com uma esperança muito grande que o governador Fernando Pimentel vá resolver: a burocracia. Se nós não temos licença ambiental para fazer a estrada, a linha de transmissão, fazer hidrelétrica, tratamento de esgoto, as moradias, implantar mina, siderúrgica e refinaria, não se vai a lugar nenhum.
O Brasil virou um país do contrassenso. Tudo que você agrega aqui você perde dinheiro. Estamos parando de produzir alumínio, transportar bauxita. Éramos para ser o terceiro maior produtor de alumínio do mundo e estamos parando de produzir isso. Como agregar valor à bauxita, que é o mineral do alumínio, que está presente na vida de todos nós, se se vai perder dinheiro? Aí se exporta a bauxita, produz o alumínio lá fora e importa ele para alimentar as gôndolas dos supermercados de São Paulo. Com energia vinda da Amazônia. Não é possível que não possamos ter uma política brasileira de energia para agregar valor às substâncias.
Portanto, vá na Constituição e analise porque a Cfem é feita. Ela é uma compensação financeira para a exploração mineral. E o bem mineral, como o petróleo, é finito. A Cfem foi feita para dar àquele município, onde tem uma atividade finita, continuidade para criar alternativas econômicas, educacionais. É só ver Itabira (MG) hoje, que é uma cidade polo de desenvolvimento educacional. A Cfem não é imposto. Essa é a confusão ainda instalada no imaginário político e social. Imposto é PIS, Cofins, ICMS, que no Brasil é a maior carga tributária.
Nós, da mineração, somos os maiores consumidores de energia e combustível. Esse fundo já deveria ter sido feito porque a Cfem tem essa característica: dar ao município a oportunidade vocacional e econômica após a exaustão da jazida.”
* Diretor-presidente do Ibram e presidente do SindiExtra
Fonte: Revista Ecológico