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Aquecimento global está mudando o som dos oceanos e afetando espécies marinhas

Aquecimento global está mudando o som dos oceanos e afetando espécies marinhas

À medida que temperatura média dos oceanos aumenta, cientistas tentam compreender como isso afeta a propagação do som na água, fundamental para a sobrevivência de espécies como as baleias. Além de tudo isso, a humanidade está poluindo os mares com sons, mas os efeitos dessas mudanças na vida marinha em geral ainda são desconhecidos.

O som se propaga bem melhor na água do que no ar, mas as mudanças na salinidade, temperatura e pressão dos oceanos alteram a maneira como as ondas sonoras viajam por eles. Muitas espécies marinhas dependem dos sons dos mares até mesmo para se localizar.

Por exemplo, as baleias conversam entre si através de sons e usam o barulho das ondas quebrando nas regiões costeiras para localizar os continentes. Já os golfinhos usam ruídos para localizar suas presas, e os peixes usam os ruídos dos recifes para encontrar abrigos neles.

Propagação do som nos oceanos

O ecologista marinho Ben Halpern, da UC Santa Barbara, explica que “apenas recentemente as pessoas começaram a se conscientizar sobre o papel das paisagens sonoras dos oceanos., contando-nos uma história sobre o que está acontecendo debaixo d’água à medida que os impactos humanos se expandem”.

Os golfinhos usam o som para localizar seus alimentos e se comunicar (Imagem: Reprodução/Jeremy Bishop/Pexels)

A maneira como o som se propaga na água, no entanto, depende da temperatura, pressão e salinidade dela. Em águas mais quentes, suas moléculas vibram mais rápido, o que permite que o som viaje mais rápido. A salinidade, por outro lado, deixa a água “mais grossa”.

Essas características dividem o oceano em camadas que, quando combinadas, podem influenciar a propagação do som de maneiras distintas. “Então, se você imaginar uma baleia como uma fonte de ondas acústicas, importa onde a baleia está”, diz a pesquisadora de bioacústica Alice Affatati.

Affatati e Chiara Scaini, ambas pesquisadoras do Instituto Nacional de Oceanografia e Geofísica Aplicada, realizaram uma pesquisa para entender como um oceano em mudanças influencia uma espécie marinha específica, a baleia-franca-do-atlântico-norte que, como diz o nome, habita o Atlântico Norte.

O som se propaga mais rapidamente quando a água do mar está mais quente (Imagem: Reprodução/aarrows/envato)

Elas usaram uma coleção de dados sobre as principais propriedades dos oceanos para identificar dois pontos quentes em mudança: um trecho do Mar da Groenlândia e a Terra Nova, uma ilha do Canadá. As pesquisadoras descobriram que a velocidade média do som nesses pontos pode aumentar em 1,5% até 2100.

Essas mudanças fariam com que o som das baleias em questão se propagasse mais velozmente. Além disso, o Ártico está aquecendo até quatro vezes mais rápido do que qualquer outro lugar do mundo. Conforme o gelo derrete e lança água doce ao oceano, as águas ficam mais escuras e absorvem mais calor.

Outro estudo realizado em 2016, descobriu que o Oceano Pacífico está enviando uma espécie de “duto acústico” de suas águas rasas para o Ártico. Isso significa que o ecossistema marinho do Ártico está recebendo mais essa dose extra de som.

Poluição sonora humana

Conforme o degelo lança água doce no oceano, a salinidade da água cai, alterando a propagação do som. O mesmo processo tem sido observado na Antártida, onde os mares estão derretendo a parte inferior das grandes geleiras. Halpern explica que isso afetará tudo nessa área que depende da propagação do som.

Ainda, as atividades humanas estão produzindo um considerável barulho nos polos e em outras partes do mundo. No mar, são os enormes navios e estruturas como plataformas de petróleo que produzem a poluição sonora. Na superfície, são os ruídos dos carros.

A baleia azul é o maior animal da Terra, e usa os sons para se orientar (Imagem: Reprodução/twenty20photos/envato)

O ecologista marinho Halpern ressalta que há todo tipo de ruído antropogênico debaixo da água e acima dela. “O que está atrapalhando a capacidade das espécies de usar o som como ferramenta”, acrescenta. Pesquisadores do Monterey Bay Aquarium Research Institute estão coletando dados sonoros para entender isso.

A partir de um grande volume de dados coletados por microfones subaquáticos, o oceanógrafo marinho John Ryan e sua equipe conseguem diferenciar o som de um navio do som de uma baleia. “Podemos então aprender sobre como diferentes animais usam diferentes partes do habitat”, ressalta Ryan.

Em especial, eles estão estudando como o som é importante para as baleias azuis, os maiores animais da Terra. Ryan explica que elas cooperam e sinalizam umas com as outras através do som para encontrar o melhor local para se alimentarem.

A pesquisa também ajudará a proteger esses grandes animais do estresse da poluição sonora de natureza humana, além de desenvolver sistemas de alerta para navios quando baleias estiverem por perto.