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Aquecimento das águas do Ártico ameaça a grande corrida do salmão

Aquecimento das águas do Ártico ameaça a grande corrida do salmão

Fenômeno, que no Brasil envolve outras espécies e é conhecido como piracema, pode estar com os dias contados. Uma ameaça à reprodução dos peixes e à subsistência de comunidades

As ondas de calor marinhas estão ajudando a acabar com algumas das famosas corridas do salmão do Alasca nos últimos anos – quando cardumes de salmões sobem os rios da região para desovar e acasalar. Agora, as autoridades recorreram ao envio de remessas de alimentos de emergência para as comunidades afetadas que dependem do salmão, enquanto os cientistas alertam que a tradição pode estar com os dias contados.

O salmão praticamente desapareceu dos 3.200 km do rio Yukon no ano passado, quando as temperaturas recordes levaram os peixes a se acumularem mortos em córregos e rios antes que pudessem desovar. Um estudo publicado na revista Fisheries detalhou mais de 100 mortes de salmões em locais de água doce ao redor do Alasca.

Essas perdas significaram que, mesmo com as temperaturas mais amenas em 2021, as corridas de salmão do rio Yukon permaneceram tão fracas que tanto o Alasca quanto o Canadá foram forçados a interromper sua pesca de salmão para garantir que peixes suficientes sobrevivessem para se reproduzir por mais um ano.

“O Alasca é conhecido pelo salmão e pelo frio”, disse Vanessa von Biela, bióloga pesquisadora do US Geological Survey e principal autora do estudo sobre as mortes de 2019, em entrevista à Reuters. “Agora temos basicamente os problemas que são conhecidos há muito tempo nas latitudes mais baixas”, completou ela.

O colapso da pesca de salmão do rio Yukon foi um golpe financeiro tanto para os pescadores comerciais quanto para as comunidades indígenas, que tradicionalmente armazenam o peixe como alimento básico durante todo o ano. No mês passado, o secretário de comércio dos Estados Unidos declarou um desastre para a pesca do rio Yukon nos dois anos, disponibilizando fundos federais de ajuda.

Os cientistas apontam que o aquecimento dos oceanos é o principal responsável, com uma série de ondas de calor no Mar de Bering e no Oceano Pacífico Norte de 2014 a 2019 afetando os salmões que vivem no mar antes de retornarem aos locais de desova. As mudanças climáticas também podem estar afetando as dietas do salmão, com o salmão jovem possivelmente se alimentando de alimentos pobres em nutrição, como águas-vivas, à medida que as águas mais quentes do Mar de Bering afastam o zooplâncton mais nutritivo que os peixes comem normalmente.