Após mais de um ano de home-office, 6 dicas para se readaptar ao trabalho presencial
Nos últimos meses, entre reuniões e demandas profissionais, a representante comercial Mariana Craveiro, de 28 anos, teve uma companhia inseparável no home office: o vira-lata Pingado, adotado no início da pandemia. Agora, com a proximidade de voltar ao trabalho presencial, ela se diz apreensiva com a adaptação a uma nova rotina.
— Essa vai ser a parte mais difícil para mim na “volta à realidade”. Pingado estava acostumado à minha presença 24 horas. Para me preparar, me amparei com dicas de como manter o ambiente mais rico para ele, com distrações e petiscos, busquei adestramento, creche — conta Mariana.
Preparar os animais para o desgrude é um entre vários dilemas para quem teve opção de trabalhar em casa na pandemia e terá que retornar ao presencial. A volta implica também reaprender a encarar o trânsito e o transporte público, voltar a socializar e comer fora, conviver menos com os filhos, deixar o controle do lar, doce lar.
Veja nas dicas abaixo como sofrer menos na transição.
1. Acordar mais cedo
Para muita gente, foi fácil se habituar a acordar em cima da hora do expediente. Afinal, o “local de trabalho”, o computador, estava logo na mesa ao lado. Com a necessidade de sair de novo, o corpo precisará se reacostumar a horários. Por isso, o primeiro conselho é mudar o ciclo de sono. Ou apenas: dormir mais cedo.
— É uma questão de estabelecer uma rotina de novo. Para ter o horário de acordar, vai ser preciso ter o de dormir. Se é preciso despertar às 6h, é bom deitar às 22h. Com um sono regularizado, o resto vai se regulando. Existe toda uma questão hormonal e física baseada nisso — diz a psiquiatra Danielle Admoni, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
2. Abandonar o pijama
Muita gente aposentou o guarda-roupa social e adotou roupas bem informais em casa. Devolver o pijama ao armário e investir em peças novas para o trabalho pode ser um balde de água fria para a mente e o bolso, mas arrumar-se para sair tem suas vantagens.
— Além de se colocar apresentável para o outro e para si mesma, que é o mais importante, arrumar-se ajuda na construção da motivação para sair de casa — diz Danielle.
Vale até separar a roupa do trabalho na noite anterior, diz a psiquiatra:
— Isso ajuda a planejar o dia seguinte. A rotina tem um potencial organizador, fisicamente e psiquicamente também. É importante encarar de maneira positiva.
3. Compartilhar o banheiro
Além da comodidade, o banheiro de casa virou local de limpeza controlada em tempos de Covid. Como voltar a compartilhar um espaço que requer tanta higiene?
— O banheiro de casa pode estar malconservado, empoeirado, mas sentimos que é limpo porque é nosso. Não sentimos o próprio cheiro, a própria bagunça. Ao voltar a dividir o local, a primeira coisa deve ser reduzir expectativas de ordem. E se abrir ao aprendizado de como se misturar de novo — diz o psicanalista Christian Dunker, da Universidade de São Paulo (USP).
Tentar manter esse e outros espaços coletivos em boas condições ajuda a todos no estranhamento inicial de voltar ao uso compartilhado.
4. Encarar o transporte
Para quem escapou de buzinas e engarrafamentos durante este período pandêmico, não vai ter outra saída agora na retomada do trabalho presencial: no início, a volta ao trânsito vai irritar, e a sensação de perda de tempo será inevitável. Mas, se o deslocamento for também impossível de evitar, a dica é tentar torná-lo um fardo mais leve.
— É essencial buscar coisas prazerosas nesse trajeto. Escutar uma música, ler um livro. Usar esse tempo aparentemente perdido para fazer algo bacana para si. Vale pensar: “Ok, o trânsito é chato, o trajeto pode ser longo, mas já que estou aqui, vou tentar aproveitar da melhor maneira possível” — aconselha a psiquiatra Danielle Admoni.
5. Deixar os pets sozinhos
Pets foram “colegas de trabalho” no home office. As mudanças devem ser graduais com eles.
— Para ficarem sozinhos, cachorros precisam de distração e atividades. Uma dica para prepará-los é pelo menos uma hora ao dia deixá-los em um cômodo diferente, com algum estímulo que os entretenha. Valem petiscos escondidos, brinquedos interativos — sugere Sabrina Vidal, gerente-geral e adestradora da Escola do Latir, na Zona Oeste de São Paulo.
Sem estímulos e sozinhos, os cães começam a buscar o que fazer, e muitas vezes isso pode virar destruição dentro de casa. Para evitar isso, as creches podem ajudar no adestramento, na socialização e no gasto de energia.
6. Mais tempo longe dos filhos
Com escolas fechadas e sem o tempo de deslocamento, pais e filhos ganharam mais tempo juntos. Mesmo com a rotina caótica, o aumento do convívio foi benéfico a muitas famílias. Na readaptação, as dicas variam com a idade dos filhos e a situação familiar, diz o pediatra Daniel Becker, professor do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ.
No caso de crianças pequenas, o ideal é que os pais negociem com os empregadores uma volta gradual ao escritório.
— Pais e mães podem alternar ficar mais horas por dia em casa no começo, por exemplo — diz.
Para crianças mais velhas, os pais devem explicar as mudanças que vão ocorrer. Vale até levá-las ao local de trabalho.