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Após COP sem acordo sobre combustíveis fósseis, Lula dá 60 dias para governo elaborar proposta de transição energética

Após COP sem acordo sobre combustíveis fósseis, Lula dá 60 dias para governo elaborar proposta de transição energética

Apesar da defesa de Lula no cenário internacional, o tema enfrenta controvérsias internas; transição energética foi um dos principais pontos de impasse entre países na COP30.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou que ministérios elaborem em até 60 dias uma proposta de resolução para o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que determine como deve ocorrer a transição energética do Brasil.

🔎Transição energética significa significa substituir as fontes de energia que emitem gases de efeito estufa por alternativas mais limpas e sustentáveis. Ou seja, trocar os combustíveis fósseis (como petróleo, carvão e gás natural) por fontes renováveis, como a energia solar, eólica, elétrica e hidrelétrica.

A determinação do presidente prevê um trabalho conjunto entre os ministérios de Minas e Energia, Fazenda, Meio Ambiente e a Casa Civil. A orientação foi publicada no Diário Oficial da União desta segunda-feira (8).

A questão é um dos pontos centrais da discussão de combate às mudanças climáticas atualmente.

Durante a COP 30, em Belém, os países não chegaram a um acordo sobre como avançar na criação de um “mapa do caminho” para abandonar uma economia movida a combustíveis fósseis, e o tema ficou de fora da declaração final da conferência do clima da ONU.

COP30 chega ao fim, aprova acordos e fica sem definição para o ‘mapa do caminho’

🔎“Mapa do caminho” — ou roadmap — é a expressão usada em negociações internacionais para definir um plano de ação com etapas, prazos e metas concretas rumo a um objetivo comum.

🌍Na prática, funciona como um roteiro político e técnico que estabelece “quem faz o quê, até quando e com quais recursos”.

No despacho desta segunda-feira (8), Lula determinou que os ministérios elaborem um texto para estabelecer as diretrizes desse “mapa do caminho”. O objetivo é montar um guia para a transição energética, com foco em reduzir a dependência brasileira de fontes de energia de origem fóssil.

O documento também determina que os ministérios decidam como vai funcionar a criação de mecanismos de financiamento, incluindo a criação do Fundo para a Transição Energética. Esse fundo será pago com parte dos recursos vindos da exploração de petróleo e gás natural no país.

Controvérsias no governo

Apesar do presidente Lula defender o tema no cenário internacional, o debate sobre transição energética enfrenta contradições internas no Brasil.

A exploração de combustíveis fósseis ainda é vista por parte do governo como motor do desenvolvimento. E, apesar do plano climático, o país ainda não deu os primeiros passos para frear a expansão do petróleo.

O próprio presidente já falou em aguardar as “condições” necessárias para o afastamento dos combustíveis fósseis, e que o “O Brasil não vai jogar fora riquezas”. Sinalizando que a transição não deve ser imediata e que a exploração de combustível fóssil deve continuar e ser ampliada.

“Vamos continuar utilizando o dinheiro [do petróleo] para que a gente tenha cada vez mais condições de o Brasil se ver livre do combustível fóssil. Mas, enquanto o mundo precisar, o Brasil não vai jogar fora uma riqueza que pode melhorar a própria vida do povo brasileiro”, afirmou o petista no fim de outubro, ao ser questionado sobre a exploração de petróleo na Foz do Amazonas.

Especialistas e ambientalistas apontam que existe um descompasso entre o discurso climático defendido pelo governo e o avanço da política de exploração de petróleo no país.

Dentro do governo, há posições divergentes:

  • Defendem a exploração: a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
  • Defende o desenvolvimento longe do petróleo: a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Às vésperas da COP30, o Ibama autorizou a Petrobras a perfurar um poço em águas profundas Margem Equatorial, região da foz do Amazonas que se estende do Amapá ao Rio Grande do Sul.

A decisão gerou críticas, já que apesar da ação da Petrobrás ainda ser inicial, o empreendimento é grande impacto na região e visa a exploração futura.

Estudiosos alertam que o fluxo de marés na região é marcado por uma intensa descarga de água, e especialistas alertam que as fortes correntes marítimas e costeiras, ainda pouco estudadas ,poderiam espalhar os efeitos de um eventual acidente para o Brasil e países vizinhos. Além disso, trata-se de uma área de alta biodiversidade, que também seria impactada.

Transição energética paga pelo petróleo

Na decisão publicada hoje, o presidente determina que parte da receita gerada pelo Petróleo deve ser para custear a transição e diminuir a dependência dos combustíveis fosseis.

A presidente da Petrobras, Magda Chambriard também já declarou que a transição energética será financiada pelo próprio petróleo. Apesar disso, após o fim da COP30 no Brasil, a estatal reduziu em 20% o investimento previsto para a área até 2030: o plano, que destinava US$ 16,3 bilhões (R$ 87,2 bilhões) no ciclo 2025–2029, passou a prever US$ 13 bilhões (R$ 69,55 bilhões) para o período de 2026–2030.

Tema da COP30

A transição energética foi discutida na COP30, mas sem consenso entre os países.

O presidente Lula defendeu o tema em discurso durante a conferência, os diplomatas brasileiros tentaram incluir o assunto na agenda oficial, o que não avançou por falta de acordo internacional.

Com isso, o “mapa do caminho” tornou-se uma iniciativa própria da presidência brasileira, apresentada paralelamente na Conferência. Até o momento, apenas cerca de 80 países manifestaram apoio à proposta.

Caminho global para deixar os combustíveis fósseis

Na COP28, em 2023, realizada em Dubai, os países concordaram que é necessário iniciar uma “transição para longe dos combustíveis fósseis”. A COP29, no Azerbaijão, não apresentou avanços concretos nesse sentido.

Havia expectativa de que a COP30, no Brasil, pudesse impulsionar o debate, especialmente diante do aumento de eventos climáticos extremos. No entanto, o tema sequer entrou na agenda oficial de negociações entre todos os países.