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António Guterres, da ONU: crescente divisão entre norte e sul é “moralmente inaceitável e perigosa”

António Guterres, da ONU: crescente divisão entre norte e sul é “moralmente inaceitável e perigosa”

Para o secretário-geral da ONU, aprofundamento de polarizações ameaça a paz e a segurança em todo o mundo, mas afeta desproporcionalmente nações menos desenvolvidas

As crises alimentares, energéticas e financeiras desencadeadas pela guerra da Rússia na Ucrânia atingiram em cheio países que já sofrem com o fardo dos efeitos da emergência climática. E mais: para o secretário-geral da ONU, o cenário atual vai na contramão de uma convergência entre países desenvolvidos e em desenvolvimento que vinha sendo construída. Segundo ele, o mundo agora vive uma crescente divisão entre norte e sul que é “moralmente inaceitável e perigosa”.

O alerta foi feito em entrevista ao jornal The Guardian, durante a conferência sobre oceanos da ONU em sua cidade natal, Lisboa, em Portugal, nesta semana. O encontro debateu formas para avançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de número 14, que visa proteger a vida marinha da Terra. Para Guterres, o mundo está no meio de uma “emergência oceânica” e o “egoísmo” de alguns países atrasam os esforços para proteger os oceanos.

Segundo o secretário-geral, o aprofundamento de polarizações ameaça a paz e a segurança em todo o mundo, mas afeta desproporcionalmente nações menos desenvolvidas. “O que é preocupante é que estamos vivendo uma tempestade perfeita. Porque todas as crises estão contribuindo para o aumento dramático da desigualdade no mundo e para uma grave deterioração das condições de vida das populações mais vulneráveis”, disse.

“Estamos de volta a uma divergência”, alertou. De todas as crises que o mundo enfrenta, o secretário da ONU afirmou que a crise climática é a mais crítica, pois coloca em risco toda a base de sustentação da vida e, com isso, a sobrevivência da própria espécie humana. E destacou que a guerra evidenciou a dependência de combustíveis fósseis dos quais a humanidade já deveria ter se distanciando para enfrentar o problema.

Segundo ele, o mundo precisa fazer todo o possível para trazer novamente a questão climática como a mais importante na agenda coletiva, e que mais esforços para cortar emissões de gases de efeito estufa são necessários. “A verdade é que se olharmos para as contribuições determinadas nacionais que temos hoje e o que foi anunciado antes, durante e imediatamente depois da Cop26 [reunião de clima da ONU que aconteceu no Reino Unido em 2021] ainda estamos caminhando para um aumento de emissões de 14%”, declarou.

E agir significa principalmente eliminar as usinas a carvão e reduzir a dependência das atividades econômicas de fontes poluentes do petróleo, destacou. “Se o mundo tivesse investido massivamente como deveria ter feito na última década em energias renováveis, estaríamos hoje em uma situação completamente diferente”, cravou Guterres.