Acidificação dos mares: 7º limite planetário essencial para equilíbrio da vida na Terra está na iminência de ser violado
Segundo o novo relatório científico Planetary Health Check (PHC), a acidificação dos oceanos se aproxima de um limite crítico
A humanidade está na iminência de violar mais um dos nove limites planetários necessários para manter a estabilidade e resiliência da Terra. Com este, será o sétimo ultrapassado, indica o relatório científico Planetary Health Check (PHC), produzido pela iniciativa Planetary Boundaries Science (PBScience), do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK), e apoiado pelos Guardiões Planetários e outros parceiros.
Os seis limites já transgredidos pelas atividades do homem são: mudanças climáticas, integridade da biosfera (diversidade genética e energia disponível para os ecossistemas), mudanças no sistema terrestre, mudanças na água doce (mudanças em todo o ciclo da água sobre a terra), fluxos biogeoquímicos (incluindo os ciclos de nutrientes) e novas entidades (como os microplásticos, e os desreguladores endócrinos presentes em produtos químicos, pesticidas e poluentes orgânicos).
Agora, a acidificação dos oceanos está se aproximando de um limite crítico – sobretudo em regiões de latitudes mais altas –, o que representa uma ameaça aos ecossistemas marinhos e a economia global.
A acidificação oceânica é o fenômeno de aumento da acidez (diminuição do pH) na água dos mares devido à absorção de CO2 atmosférico. O processo, não só prejudica os organismos calcificantes, potencialmente levando à quebra da cadeia alimentar, mas também reduz a eficiência do oceano em atuar como um sumidouro vital de carbono.
No PHC, é usada a saturação de aragonita da superfície como um indicador para este processo, porque ela se correlaciona com a concentração de íons carbonato. O limite operacional seguro atual é definido em 2,75 de saturação de aragonita e é baseado em níveis pré-industriais de 3,44, explica reportagem do The Guardian.
Níveis abaixo de 3 podem levar alguns organismos marinhos a ficarem estressados, e se os níveis caírem abaixo de 1, as conchas podem começar a se dissolver. Hoje, a saturação global de aragonita está em 2,80.
Passar desse limite seguro não significa uma queda imediata de um penhasco, enfatizou Levke Caesar, cientista do PIK, colíder da PBScience e uma das principais autoras do relatório. Contudo, os problemas para a vida marinha e a teia alimentar do oceano “definitivamente começarão a parecer mais e mais graves” ela acrescentou.
Alguns cientistas acreditam a acidificação já cruzou o limiar. Isso porque a saturação de aragonita difere entre os oceanos, com níveis de acidificação não homogêneos em todo o globo e variando em níveis regionais.
“Quando você começa a pensar nas nuances de como o oceano funciona e na importância de algumas regiões sobre outras, eu não concordo necessariamente que ainda estamos em um lugar seguro”, afirmou Helen Findlay, oceanógrafa biológica do Laboratório Marinho de Plymouth que não estava envolvida no relatório, ao Mongabay.
Na sua visão, ao calcular a média da ameaça planetária, “isso coloca em risco [totalmente] subestimar os impactos porque as regiões polares têm potencialmente mais peso em termos de sua contribuição para os ciclos climáticos, feedbacks e para o sistema climático em geral”.
Além da possível transgressão deste sétimo limite planetário, o PHC destaca que todos aqueles que já foram transgrediram estão se movendo mais profundamente para a zona vermelha.
“Nosso diagnóstico atualizado mostra que órgãos vitais do sistema da Terra estão enfraquecendo, levando a uma perda de resiliência e riscos crescentes de cruzar pontos de inflexão”, indicou Caesar. “A mensagem é clara, ações locais impactam o planeta, e um planeta sob pressão pode impactar a todos, em todos os lugares. Garantir o bem-estar humano, o desenvolvimento econômico e sociedades estáveis requer uma abordagem holística onde a proteção do planeta ocupa o centro do palco.”
Limites Planetários
Os Limites Planetários descrevem um espaço operacional seguro dentro do qual a humanidade pode prosperar enquanto mantém o planeta estável e resiliente. Uma vez que um limite é violado, o risco de danificar permanentemente as funções de suporte à vida da Terra aumenta, assim como a probabilidade de cruzar pontos de inflexão que causam mudanças irreversíveis. Se vários limites forem violados, os riscos aumentam drasticamente.
“Sabemos há algum tempo que estamos enfraquecendo a resiliência do planeta. Esta atualização científica mostra que, independentemente da escala em que operamos, todas as ações precisam considerar os impactos na escala planetária. A administração do planeta é necessária em todos os setores da economia e nas sociedades, para segurança, prosperidade e equidade. Ao quantificar os limites para um planeta saudável, fornecemos à política, economia e negócios as ferramentas necessárias para se afastar de riscos incontroláveis”, analisou Johan Rockström, diretor do PIK e cofundador dos Guardiões Planetários.
Embora uma transgressão de limite não seja equivalente a mudanças drásticas acontecendo da noite para o dia, elas marcam a entrada em território de risco crescente. “Quando olhamos para as tendências dos indicadores de saúde da Terra, vemos que em breve a maioria deles estará na zona de alto risco. Precisamos reverter isso”, avaliou Boris Sakschewski, colíder da PBScience e autor principal do PHC. “Sabemos que todos os processos de Limite Planetário agem juntos e cada um precisa de proteção para proteger todo o sistema.”
Ele complementou que é essa interação que será o foco da PBScience. “Ao obter uma compreensão mais profunda do sistema, identificaremos as ações que reduzem ou neutralizam mais efetivamente os impactos da humanidade, pois precisamos retornar urgentemente ao espaço operacional seguro.”