“A floresta que você não vê”: conservação e geração de renda
Documentário mostra vantagens econômicas, sociais e ambientais da bioeconomia e do desenvolvimento sustentável na Amazônia
A floresta em pé tem um valor inestimável – não tem preço. Mas, manter a floresta amazônica em pé, por meio da bioeconomia e apoio às comunidades que vivem nela pode gerar renda e preservar um bioma fundamental para o nosso futuro, mostrando que o desenvolvimento sustentável é um caminho muito mais inteligente do que a exploração predatória do território. É isso que nos mostra o documentário “A floresta que você não vê – Narrativas do Médio Xingu”, uma coprodução entre Synergia Socioambiental e Dot Films, com apoio do ICMBio.
Lançado inicialmente no YouTube, o filme foi um dos destaques da Mostra Ecofalante de Cinema de 2024. Em cerca de meia hora, são apresentadas as iniciativas desenvolvidas do Projeto Redes do Médio Xingu, que apoia a geração de renda de famílias nas regiões onde atua e busca o desenvolvimento das comunidades locais e a conservação da floresta amazônica.
Com direção de Andy Costa, a produção traz no enredo histórias de luta e resistência de personagens da vida real que vivem na região do Médio Xingu e precisam, dia após dia, existir, trabalhar e produzir, apesar da árdua batalha contra o garimpo, extração de madeira, pecuária e monocultura.
“Hoje, discute-se o desenvolvimento da Amazônia em cima de paradigmas ultrapassados, principalmente no que diz respeito a opor o desenvolvimento econômico e a conservação. Colocar ambientalistas e a economia de lados opostos é um grande erro”, diz Mario Braga Vasconcellos, do Projeto Redes do Médio Xingu.
Confira o trailer do documentário
Redes do Médio Xingu
Desenvolvido e mantido pela Synergia, o Projeto Redes do Médio Xingu nasceu em 2022, com um objetivo de ajudar na conservação do meio ambiente e na geração de renda de pessoas que vivem em áreas com forte pressão de desmatamento no estado do Pará, como as populações ribeirinhas da Estação Ecológica Terra do Meio e de Uruará, nas proximidades de Altamira.
A iniciativa garante apoio à cadeia produtiva do cacau, que impacta positivamente na geração de renda das famílias da Estação Ecológica Terra do Meio; apoio à Rede Terra do Meio, promovendo uma estrutura comercial para atender a população local e apoio à Associação Agroextrativista Sementes da Floresta (AASFLOR), que fica em Uruará.
Produção de cacau da Terra do Meio
Em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Synergia iniciou um trabalho para desenvolver a cadeia produtiva do cacau e gerar renda para as famílias da Esec Terra do Meio.
Neste caso, antropólogos e técnicos agrônomos fornecem assistência técnica e extensão rural (ATER), orientação para organização do arranjo produtivo e consultoria para acesso ao mercado de vendas do cacau, capacitando esses produtores para que eles possam atender toda a cadeia, do cultivo à venda para o mercado de maneira assertiva e sustentável.
A assistência técnica oferece informação e mentoria sobre os tratos culturais do cacau, como o manejo do solo, as podas do cacau e o manejo de pragas e doenças. Além de passar para a população informações sobre os cuidados que se deve ter com o pós-colheita, um processo que envolve etapas como a fermentação, a secagem e o escoamento do cacau.
“As famílias cultivam o cacau por meio do sistema agroflorestal, com uma agricultura de baixo carbono e o plantio em conjunto com outras espécies, como andiroba e copaíba, que são plantadas entre os pés de cacau, ou seja, um cultivo de cacau totalmente sustentável”, afirma Mario Braga.
Cantina comunitária
Para promover o acesso das famílias da Esec Terra do Meio a produtos alimentícios e de necessidade básica, sem a necessidade de grandes deslocamentos ou gastos com frete e gasolina, deu-se início à construção de uma cantina comunitária.
A ideia é que, com essa construção, a população tenha mais qualidade de vida. Também está prevista a construção de um paiol para armazenar a castanha cultivada.
Sementes da Floresta
A AASFLOR (Associação Agroextrativista Sementes da Floresta), situada em Uruará, também no Médio Xingu, recebeu apoio do Projeto Redes do Médio Xingu para o redesenho dos rótulos e embalagens de seus produtos, e consultoria para aprimorar seu modelo de negócio, que inclui desde a divulgação e conexão com varejistas de outros estados, até a presença em grandes eventos do segmento em todo território nacional.
Desde 2007, esses agricultores familiares buscavam viabilizar alternativas de renda diferentes das cadeias produtivas que dominam a paisagem local, como a soja, pecuária e extração de madeira. Esses agricultores entenderam a importância da preservação da floresta e se uniram em torno do projeto de coleta de sementes da floresta, extração de óleos vegetais e fabricação de produtos, como sabonetes, cremes, pomadas, shampoos e óleos fracionados.
“Apesar das dificuldades, a gente avança. Conseguir o que já conseguimos, que é inserir um produto do extrativismo, a farinha do babaçu, no programa da merenda escolar dá um grande ânimo para nós”, conta Selma Souza Moreira, associada da AASFLOR.
Material didático de apoio
Com o objetivo de fomentar ainda mais o debate sobre a geração de renda e preservação ambiental, com uma abordagem pedagógica, o Núcleo de Educação Socioambiental da Synergia desenvolveu um material didático que será disponibilizado de forma gratuita e servirá de apoio para atividades socioeducativas a partir de temas relacionados ao documentário “A Floresta que você não vê – Narrativas do Médio Xingu”.
O material pode ser usado por professores, professoras, educadores e educadoras, em grupos de discussão, comunidades, escolas e instituições, com a possibilidade de adaptações para as diferentes realidades vividas no Brasil, associando vivências do dia a dia com os temas abordados no filme.
O principal intuito da publicação é inspirar e gerar a reflexão sobre consciência ambiental, além da união entre o conhecimento ancestral e o desenvolvimento, sempre em prol da proteção do planeta.