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O planeta em chamas: como reverter essa crise da Humanidade?

O planeta em chamas: como reverter essa crise da Humanidade?

Estamos vivendo em um período sem precedentes na história da Terra. O modelo de desenvolvimento social e econômico que seguimos há séculos esgotou os recursos naturais, ultrapassando os limites dos sistemas terrestres que sustentam a vida. As mudanças climáticas estão manifestando seus efeitos de maneira cada vez mais violenta, com eventos climáticos extremos como ondas de calor recorde, chuvas torrenciais e inundações devastadoras. Cidades são destruídas, a biodiversidade desaparece, a saúde pública está em risco e a água potável se torna escassa. E mesmo diante desses sinais claros de alarme, a humanidade continua a agravar a situação, colocando fogo deliberadamente nas florestas e vegetações que restam, numa ação orquestrada que demonstra a nossa incapacidade de proteger o planeta e a vida que nele habita.

Os dados são alarmantes. O Brasil, por exemplo, atingiu um novo recorde em 2024, com 184.363 focos de queimadas espalhados por todo o território, concentrados principalmente em estados como Mato Grosso, Pará, Amazonas, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Maranhão. Estes seis estados somam, juntos, 127.028 focos de incêndio. Esses números, divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), refletem uma realidade preocupante: estamos em plena crise climática e ambiental, e é preciso agir logo para que não cheguemos a um ponto de inflexão. A seca extrema, que afeta 1.400 cidades no Brasil, chegou mais cedo este ano, e a falta de chuvas, combinada com temperaturas cada vez mais elevadas, facilita o alastramento das queimadas, afetando ecossistemas cruciais como a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal.

A maior seca da história brasileira, a mais severa e persistente, é um reflexo direto das mudanças climáticas. Os rios que abastecem o Pantanal, uma das regiões mais ricas em biodiversidade do mundo, nascem no Cerrado, um bioma que já está mais de 60% desmatado. A destruição desse bioma compromete não só a fauna e flora locais, mas também o equilíbrio climático de todo o país.

O mundo registrou, em agosto, o mês mais quente da história desde que se iniciou o monitoramento climático. Dos últimos 14 meses, 13 apresentaram uma temperatura média 1,5 ºC mais alta do que os períodos anteriores à Revolução Industrial. Esta marca indica que atingimos a temperatura mais elevada do planeta desde o último período interglacial, há 120 mil anos. O aquecimento global avança rapidamente, impulsionado pelas atividades humanas, e já estamos vivenciando as consequências devastadoras dessa realidade.

Apesar de tudo isso, o ser humano, que deveria ser o protetor da Terra, continua a agir de forma negligente, pra não dizer criminosa. A ação intencional de incendiar florestas e destruir o que resta dos nossos biomas não é apenas um crime ambiental, mas também um reflexo da perda de conexão com o planeta e da falta de consciência de que todos nós, humanos, animais e plantas, fazemos parte de um mesmo ecossistema.

Diante desse cenário, governos ao redor do mundo, inclusive o brasileiro, discutem medidas mais severas para punir os responsáveis por incêndios criminosos. Entre as propostas está o aumento da pena de dois para até sete anos de prisão, o confisco de propriedades de infratores, como acontece com o trabalho análogo à escravidão, e a restrição ao acesso a crédito rural. Estas medidas são urgentes e necessárias, mas será que são suficientes para reverter a devastação causada?

A luta pela redução das desigualdades sociais sempre foi uma fonte de esperança, mas hoje, ela parece ser apenas mais uma frente de batalha em um mundo em crise. As guerras entre Estados, a polarização social que ameaça as democracias, e a falta de conscientização de que todos somos parte de um único sistema estão criando uma combinação perigosa. O acúmulo dessas crises está esgotando não só os recursos naturais, mas também a nossa capacidade de acreditar em uma mudança real. Hoje, me sinto esgotada. O fogo que alimentava o “acendedor de esperança”, inspirado por Dom Helder Câmara, parece ter perdido sua chama.

Dom Helder Câmara, arcebispo brasileiro e defensor dos direitos humanos, dizia: “Deixa-me acender cem vezes, mil vezes, um milhão de vezes a esperança que ventos perversos e fortes teimam em apagar. Que grande e bela profissão: Acendedor de esperança!”. No entanto, após ler tantas notícias sobre as florestas queimando e ver imagens devastadoras de incêndios que consomem áreas naturais, sinto que meu acendedor de esperança perdeu sua vitalidade.

As crises climáticas, sociais e políticas se entrelaçam, criando uma sensação de impotência. O que antes era alimentado pela luta por igualdade agora enfrenta ventos contrários tão fortes que a esperança parece se apagar. Contudo, é em momentos como este que devemos buscar energia nos outros, nos “acendedores de esperança” que ainda acreditam na transformação da humanidade. Talvez, seja a dor que nos impulsione a evoluir, ou talvez a crise seja o ponto de partida para uma nova consciência coletiva.

O amor é a chave para essa transformação. Pode parecer uma frase clichê, mas acredito que a verdadeira mudança social só pode vir através do amor e da solidariedade. Para enfrentar os desafios globais, precisamos ressurgir das cinzas, assim como a natureza o faz após um incêndio. Precisamos nos lembrar que somos todos um, interconectados como parte de um mesmo ecossistema.

Embora estejamos atravessando um dos períodos mais sombrios da nossa história, com crises ambientais e sociais ameaçando a nossa existência, acredito que a humanidade ainda tem o potencial de evoluir. Precisamos uns dos outros para superar os momentos de fragilidade. Se dermos as mãos e agirmos juntos, podemos reverter essa situação.

Não será uma tarefa fácil. A devastação é imensa, e o tempo para agir está se esgotando. Contudo, se conseguirmos reacender a chama da esperança, talvez possamos inspirar uma nova geração a cuidar da Terra e a proteger a vida em todas as suas formas.

O planeta precisa de nós, e nós precisamos do planeta. Que sejamos capazes de aprender com os nossos erros e de agir antes que seja tarde demais.