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Novo estudo alerta sobre limites seguros para vida na Terra

Novo estudo alerta sobre limites seguros para vida na Terra

Brasil é um dos mais afetados pelo aumento do nível do mar e por temperaturas extremas

Uma nova pesquisa detalhada, publicada na The Lancet Planetary Health, revela que o planeta só conseguirá garantir um padrão básico de vida para todos no futuro se houver uma transformação radical nos sistemas econômicos e tecnológicos, além de uma gestão mais justa e equitativa dos recursos críticos. O estudo destaca que a capacidade da Terra de sustentar a vida está sendo severamente sobrecarregada.

A pesquisa alerta que o “Espaço Seguro e Justo” — um conceito que define as condições em que todos podem acessar recursos básicos enquanto o meio ambiente é preservado — está rapidamente encolhendo, impulsionado pela crescente desigualdade.

planos climáticos
Planeta acima do lucro, mensagem importante. Foto: Markus Spiske | Unsplash

O estudo, coautorado por mais de sessenta cientistas da Earth Commission, uma comissão científica internacional coordenada pelo Future Earth e pela Global Commons Alliance. O relatório é liderado pelos professores Joyeeta Gupta, Xuemei Bai e Diana Liverman. Eles fundamentam suas conclusões nos Limites do Sistema Terrestre Seguro e Justo, publicados na Nature no ano passado, que revelaram que muitos dos limites essenciais para a saúde planetária já foram ultrapassados.

“O estudo mostra que a justiça é um pré-requisito para a segurança do planeta e das pessoas. Ele analisa o risco de um maior declínio do sistema terrestre, os danos que as comunidades estão enfrentando como resultado, mas também busca identificar como os recursos precisam ser distribuídos de forma justa”, explica Johan Rockström, co-presidente da Earth Commission.

O Encolhimento do “Espaço Seguro e Justo”

O relatório destaca o “Espaço Seguro e Justo” como a área onde danos tanto a humanos quanto ao meio ambiente podem ser minimizados e todos podem ser adequadamente atendidos. Essa é a primeira vez que os pesquisadores quantificam a necessidade de um planeta estável e uma distribuição justa dos recursos nas mesmas unidades, demonstrando que justiça é um pré-requisito para a segurança planetária e humana.

“Pela primeira vez, os cientistas quantificaram segurança e justiça usando as mesmas unidades para determinar o caminho a seguir para um futuro estável e resiliente no qual todos possamos prosperar. Comunidades, pobres e ricas, em todo o mundo já são vulneráveis e se tornarão mais expostas – mas temos uma janela para agir agora e mudar o curso”, alerta Rockström.

dia mundial da limpeza national geographic
Foto: Divulgação | National Geographic

Os Limites do Sistema Terrestre, publicados no ano passado, podem ser vistos como o “teto” para a extração de recursos naturais e poluição pelos seres humanos. Dentro desses limites, os sistemas da Terra podem se manter estáveis e resilientes, garantindo a segurança das pessoas contra danos.

Agora, os cientistas adicionaram uma nova “fundação” ao mostrar que a população global depende desse sistema terrestre para viver uma vida livre da pobreza. Pela primeira vez, os cientistas quantificaram segurança (um planeta estável) e justiça (proteção das pessoas contra danos) nas mesmas unidades, demonstrando que a justiça é um pré-requisito indispensável para a segurança tanto do planeta quanto da humanidade.

Protetores do Planeta Terra
Cena do documentário Protetores do Planeta Terra. Foto: Divulgação

Projeções até 2050 mostram que o Espaço Seguro e Justo continuará encolhendo a menos que transformações urgentes sejam feitas. No cenário atual, sem mudanças significativas, o relatório aponta que até 2050 o planeta não terá mais espaço seguro e justo. Isso significa que mesmo que todos no planeta tivessem apenas o necessário para um padrão básico de vida, ainda enfrentaríamos problemas climáticos graves.

Os sistemas da Terra enfrentam o risco de cruzar pontos de inflexão perigosos, o que causaria danos ainda mais significativos às pessoas ao redor do mundo – a menos que os sistemas de energia, alimentos e urbanos sejam urgentemente transformados.

Eles também descobriram que as desigualdades e o consumo excessivo de recursos finitos por uma minoria são os principais impulsionadores desse encolhimento. Fornecer recursos mínimos para aqueles que atualmente não têm o suficiente adicionaria muito menos pressão ao sistema terrestre do que a atualmente causada pela minoria que usa recursos muito maiores.

A pesquisa também analisou onde no planeta os limites Seguro e Justo foram ultrapassados, e sobrepôs isso com pessoas que vivem na pobreza e estão expostas a danos causados por mudanças climáticas, perda de biodiversidade, poluição e escassez de água. Os resultados mostram que as comunidades já vulneráveis são frequentemente as mais afetadas pela mudança no sistema terrestre que impacta a saúde das pessoas e dos ecossistemas – mas todos, incluindo os ricos, estão em risco. Dentre os países está o Brasil.

Impactos Específicos no Brasil

O estudo destaca diversas áreas críticas no Brasil:

  • Biodiversidade: Cerca de 21 milhões de brasileiros vivem em regiões com capacidade reduzida de fornecer serviços ecossistêmicos vitais, devido a práticas que ultrapassam os limites seguros para a integridade da biosfera. Serviços como polinização, controle de pragas e regulação da qualidade da água estão comprometidos, impactando diretamente a qualidade de vida.
  • Clima: O Brasil é um dos países mais afetados pelo aumento do nível do mar e por temperaturas extremas. Com um objetivo de estabilização de temperatura de 2°C até 2100, cerca de 15 milhões de brasileiros estariam expostos ao aumento do nível do mar. Com um aquecimento de 1,5°C, aproximadamente 500.000 pessoas estariam expostas a temperaturas médias anuais além dos limites históricos seguros.
litoral Brasil
Trabalho de desobstrução da rodovia Rio-Santos na altura da Barra do Sahy, litoral norte de São Paulo. | Foto: Sérgio Barzagui | Governo do Estado de São Paulo
  • Nutrientes: Aproximadamente 126 milhões de brasileiros convivem níveis inseguros de excesso de nitrogênio, e 143 milhões, excesso de fósforo. Esses nutrientes em excesso causam problemas graves, como a eutrofização de corpos d’água e a poluição da água potável, afetando a saúde e os ecossistemas.
  • Poluição do Ar: Cerca de 79 milhões de brasileiros vivem em áreas com níveis inseguros de poluição por material particulado (PM2.5), o que representa um dos maiores riscos para a saúde pública e afeta a qualidade do solo, da água e o clima.
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A poluição afeta todos os órgãos do corpo humano. | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
  • Água: No Brasil, aproximadamente 39 milhões de pessoas enfrentam condições fora dos limites seguros para água superficial, e 199 milhões para água subterrânea. A gestão inadequada dos recursos hídricos compromete a disponibilidade de água para consumo e a saúde dos ecossistemas aquáticos.

Transformações Urgentes Necessárias

Para que o Brasil e o mundo alcancem e mantenham o Espaço Seguro e Justo, o relatório propõe mudanças em três áreas cruciais:

  • Esforço Coordenado: um esforço bem coordenado e intencional entre formuladores de políticas, empresas, sociedade civil e comunidades pode promover mudanças na forma como gerenciamos a economia e encontrar novas políticas e mecanismos de financiamento que abordem a desigualdade, ao mesmo tempo em que reduzem a pressão sobre a natureza e o clima.
  • Gestão Eficiente de Recursos: é fundamental para a transformação uma gestão, compartilhamento e uso mais eficiente e eficaz dos recursos em todos os níveis da sociedade — incluindo o enfrentamento do consumo excessivo por algumas comunidades, que limita o acesso aos recursos básicos para aqueles que mais precisam.
  • Investimento em Tecnologias Sustentáveis: o investimento em tecnologias sustentáveis e acessíveis é essencial para nos ajudar a utilizar menos recursos e reabrir o Espaço Seguro e Justo para todos — particularmente onde há pouco ou nenhum espaço restante.