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5 marcas permanentes que o ser humano deixa na Terra, do plástico ao plutônio

5 marcas permanentes que o ser humano deixa na Terra, do plástico ao plutônio

A maneira mais simples de tomar nota da passagem do tempo é analisar as rochas. Elas mantêm bilhões de anos registrados em suas camadas, então um arqueólogo em um futuro inimaginavelmente distante buscando por sinais da existência humana olharia justamente nas formações rochosas do nosso planeta. Quais seriam, então, os sinais deixados por nós para a posteridade?

Essa discussão é a que tem pautado o debate acerca do melhor representante para os impactos mundiais do ser humano, parte da definição do polêmico Antropoceno, período geológico à beira de ser instituído. Só recentemente o pequeno lago Crawford, no Canadá, foi eleito como o local que melhor representa nossa influência no planeta.

O Lago Crawford será a cavilha de ouro do Antropoceno, marco que traz um lembrete forte da influência humana no planeta. Mas será que ela será tão grande assim do ponto de vista geológico? (Imagem: Angus Chan/CC-BY-2.0)
O Lago Crawford será a cavilha de ouro do Antropoceno, marco que traz um lembrete forte da influência humana no planeta. Mas será que ela será tão grande assim do ponto de vista geológico? (Imagem: Angus Chan/CC-BY-2.0)

As águas do lago não se misturam, o que faz com que sedimentos que nele caem se acumulem detalhadamente em camadas (varves), que preservam um registro inalterado e de alta qualidade de todas as influências ambientais, incluindo a nossa. O que, nesses sedimentos, denuncia tão bem a ação humana no planeta? Temos alguns candidatos.

1. Plástico e suas rochas

Tempos distantes são medidos em diversas partes, como os famosos Jurássico e Cretáceo, mas sem uma datação histórica, o que os separa? Na geologia, são notadas mudanças no ambiente global, grandes o suficiente para deixar marcas visíveis nas rochas. Isso pode ser o impacto de um meteoro, como o da cratera de Chicxulub, erupções vulcânicas enormes ou trilhões de bactérias jogando oxigênio na atmosfera e deixando-a respirável pela primeira vez. Para o Antropoceno, um bom candidato é o plástico.

Uma plasticrosta encontrada na Itália, em 2019 — esse tipo de poluição plástica pode levar aos plastiglomerados, rochas feitas com o material e que são sinal claro do ser humano na Terra (Imagem: Hcirllej/CC-BY-4.0)
Uma plasticrosta encontrada na Itália, em 2019 — esse tipo de poluição plástica pode levar aos plastiglomerados, rochas feitas com o material e que são sinal claro do ser humano na Terra (Imagem: Hcirllej/CC-BY-4.0)

O plástico não ocorre naturalmente, vindo de matéria-prima como petróleo, carvão, celulose e gases fósseis. Encontrá-lo em uma camada de rocha sedimentar é um sinal claro de que ela data de tempos modernos. Há, ainda, plastiglomerados, junções de plásticos e rochas encontradas por todo o mundo. Elas surgem quando o plástico é aquecido, como em fogueiras e queimadas, e já aparecem até em riachos de água doce.

2. Ossos de frango

É de conhecimento geral que nós, humanos, gostamos de frango. Em 2018, dados nos disseram que comemos cerca de 65 bilhões deles por ano, e, a cada instante, há 23 bilhões dessas aves vivas. Essa onipresença e nossa influência em sua evolução são sinais muito claros da influência humana no planeta. O frango de criação não sobrevive sem intervenção humana e é bastante diferente de seu ancestral, o galo-banquiva — criamos, basicamente, uma nova espécie, e já comentamos o assunto a fundo aqui no Canaltech.

3. Concreto

O concreto é a “rocha” de fabricação humana mais comum no planeta, e seu surgimento poderá ser um ótimo sinal em meio ao detrito e a lama para que pesquisadores do futuro identifiquem nossa presença, especialmente no século XX. Embora seja uma invenção milenar, com o concreto romano ainda estando de pé em locais por todo o mundo, a tecnologia só se espalhou para todos os cantos da Terra recentemente.

4. Combustíveis fósseis

O ser humano tem desenterrado e queimado combustíveis fósseis por muito tempo, mesmo em pequenas quantidades — há milhares de anos, carvão já era usado para escapar do frio. Na Grande Aceleração de meados do século XX, no entanto, o salto populacional e a tecnologia de carros, aviões e eletricidade trouxe aumento atrás de aumento exponencial nesse uso.

A queima de combustíveis fósseis causa mudanças climáticas e polui a atmosfera, deixando uma camada de carbono e outras substâncias nas rochas (Imagem: Dimaberlin/Envato)
A queima de combustíveis fósseis causa mudanças climáticas e polui a atmosfera, deixando uma camada de carbono e outras substâncias nas rochas (Imagem: Dimaberlin/Envato)

Partículas de carbono e cinzas volantes são jogadas na atmosfera em grande quantidade, voltando para o solo e ficando registradas nas rochas. O aumento incrível no dióxido de carbono atmosférico será um marcador muito claro da presença humana no planeta azul.

5. Plutônio e partículas nucleares

Os primeiros testes nucleares foram feitos na década de 1940, como todos já estão sabendo graças a Oppenheimer. Nos anos 1950 e 1960, a corrida armamentista fez com que mais e mais detonações teste ocorressem, até que se tornaram obsoletas — atualmente, não é preciso detonar bombas para testá-las. Foi o bastante, no entanto, para que uma marca nuclear fosse deixada no planeta.

Radiação se espalhou por todo o mundo, especialmente na forma de plutônio, que ocorre naturalmente, mas em quantidades ínfimas. A substância é um sinal forte do impacto humano no século XX, já que o pico de sua presença na natureza é bastante óbvio, como uma digital.

Iniciados na década de 1940, os testes nucleares e outras detonações deixaram uma marca de plutônio e outras partículas radioativas em todo o planeta, sinal eterno da influência humana (Imagem: Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty Organization/CC-BY-2.0)
Iniciados na década de 1940, os testes nucleares e outras detonações deixaram uma marca de plutônio e outras partículas radioativas em todo o planeta, sinal eterno da influência humana (Imagem: Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty Organization/CC-BY-2.0)

Há inúmeros outros sinais da nossa presença, como mudanças drásticas na distribuição de espécies animais, erosão, poluição e extinções em massa. Dito tudo isto, não é certeza que o Antropoceno será aprovado definitivamente — embora os comitês responsáveis estejam nos estágios finais de aprovação, há geólogos que discordam da definição, acreditando que seria melhor aplicada como um evento.

Os marcadores que trouxemos aqui serão de fato permanentes? Apesar de parecer enorme para nós, será que o impacto humano será tão importante e marcante quanto os grandes eventos geológicos do passado? A nossa época, afinal, começou há muito pouco tempo e poderá acabar, também, em breve. Tudo isso será discutido ao longo do ano, e, ao final de 2024, saberemos se o Antropoceno será, de fato, uma definição científica.