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10 histórias de pessoas comuns que estão ajudando a construir um mundo mais sustentável e justo

10 histórias de pessoas comuns que estão ajudando a construir um mundo mais sustentável e justo

Nem todos os heróis vestem capa especiais e aparentam enorme força física. Para escrever uma nova história para a Terra é preciso determinação e uma boa dose de mãos à massa

Sai ano, entra ano, e nosso Planeta segue girando na imensidão espacial com problemas que parecem maiores do que a gente pode dar conta. Mas onde há esperança de dias melhores, há possibilidade de mudança. Afinal, é caminhando que o caminho aparece. Para te inspirar e mostrar que é possível fazer diferente, selecionamos algumas histórias de pessoas comuns que estão ajudando a construir um mundo mais sustentável e justo. Elas mostram que nem todos os heróis vestem capa especiais e aparentam enorme força física, mas que para escrever uma nova história para a Terra é preciso determinação e uma boa dose de mãos à massa.

Jovem cientista cria sistema solar de purificação de água para pessoas carentes

 

Anna Luísa Beserra — Foto: SDW/Divulgação

Anna Luísa Beserra — Foto: SDW/Divulgação

A água é um recurso fundamental para a vida no planeta. Porém, de acordo com a ONU, o acesso à água potável ainda não é uma realidade para mais de um quarto da população mundial. No Brasil, o problema é crítico em regiões como o semiárido. A brasileira Anna Luísa Beserra criou o Aqualuz, uma tecnologia que purifica água por meio de radiação ultravioleta. O dispositivo é acoplado às cisternas, reservatórios de coleta de água da chuva comumente utilizados na região, e elimina as bactérias, sem usar nenhum produto químico.

“A tecnologia só precisa do Sol para funcionar, e tem um sensor capaz de avisar quando a água está pronta, podendo garantir justamente a independência ao acesso à água potável para as pessoas que mais precisam”, conta a jovem. A solução possui vida útil estimada em 20 anos. Atualmente, o Aqualuz beneficia mais de 4.000 pessoas em 13 estados do Brasil.

Paulista de 71 anos soma 37 mil árvores plantadas na zona leste da capital

 

O administrador de empresas Hélio da Silva é conhecido na sua região como o “plantador de árvores” — Foto: Arquivo pessoal

O administrador de empresas Hélio da Silva é conhecido na sua região como o “plantador de árvores” — Foto: Arquivo pessoal

Hoje considerado o quarto maior parque linear do mundo, o parque do Tiquatira tem um valor especial para os moradores da região, considerada a segunda menos arborizada da capital paulista, perdendo apenas para a zona central da metrópole. Por trás do feito está o administrador de empresas Hélio da Silva, conhecido na sua região como o “plantador de árvores”. Aos 71 anos, já plantou de forma voluntária mais de 37 mil arvores nativas desde 2003.

“Há 19 anos eu peguei uma área pública abandonada, se degradando todo dia, toda hora, cada vez mais, e decidi mudar isso trazendo de volta as árvores que um dia foram expulsas daqui”, contou. Com liberdade para plantar, o empresário já arborizou ruas e o piscinão que atende o bairro da Penha. Ele tem no reconhecimento de seus vizinhos de mais de seis décadas a sua principal recompensa. “Esse é meu tributo, meu contentamento e minha generosidade”.

Menina de 12 anos cria garrafa comestível para reduzir lixo nas praias

 

Depois de ver o plástico poluindo suas praias favoritas ano após ano, Madison Checketts decidiu fazer algo a respeito  — Foto: Reprodução/Society for Science

Depois de ver o plástico poluindo suas praias favoritas ano após ano, Madison Checketts decidiu fazer algo a respeito — Foto: Reprodução/Society for Science

Todos os anos a jovem norte-americana Madison Checketts, de 12 anos, frequenta praias da costa sul da Califórnia, nos Estados Unidos, durante as férias com a família. Depois de notar locais cheios de garrafas plásticas, ela começou a estudar sobre poluição plástica e maneiras de reduzi-la. Assim, Checketts criou o que chama de Eco-Hero, uma garrafa de água gelatinosa e comestível, que contém cerca de três quartos de um copo de água e custa cerca de US$ 1,20 para ser produzida. Basta abrir um buraco no topo da membrana gelatinosa, beber a água e depois comer a membrana ou jogá-la em local adequado.

A ideia começou a ser desenvolvida em outubro de 2021, como parte da feira de ciências de sua escola primária, Eagle Mountain, em Utah, nos EUA. Depois de ser selecionada para competir com outros estudantes do distrito escolar, ela ganhou o primeiro lugar no concurso e avançou para uma competição nacional, além de ser uma das finalistas do concurso da Broadcom Masters Competition 2022, a principal competição de ciência, tecnologia, engenharia e matemática dos EUA para alunos do ensino médio.

Marisqueiras de Pernambuco: reaproveitamento e geração de renda

 

Cecília Gouveia — Foto: Divulgação

Cecília Gouveia — Foto: Divulgação

Entrelaçando conchas com fios de seda e sementes que seriam descartadas, o grupo de marisqueiras liderado por Cecília Gouveia (foto) trabalha há mais de uma década produzindo colares, bolsas e outros acessórios de moda na cidade de Goiana, no interior de Pernambuco. As marisqueiras fazem parte de uma comunidade ribeirinha de 500 famílias que tiram o sustento das praias e do rio salgado que corta a região.

Enquanto a maior parte dos homens vive da pesca, as mulheres trabalham desde pequenas coletando mariscos. Foi procurando uma fonte de renda extra que as marisqueiras descobriram uma nova função para as conchas que coletavam: produzir acessórios ecológicos e aumentar a renda das mulheres. O respeito ao meio ambiente está presente em todas as etapas de produção dos acessórios e, aos poucos, ganha apelo entre fashionistas e designers.

Estudante cria painel solar feito de lixo orgânico que gera energia sem luz direta

 

Maigue foi nomeado o primeiro vencedor global de sustentabilidade do James Dyson Awards  — Foto: James Dyson Foundation

Maigue foi nomeado o primeiro vencedor global de sustentabilidade do James Dyson Awards — Foto: James Dyson Foundation

Buscando tornar a geração de energia solar mais acessível e eficiente, o jovem estudante de engenharia elétrica Carvey Maigue desenvolveu um painel solar que capta a luz ultravioleta (UV) que atravessa as coberturas de nuvens, garantindo geração de energia mesmo sem incidência direta de luz. “Mesmo com o tempo nublado e chuvoso, a luz ultravioleta ainda nos atinge. Painéis solares convencionais não podem absorver luz ultravioleta, e é isso que minha invenção oferece”, explicou.

Os painéis solares batizados de AuReus têm outra característica sustentável: “um dos componentes mais importantes da minha invenção é proveniente de resíduos. Os compostos luminescentes orgânicos são derivados de frutas e vegetais reciclados”. Com a invenção, Maigue recebeu o Prêmio de Sustentabilidade do James Dyson Awards, premiação da Fundação Dyson para inventores.

“Zé das Sementes”: jovem de Brumadinho colhe frutos e grãos para reflorestar área destruída

 

Catando sementes, jovem ajuda a reflorestar área destruída em Brumadinho — Foto: Poubel Gomes / Divulgação / Vale

Catando sementes, jovem ajuda a reflorestar área destruída em Brumadinho — Foto: Poubel Gomes / Divulgação / Vale

Nascido em Capelinha, no interior do Estado mineiro, o jovem José Fernandes, de 19 anos, resolveu agir em prol da natureza após ver o efeito devastador que o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, que aconteceu no dia 25 de janeiro de 2019 no município da Região Metropolitana de Belo Horizonte, causou na comunidade. Carinhosamente chamado de “Zé das Sementes”, ele dedica a maior parte dos seus dias aos estudos e à coleta de sementes de árvores nativas que estão ajudando a reflorestar a região e garantir a conservação das espécies – algumas, ameaçadas de extinção.

A coleta, ele entende, estabelece uma relação das pessoas com a floresta, uma relação de respeito e descoberta. José Fernandes é um dos integrantes do “Projeto Sementes”, iniciado pela Vale em 2019, ano do rompimento da barragem. “Sempre gostei da natureza, mas nunca imaginei trabalhar com coleta de sementes, é uma surpresa muito boa. Ser ‘mateiro’, como diz na roça não estava nos meus planos, mas agora pretendo aprofundar meus conhecimentos e fazer uma faculdade de Biologia”, diz o jovem.

Jovens brasileiros constroem cisternas para comunidades assentadas e recebem prêmio da ONU

Quebrada Agroecológica:  — Foto: Divulgação/Quebrada Agroecológica

Quebrada Agroecológica: — Foto: Divulgação/Quebrada Agroecológica

Durante a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP27) que reuniu em novembro, no Egito, tomadores de decisão de quase 200 países para redefinir caminhos para combater o aquecimento global, um projeto de jovens brasileiros ganhou destaque. O Coletivo Quebrada Ecológica recebeu o prêmio ImaGen Ventures, promovido pela Generation Unlimited, primeira parceria público-privada voltada exclusivamente à juventude, que tem a participação da UNICEF.

O coletivo surgiu este ano a partir de uma demanda para melhorar o acesso à água na Ocupação Maria da Penha, em Guarulhos, em São Paulo. Eles constroem minicisternas de baixo custo para assentamentos e comunidades de baixa renda, além de repassar este conhecimento para os moradores que vivem em situação de vulnerabilidade diante de tempestades, enchentes, secas e outros extremos climáticos. ““Estamos estudando para onde podemos e devemos levar essas formações primeiro. Estamos olhando para as hortas e cozinhas solidárias que têm mais problemas em relação à água”, contam.

Resistência à poluição por petróleo na Nigéria

 

Chima Williams — Foto: Goldman  Environmental Prize

Chima Williams — Foto: Goldman Environmental Prize

Todos os anos, milhares de galões de petróleo bruto são derramados de oleodutos e poços de petróleo no Delta do Níger, na Nigéria, nação mais populosa da África e 13º maior produtor de petróleo do mundo. A maioria dos campos de petróleo do país se concentram no Delta do Níger, que forma a maior zona úmida da África, onde o rio Níger deságua no Golfo da Guiné. O advogado ambiental e diretor executivo da ERA (ERA/Friends of the Earth Nigeria) Chima Williams trabalha com os moradores afetados para cobrar remediação e prevenção.

Desiludidos com a justiça de seu país, Chima e as comunidades de Goi e Oruma, atingidas pelos danos, buscam soluções legais contra as petroleiras que atuam por lá. Seu trabalho incansável levou o Tribunal de Apelação de Haia a responsabilizar pela primeira vez uma corporação transnacional holandesa por violações de sua subsidiária em outro país. Por sua atuação, ele recebeu o Prêmio Ambiental Goldman de 2022, espécie de “Nobel verde” concedido anualmente a ativistas ambientais que estão construindo um mundo melhor.

Acesso à água potável na Amazônia

 

Profa. Vania Neu — Foto: Acervo Pessoal

Profa. Vania Neu — Foto: Acervo Pessoal

Levar água e saneamento para uma região com uma população rural muito dispersa e onde as grandes distâncias são barreiras que exigem uma gama de soluções diversificadas capazes de acomodar as características físicas do território amazônico, altamente heterogêneo. Desde 2012, a professora e bióloga Vania Neu desenvolve o projeto “Segurança Hídrica e Saneamento na região insular de Belém”, que garante água potável e saneamento a famílias da ilha, com soluções de baixo custo e que podem ser replicadas pelas comunidades a partir do aprendizado social.

Segundo ela, construir a tecnologia junto com a comunidade é essencial. “Para pensarmos em alternativas para a Amazônia, precisamos pensar em soluções desenvolvidas com eles, entender o que as pessoas querem. Não existe uma única solução: o bioma é diverso, e o povo também. Precisamos respeitar as pessoas para solucionar esse problema do saneamento”, disse Vania.

Patrulha formada por indígenas do Equador ganha prêmio da ONU

 

Alex Lucitante e Alexandra Narvaez  — Foto: Goldman Environmental Prize

Alex Lucitante e Alexandra Narvaez — Foto: Goldman Environmental Prize

Exploração mineral e extração de madeira também ameaçam as florestas e comunidades amazônicas no Equador. Em 2018, os jovens Alexandra Narvaez e Alex Lucitante conseguiram uma vitória histórica, após convencer o governo a reverter a autorização de 52 concessões de exploração de ouro feitas a empresas sem consulta ao povo Cofán. Isso graças à patrulha indígena que formaram na comunidade ao longo das margens do rio Aguarico, que monitora e denuncia atividades ilegais dentro do seu território.

Foi durante uma missão de patrulha que o grupo batizado de La Guardia flagrou acampamentos de madeireiros, caçadores, mineradores ilegais e maquinários para escavação em larga escala às margens do território. Enquanto o grupo registrava as atividades ilegais, Alex mobilizava atenção da mídia e desenvolvia estratégias legais para pressionar o governo a reverter as concessões ilegais que culminou na vitória local. Em 2022, os ativistas receberam o Prêmio Ambiental Goldman 2022 por sua atuação.