1 em cada 4 pessoas no mundo não tem acesso à água potável

Comunidades rurais, mulheres e crianças são as mais afetadas pela falta de água segura, aponta novo relatório da ONU
Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos é o Objetivo 6 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) a serem garantidos até 2030. A meta, no entanto, está longe de ser alcançada. Cerca de 2,1 bilhões de pessoas, o equivalente a um em cada quatro habitantes do planeta, ainda não têm acesso à água potável em condições seguras, segundo a ONU.
O novo relatório “Progresso em Água Potável e Saneamento Doméstico 2000-2024: foco especial nas desigualdades” foi lançado pela OMS e UNICEF, no contexto da 35ª reunião da Semana Mundial da Água, que acontece em Estocolmo até o próximo dia 28 de agosto. O documento reforça a desigualdade no acesso à água: os que vivem em países de baixa renda, contextos frágeis, comunidades rurais, crianças e grupos étnicos minoritários e indígenas enfrentam as maiores disparidades em relação à água, saneamento e higiene.
No relatório, as agências de saúde e infância da ONU apontam que, embora tenha havido algum progresso na última década, o avanço se dá em ritmo lento, de forma que a promessa de atingir a cobertura universal, uma das metas de desenvolvimento sustentável da ONU, está cada vez mais fora de alcance. Confira abaixo os principais dados do estudo:

Acesso à água potável
- Apesar dos ganhos desde 2015, 1 em cada 4 — ou 2,1 bilhões de pessoas no mundo todo — ainda não tem acesso à água potável gerenciada com segurança*
- Destes acima, 106 milhões bebem diretamente de fontes superficiais não tratadas.
- Em contextos frágeis (zonas de conflito ou instabilidade), a cobertura de água potável gerenciada com segurança é 38 pontos percentuais menor do que em outras regiões.
- Na zona rural, a cobertura de água potável gerenciada com segurança aumentou de 50% para 60% entre 2015 e 2024

Saneamento básico
- 3,4 bilhões de pessoas ainda não têm saneamento básico seguro
- Destes acima, 354 milhões praticam defecação a céu aberto, expondo-se a riscos sanitários graves.
- Em países menos desenvolvidos, a população tem mais que o dobro de chance de não ter acesso a saneamento básico em comparação com países mais desenvolvidos.
Higiene e saúde
- 1,7 bilhão de pessoas ainda não têm serviços básicos de higiene em casa.
- Dentre elas, incluindo 611 milhões sem acesso a nenhuma instalação.
- A cobertura de higiene básica nas zonas rurais subiu de 52% (2015) para 71% (2024), mas áreas urbanas estagnaram.
- Pessoas em países menos desenvolvidos têm mais que o triplo de probabilidade de não terem acesso à higiene básica.

Mulheres, meninas e desigualdade
- Dados de 70 países mostram que, embora a maioria das mulheres e adolescentes tenham materiais menstruais e um local privado para se trocar, muitas não têm materiais suficientes para trocar com a frequência necessária.
- Meninas adolescentes de 15 a 19 anos têm menos probabilidade do que mulheres adultas de participar de atividades durante a menstruação, como escola, trabalho e passatempos sociais.
- Na maioria dos países com dados disponíveis, mulheres e meninas são as principais responsáveis pela coleta de água, com muitas na África Subsaariana e na Ásia Central e Meridional gastando mais de 30 minutos por dia coletando água.

Água não é privilégio, é direito
O acesso à água potável é reconhecido como um direito humano fundamental.
Trata-se de um recurso básico para a sobrevivência humana, sem o qual não se garante o desenvolvimento socioeconômico e o avanço do bem-estar em geral.
“Água, saneamento e higiene não são privilégios, são direitos humanos básicos”, afirmou o Dr. Ruediger Krech, Diretor Adjunto de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da Organização Mundial da Saúde. “Precisamos acelerar as ações, especialmente em prol das comunidades mais marginalizadas, se quisermos cumprir nossa promessa de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.”
Apesar da própria ONU reconhecer que a “água contaminada, saneamento inadequado e práticas precárias de higiene ainda estão minando os esforços para acabar com a pobreza extrema e controlar surtos de doenças nos países mais pobres do mundo”, não nivelar por baixo o que é privilégio é importante para a agenda avançar.
Outro ponto diz respeito ao impacto da falta de água na saúde e educação, sobretudo de meninas. “Quando as crianças não têm acesso a água potável, saneamento e higiene, sua saúde, educação e futuro ficam em risco”, disse Cecilia Scharp, Diretora de WASH do UNICEF. “Essas desigualdades são especialmente graves para as meninas, que muitas vezes carregam o fardo da coleta de água e enfrentam barreiras adicionais durante a menstruação. No ritmo atual, a promessa de água potável e saneamento para todas as crianças está cada vez mais distante – o que nos lembra que precisamos agir com mais rapidez e ousadia para alcançar aqueles que mais precisam”, conclui.