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Crescimento urbano e exposição em áreas naturais elevam o risco de aumento da febre maculosa

Crescimento urbano e exposição em áreas naturais elevam o risco de aumento da febre maculosa

Marco Aurélio Ferreira destaca que a vigilância contínua é essencial para controlar a doença, além de medidas como manejo ambiental, roçada, limpeza e redução de áreas favoráveis ao carrapato

A Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais emitiu um alerta epidemiológico após o aumento de casos e mortes por febre maculosa naquele Estado. Marco Aurélio Ferreira, mestre em Entomologia em Saúde Pública e doutorando pela Faculdade de Saúde Pública da USP, que estuda a doença, ressalta que fatores ambientais e comportamentais explicam a expansão da febre maculosa na região.

Ele destaca que a expansão urbana sobre áreas de mata e margens de rios intensifica o contato entre a população e o carrapato-estrela, principal vetor da febre maculosa em Minas Gerais. O crescimento das populações de capivaras — hospedeiros primários desse carrapato —, aliado ao desmatamento e às condições climáticas favoráveis, contribui para o aumento do vetor. Atividades de lazer em ambientes naturais, muitas vezes sem medidas de proteção, também elevam o risco de exposição.

Marco Aurélio Ferreira – Foto: Linkedin

O pesquisador ressalta que a transmissão ocorre apenas pela picada de carrapatos infectados por bactérias do gênero Rickettsia. Não há transmissão direta entre pessoas. A infecção depende do tempo de fixação do carrapato na pele.

No Brasil, a forma mais grave da doença é causada pela Rickettsia rickettsii, transmitida por espécies como o Amblyomma sculptum (carrapato-estrela) e o Amblyomma aureolatum (carrapato-amarelo-do-cão). Já a Rickettsia parkeri, predominante na Mata Atlântica, provoca quadros mais leves e é transmitida pelo Amblyomma ovale.

Sintomas

Os sintomas surgem entre dois e 14 dias após a picada e começam de forma semelhante a uma gripe forte: febre alta, dor de cabeça, dores musculares, náuseas e vômitos. Posteriormente, aparecem manchas vermelhas que se iniciam nas mãos e pés e se espalham pelo corpo. Nos casos graves, pode haver inchaço, necrose e insuficiência respiratória. A doença é grave, e o atraso no diagnóstico aumenta a letalidade, que pode ultrapassar 50%. A semelhança com doenças como dengue e leptospirose dificulta a identificação precoce.

O tratamento deve ser iniciado imediatamente após a suspeita, antes mesmo da confirmação laboratorial. A rapidez é fundamental para reduzir o risco de morte. A prevenção inclui o uso de roupas claras, calças compridas e botas ao visitar áreas de risco, evitando vegetação alta. Ao retornar, é essencial examinar o corpo, as roupas e os animais de estimação. Remover o carrapato rapidamente diminui a chance de infecção.

Em áreas onde cães são hospedeiros, recomenda-se mantê-los dentro de casa e restringir o acesso a áreas de mata. Os antibióticos usados no tratamento estão disponíveis no SUS e são altamente eficazes quando iniciados precocemente.

O professor destaca que a vigilância contínua é essencial para controlar a doença. As medidas envolvem manejo ambiental, roçada, limpeza, redução de áreas favoráveis ao carrapato, controle populacional de hospedeiros e ações de educação em saúde. A suspeita clínica precoce e o tratamento imediato são pontos-chave para evitar complicações e óbitos.