Como os carros afetam o ar, o clima e a saúde das pessoas?
Indispensáveis na mobilidade urbana, os carros são os principais meios de locomoção, mas geram impactos na fauna e flora e na saúde humana
Seja nas grandes metrópoles, ou em cidades pequenas, os veículos terrestres fazem parte da vida humana moderna e são essenciais quando falamos da necessidade cotidiana de deslocamentos. Mas como será que os carros afetam o meio ambiente e a saúde em geral?
Segundo levantamento feito pelo Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), em 2024, a frota de veículos no Brasil chegou a 124 milhões. Esse número inclui motos, carros, caminhões e também os ônibus.
Com o debate sobre as mudanças climáticas ganhando cada vez mais corpo, discutir os efeitos negativos da utilização de veículos terrestres virou um pilar importante na identificação e enfrentamento dos desafios do clima.
Qual o real impacto dos carros na saúde humana, na fauna e flora?

Antes mesmo de chegar às ruas, os carros já causam impactos ambientais. Isto acontece já na produção dos veículos motorizados, uma vez que para isso são utilizados materiais como aço, borracha, vidro e plástico. Ao serem compostos para criar um novo automóvel, deixam uma pegada de carbono considerável na atmosfera.
E mesmo quando um automóvel cumpre a sua vida útil, o descarte e a decomposição são extremamente complexos. Ou seja, ele ainda vai permanecer no meio ambiente por anos, aliás, por séculos. Plásticos usados na fabricação dos carros podem demorar 450 anos para se decompor, enquanto os pneus, 600 anos. As baterias de chumbo-ácido podem levar ainda mais tempo, são mais de 400 anos para a total desintegração.
Levando em conta que um carro pode ficar em circulação por décadas, vamos esmiuçar quais são os impactos no meio ambiente e na saúde enquanto ele está operante, emitindo poluentes como o óxido nitroso, hidrocarbonetos e o monóxido de carbono.
Os veículos são os principais responsáveis pela má qualidade do ar nos centros urbanos. Quem aponta esse indicativo é o IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente), uma organização brasileira sem fins lucrativos que gera conhecimento técnico-científico sobre o tema.
Atualmente, sete poluentes são regulados no país por seus reconhecidos danos à saúde, ou seja, deveriam ser acompanhados pelo poder público. São eles: fumaça, partículas totais em suspensão (PTS), partículas inaláveis (MP10), partículas inaláveis finas (MP2,5), dióxido de enxofre (SO₂), dióxido de nitrogênio (NO₂), monóxido de carbono (CO) e ozônio (O₃).

“A diminuição da poluição é um desafio em centros urbanizados devido ao grande volume de carros. Principalmente para alguns poluentes de formação complexa, como o material particulado e o ozônio”, explica Beatriz Sayuri Oyama, pesquisadora do IEMA.
A concentração de poluentes atmosféricos no ar estão diretamente relacionados ao agravamento de doenças respiratórias, cardiovasculares e neurológicas, sobretudo em crianças e idosos. E não para por aí, pesquisas indicam a correlação entre a exposição a alguns poluentes e o desenvolvimento de câncer pulmonar.
Artigo científico publicado na American Cancer Society, feito em parceria com pesquisadores da Dinamarca, Espanha e Estados Unidos, avaliou as evidências e relações atuais sobre poluição externa provocada pelos carros e o desenvolvimento da doença.
“Atualmente, existem evidências substanciais, provenientes de estudos em humanos e animais de experimentação, bem como evidências mecanísticas, que sustentam uma relação causal entre a poluição do ar exterior (ambiente), especialmente o material particulado (MP) presente no ar exterior, e a incidência e mortalidade por câncer de pulmão”, alerta o estudo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que, a cada ano, 7 milhões de mortes prematuras no mundo estão relacionadas à poluição do ar. E um relatório publicado pelo INCA (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva) avaliou quais são as profissões que mais sofrem com a poluição causada pelos carros e estão mais propensos a desenvolver um câncer relacionado ao trabalho.

“Algumas profissões como, por exemplo, motoristas, agentes de trânsito, carteiros, vendedores ambulantes e outras ocupações ao ar livre estão frequentemente expostas às emissões veiculares oriundas do trânsito das grandes cidades. Dessa forma, representam as categorias profissionais com exposição contínua aos poluentes do ar, o que é um fator de risco para o acometimento de doenças relacionadas ao trabalho, incluindo o câncer”, alerta o relatório.
A poluição atmosférica causada pelos carros também afeta os ecossistemas. O acúmulo de poluentes nas plantas pode levar à redução da sua capacidade de fotossíntese, provocando, por exemplo, queda da produtividade agrícola. A acidificação das águas da chuva e a contaminação dos recursos hídricos, dos biomas aquáticos e do solo também estão entre as consequências.
Como mitigar ou reduzir os efeitos negativos da poluição atmosférica? Pensando no macro, a utilização de combustíveis como álcool e gás natural veicular, embora não sejam totalmente inofensivos, geram menos poluentes do que o diesel e gasolina, por exemplo. Já os biocombustíveis como etanol, biodiesel e hidrogênio verde são as melhores alternativas.
Os ônibus elétricos – adotados em algumas capitais brasileiras – são movidos por meio de uma bateria recarregável de ferro e lítio, e também figuram como uma alternativa de energia limpa.
No campo doméstico, é importante manter a casa limpa e arejada para que a poeira doméstica não se some à poluição externa. Além disso, é importante se manter hidratado e realizar regularmente a lavagem das narinas com solução fisiológica.
