Silvicultura em expansão: o crescimento econômico e o debate ambiental no Brasil
Atividade une planejamento, plantio, manejo e colheita de florestas com o objetivo de produzir diferentes matérias-primas
A silvicultura é a ciência que estuda e pratica o cultivo, manejo e conservação de florestas, com o objetivo de produzir produtos como madeira, papel e outros derivados, ao mesmo tempo que promove a sustentabilidade, conservação da biodiversidade e o uso racional dos recursos naturais. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, houve um crescimento dessa atividade no País de 140% entre os anos de 2019 e 2024, impulsionado pelos avanços tecnológicos e pelo valor da celulose. O valor da produção florestal atingiu recorde de R$ 44,3 bilhões em 2024, alta de 16,7%, e a silvicultura responde por 84,1% do setor. É um tema de enorme relevância para o Brasil, pois a atividade une o uso da terra, a questão fundiária e o debate ambiental.

Weber Amaral, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, comenta a respeito dessa atividade e onde ela é mais praticada. “É um segmento equivalente a quase 3% do PIB brasileiro. É uma contribuição muito significativa, e o Brasil é o país que tem as maiores produtividades em florestas de rápido crescimento do mundo. Essas florestas de rápido crescimento ocorrem em várias partes do Brasil, mas predominantemente nos Estados da Região Sudeste, no Mato Grosso do Sul, que teve uma expansão significativa nos últimos dez anos, no norte do Espírito Santo e sul da Bahia. Além de regiões muito importantes de Minas Gerais, onde existem plantios florestais para produção de carvão.”
Como é realizada a prática
A silvicultura é praticada por meio do planejamento, plantio, manejo e colheita de florestas, com o objetivo de produzir matérias-primas (madeira, celulose) e serviços ambientais. Envolve o controle do solo, clima, seleção genética de espécies e manejo de pragas, utilizando desde métodos tradicionais com espécies nativas até técnicas modernas com árvores geneticamente modificadas. A atividade também pode ter fins ambientais, como a conservação de áreas verdes e o reflorestamento.
A prática consiste em três etapas: o planejamento, onde é escolhido o local para plantio, é feita seleção de material genético adequado e o estudo do solo e das condições climáticas, o plantio, que consiste em implantar as mudas das espécies escolhidas, muitas vezes usando tecnologias de mecanização para otimizar o processo e, por último, o manejo das árvores durante seu crescimento, que envolvem atividades como adubação e controle de pragas, por exemplo.
Importância econômica
“No meu entendimento, como profissional que trabalha na área há 40 anos, essa é uma atividade muito importante para a economia e a sociedade brasileira, do ponto de vista da nossa competitividade e porque ela utiliza áreas que não são aptas para agricultura. A silvicultura não compete na oferta de alimentos ou proteína animal porque são utilizadas áreas que não são aptas para as culturas anuais. Essas plantações cresceram, nas últimas três décadas, em áreas que eram pastagens de baixa produtividade ou degradadas.”
O professor ressalta também que, além da atividade representar 3% a 4% do PIB do País, tem um papel importante na oferta de madeira, na maioria dos casos evitando o uso de madeiras nativas. “Hoje, o Brasil já tem tecnologias para a produção de madeira serrada, engenheiradas e outros tipos que substituem as madeiras nativas e, portanto, não colocam pressão no desmatamento.”
Amaral finaliza comentando se a silvicultura pode ou não causar impactos no território brasileiro. “Essas atividades têm um regramento e legislações muito específicas sobre onde podem ocorrer, a área na qual podem ocupar em uma paisagem. Há uma grande demanda por regimes de certificação e regimes que mostram que essa produção de madeira renovável pode ser feita e deve ser feita de forma sustentável.”
Entretanto, danos como erosão, perda de nutrientes e compactação do solo, além da fragmentação do hábitat de espécies e impactos sobre recursos hídricos, como a alteração do ciclo hidrológico, podem ocorrer se a prática for malfeita. “É claro que existem questões que podem e devem ser melhoradas, mas, de modo geral, essas florestas plantadas são consideradas de carbono neutro e seus impactos estão sendo monitorados por indicadores que o Brasil possui. Esses indicadores envolvem regimes de certificação e comunidades, inclusive organizações da sociedade, para entender o impacto e como pode ser mitigado ou minimizado.”
*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira
