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Mesmo com novas metas nacionais, mundo caminha para até 2,5°C de aquecimento neste século

Mesmo com novas metas nacionais, mundo caminha para até 2,5°C de aquecimento neste século

O novo Emissions Gap Report 2025, análise que mostra a diferença entre o que os países prometem cortar e o que seria necessário para evitar o pior da crise climática, divulgado nesta segunda-feira (4) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), revela que o planeta continua distante das metas do Acordo de Paris. Mesmo com as novas promessas climáticas apresentadas pelos países, a previsão é de que a temperatura média global aumente entre 2,3°C e 2,5°C até o fim do século, apenas uma ‘leve melhora em relação ao relatório do ano anterior, que projetava entre 2,6°C e 2,8°C.

O relatório, intitulado Off Target (“Fora da rota”), aponta que, caso os países mantenham apenas as políticas atuais, o aquecimento poderá chegar a 2,8°C, o que representaria uma escalada drástica nos riscos e danos climáticos. A título de comparação, o Acordo de Paris, assinado em 2015 por quase 200 países, estabelece como meta manter o aquecimento global bem abaixo de 2°C e buscar esforços para limitá-lo a 1,5°C até o fim do século. Essa diferença de meio grau parece pouca, mas é crucial. Segundo a ciência, ultrapassar 1,5°C pode desencadear impactos muito mais severos e duradouros para nossas economias e ecossistemas.

Além disso, ajustes metodológicos e a anunciada retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris anulam parte do pequeno progresso obtido, mostrando que as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) “mal moveram a agulha” rumo às metas globais. As NDCs são os planos climáticos apresentados por cada país à ONU, que definem suas metas de redução de emissões e adaptação aos impactos da crise climática.

“Os cientistas afirmam que um aumento temporário acima de 1,5°C é agora inevitável — e começará, no mais tardar, no início da década de 2030. O caminho para um futuro habitável fica mais íngreme a cada dia”, alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres. “Mas este não é um motivo para desistir, e sim para acelerar. A meta de 1,5°C ainda é possível, se aumentarmos significativamente nossa ambição.”

A diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen, reforçou que o mundo já teve “três chances” de cumprir as promessas do Acordo de Paris, e falhou em todas. “Os planos nacionais trouxeram algum progresso, mas estão muito aquém do necessário. Precisamos de cortes sem precedentes em um prazo cada vez mais apertado”, afirmou.

Avanço lento e janela estreita

Até setembro de 2025, apenas 60 países haviam apresentado novas NDCs com metas de mitigação para 2035, cobrindo 63% das emissões globais. Mesmo entre essas nações, há um grande “buraco de implementação”: poucos estão no caminho para cumprir as metas de 2030, quanto mais as de 2035.

Para alinhar-se ao limite de 2°C, as emissões globais em 2030 precisariam cair 25% em relação a 2019; para 1,5°C, a redução teria de ser de 40%. Hoje, no entanto, as emissões seguem crescendo, com alta de 2,3% em 2024, alcançando 57,7 gigatoneladas de CO₂ equivalente.

O relatório calcula que, se todas as promessas forem totalmente implementadas, as emissões em 2035 cairiam apenas 15% em relação a 2019, muito abaixo dos 35% e 55% necessários para manter o aquecimento em 2°C e 1,5°C, respectivamente.

O PNUMA afirma que a média de aquecimento global ultrapassará 1,5°C nas próximas décadas, ainda que de forma temporária. Cortes rigorosos e imediatos nas emissões poderiam limitar esse “excesso” e permitir que o planeta retorne a 1,5°C até 2100.

Cada fração de grau evitada reduz o número de vidas perdidas, os danos econômicos e os riscos de pontos de não retorno no sistema climático.

Minimizar essa “ultrapassagem” também diminuiria a dependência de tecnologias incertas e caras de remoção de carbono, que, segundo o relatório, teriam de capturar e armazenar permanentemente o equivalente a cinco anos de emissões globais atuais para reverter apenas 0,1°C de aquecimento.

Soluções existem, mas exigem vontade política

Apesar do cenário preocupante, o relatório ressalta que as tecnologias necessárias já estão disponíveis. A rápida expansão da energia solar e eólica tem reduzido custos e ampliado o acesso a fontes limpas.

“Sabemos o que precisa ser feito. Agora é o momento de os países irem com tudo e investirem em seu futuro com ações climáticas ambiciosas que gerem crescimento econômico, empregos, saúde e segurança energética”, destacou Inger Andersen.

O PNUMA lembra que, desde a adoção do Acordo de Paris, há dez anos, as previsões de aquecimento caíram de 3–3,5°C para 2,3–2,5°C — um avanço insuficiente diante da urgência climática.

A organização reforça que o G20, responsável por 77% das emissões globais, tem papel decisivo, embora alguns membros tenham apresentado novas metas para 2035, as promessas seguem pouco ambiciosas e, coletivamente, o grupo ainda não cumpre sequer as metas para 2030.