Nova plataforma usa IA para ajudar brasileiros a se adaptar às mudanças climáticas
Tecnologia pioneira no país será lançada no dia 11 de novembro, na COP30. Entenda como ela funciona
Enchentes, secas e deslizamentos fazem parte do cenário climático brasileiro há décadas. Mas, frente à aceleração das mudanças climáticas, fenômenos como estes se tornaram ainda mais frequentes nos últimos anos. Um levantamento da Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, em parceria com a Fundação Grupo Boticário, revelou que, entre 2020 e 2023, os desastres climáticos brasileiros cresceram 250% em comparação aos registros dos anos 1990.
Diante disso, uma nova tecnologia quer dar novas ferramentas para o enfrentamento da crise climática no Brasil. A Plataforma Natureza ON, desenvolvida pela Fundação Grupo Boticário, com o apoio do MapBiomas e do Google Cloud combina inteligência artificial e ciência aberta para ajudar cidades, empresas e cidadãos a entenderem e enfrentar os riscos ambientais.
“A [plataforma] Natureza ON nasce para apoiar a adaptação climática do Brasil, oferecendo dados abertos e acessíveis para que toda a sociedade entenda os riscos a que está exposta e como pode reduzi-los”, explica Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário.
A plataforma é pioneira no país e será lançada oficialmente no dia 11 de novembro, durante a COP30, em Belém, no Pará.
Um mapa vivo dos riscos climáticos
O coração da Natureza ON está nos dados, e eles contam uma história que começa em 1985. A plataforma usa o acervo histórico do MapBiomas, que monitora o uso e a cobertura da terra há quase quatro décadas. Com base nesses registros, a ferramenta identifica riscos de deslizamento, inundação, insegurança hídrica e mudanças no uso do solo.
Essas informações aparecem em diferentes escalas – do setor censitário à bacia hidrográfica – e são cruzadas com análises de machine learning e inteligência artificial. A partir daí, a plataforma propõe Soluções Baseadas na Natureza (SBN), que usam os próprios ecossistemas como aliados para resoluções adaptativas, como aumentar a cobertura verde nas áreas urbanas.
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A plataforma Natureza ON faz parte da estratégia de adaptação climática da Fundação Grupo Boticário até 2030, com foco em segurança hídrica e resiliência costeira e marinha. Segundo Nunes, o grande diferencial está em levar o conhecimento científico para todo o território brasileiro, uma vez que a plataforma traduzirá grandes volumes de dados em informações mais acessíveis à gestores, empresas e cidadãos.
Com os dados adaptados para uma linguagem mais simples, o acesso à plataforma também será mais democrático e aberto. Qualquer pessoa pode consultar a ferramenta, identificar os riscos de sua região e ver quais soluções naturais podem ajudar a reduzir os impactos. Um gestor público pode, por exemplo, descobrir quais municípios têm mais risco de inundação e direcionar recursos de prevenção. Uma empresa pode avaliar riscos antes de construir uma nova fábrica e um cidadão pode ver o grau de vulnerabilidade do seu bairro.
Tecnologia limpa e colaboração aberta
Nos bastidores, o que move a plataforma é uma combinação entre ciência e tecnologia verde. O Google Cloud, parceiro do projeto, fornece a infraestrutura digital – alimentada por 90% de energia renovável no Brasil – e ferramentas como o BigQuery e o Cloud Storage, que processam e armazenam volumes massivos de dados com alta velocidade e segurança.
O MapBiomas, por sua vez, amplia seu papel histórico de monitorar o território para incluir um novo eixo: o mapeamento de riscos climáticos, inexistente até então. O resultado é um retrato dinâmico e detalhado de como o clima afeta o país e de como se poderá reagir.
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A Natureza ON é pensada como um sistema vivo, que muda conforme o território. À medida que o desmatamento, os incêndios ou as obras de infraestrutura alteram o ambiente, os dados serão atualizados, revelando como os riscos evoluem.
A equipe da Fundação já planeja novas funcionalidades, como um chatbot baseado em IA para responder perguntas em linguagem natural, simulações interativas que mostram como as soluções reduzem riscos ao longo do tempo e a integração de ciência cidadã, permitindo que qualquer pessoa colabore com observações locais.
“Queremos que o cidadão comum tenha autonomia para entender o território em que vive e visualizar como intervenções baseadas na natureza podem reduzir riscos de forma prática”, afirma Nunes.
