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Oito em cada dez pessoas pobres estão diretamente expostas a riscos climáticos, revela ONU

Oito em cada dez pessoas pobres estão diretamente expostas a riscos climáticos, revela ONU

Das 887 milhões de pessoas pobres expostas, 651 milhões enfrentam dois ou mais riscos ao mesmo tempo

A crise do clima está remodelando a pobreza global. Um novo relatório divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pela Iniciativa Pobreza e Desenvolvimento Humano de Oxford (OPHI) da Universidade de Oxford, revelou que quase oito em cada dez pessoas vivendo em pobreza multidimensional – 887 milhões de um total de 1,1 bilhão no mundo – estão diretamente expostas a riscos climáticos, como calor extremo, inundações, secas ou poluição do ar.

“Nossa nova pesquisa mostra que, para enfrentar a pobreza global e criar um mundo mais estável para todos, precisamos confrontar os riscos climáticos que ameaçam quase 900 milhões de pessoas pobres”, afirmou Haoliang Xu, Administrador Interino do PNUD. “Quando os líderes mundiais se reunirem no Brasil para a conferência do clima, COP30, no próximo mês, suas promessas nacionais sobre o clima deverão revitalizar o progresso do desenvolvimento, hoje estagnado e que ameaça deixar as populações mais pobres para trás”.

Ao cruzar dados de riscos climáticos e de pobreza multidimensional, que abrange saúde, educação e padrões de vida, as conclusões revelam um mundo em que “a pobreza não é apenas um problema socioeconômico isolado, mas um fenômeno profundamente interligado às pressões e instabilidades planetárias”.

Outros resultados são que 309 milhões de pessoas pobres vivem em regiões expostas a três ou quatro riscos climáticos sobrepostos, enquanto sofrem de pobreza multidimensional aguda. Esses indivíduos enfrentam uma “carga tripla ou quádrupla”, geralmente com poucos recursos e acesso limitado a sistemas de proteção social, o que amplifica os efeitos negativos desses choques.

Individualmente, os riscos que mais afetam as pessoas pobres globalmente são altas temperaturas (608 milhões) e poluição do ar (577 milhões). Regiões propensas a inundações abrigam 465 milhões de pessoas pobres, enquanto 207 milhões vivem em áreas afetadas por secas.

“Esse relatório mostra onde a crise climática e a pobreza convergem de forma notável. Compreender onde o planeta está sob mais pressão e onde as pessoas enfrentam fardos adicionais decorrentes dos desafios climáticos é essencial para criar estratégias de desenvolvimento que se reforcem mutuamente e coloquem a humanidade no centro da ação climática”, salientou Sabina Alkire, diretora da Iniciativa Pobreza e Desenvolvimento Humano de Oxford e coautora do relatório.

Segundo o documento, o Sul da Ásia e a África Subsaariana são identificados como pontos críticos globais das dificuldades combinadas, englobando os mais elevados números de pessoas pobres que vivem em regiões afetadas por riscos climáticos – 380 milhões de 344 milhões respectivamente.

No Sul da Ásia, a exposição é quase universal: 99,1% das pessoas pobres da região são expostas a um ou mais choques climáticos (380 milhões de pessoas), e 91,6% (351 milhões) enfrentam dois ou mais, proporção muito superior à de qualquer outra região do mundo.

Em termos de faixas de renda, os países de renda média-baixa carregam o fardo mais pesado, tanto em números absolutos quanto proporcionais. Estima-se que cerca de 548 milhões de pessoas pobres vivendo nessas localidades estão expostas a pelo menos um risco climático, representando 61,8% de todas as pessoas pobres do mundo expostas a algum tipo de risco climático. Criticamente, mais de 470 milhões de pessoas pobres em países de renda média-baixa enfrentam dois ou mais riscos climáticos simultâneos.

“Os fardos identificados não são limitados ao presente. Espera-se que se intensifiquem no futuro”, apontou Pedro Conceição, diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD.

O relatório indica que, para confrontar os riscos, é necessário passar do reconhecimento para a ação, com ênfase em estratégias de redução de pobreza resilientes ao clima, fortalecimento das capacidades locais de adaptação e ampliação dos mecanismos internacionais de redistribuição e cooperação financeira.