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Entenda por que uma IA não pode ser seu psicanalista, nem mesmo uma boa ouvinte

Entenda por que uma IA não pode ser seu psicanalista, nem mesmo uma boa ouvinte

Você já desabafou com o ChatGPT depois de um dia cheio? Isso tem sido cada vez mais comum, principalmente porque as máquinas respondem com frases empáticas, sugerem soluções e até arrancam um sorriso. Mas, pode uma IA substituir um psicanalista ou ser uma boa ouvinte?

Segundo a professora Monah Winograd, da PUC-Rio, a resposta é não.

Em seu artigo publicado no The Conversation, a psicóloga explica que, embora os algoritmos possam simular diálogo e linguagem humana, eles não possuem consciência, desejo ou afeto, elementos fundamentais da prática psicanalítica.

A ilusão da cognição computacional

Winograd lembra que a IA não “pensa” nem “sente”, apenas executa instruções programadas. Os algoritmos operam sobre símbolos, manipulando dados conforme regras sintáticas, mas sem compreender o significado do que processam. É o que o filósofo John Searle chamou de “quarto chinês”: um sistema pode parecer compreender uma língua sem, de fato, entendê-la.

A autora alerta para o surgimento do que chama de “iPsicanalista”. Ou seja, a tentativa de transformar chatbots em substitutos de analistas humanos. Assim como o “iPaciente”, que reduz a experiência clínica a números e gráficos, o “iPsicanalista” transforma o sofrimento humano em dados quantificáveis.

No entanto, a psicanálise não se baseia em respostas automáticas, mas na escuta singular, na transferência e na interpretação simbólica. Uma IA pode repetir frases acolhedoras, mas não pode compreender o desejo inconsciente nem o sentido afetivo das palavras.

Por que a IA nunca será uma boa ouvinte

IA não tem a subjetividade necessária para ser psicanalista (Imagem: Kelly Sikkema/Unsplash)
IA não tem a subjetividade necessária para ser psicanalista (Imagem: Kelly Sikkema/Unsplash)

Ouvir é mais do que captar sons ou processar linguagem. É participar da experiência do outro, reconhecer o não dito e o silêncio. A IA não tem subjetividade, não se afeta e não interpreta, só reproduz padrões linguísticos a partir de bancos de dados.

Como a especialista faz a síntese, em uma única frase:

“A psicanálise existe no espaço entre palavras, no gesto simbólico, no afeto compartilhado. Ela não pode ser reduzida a um algoritmo”, disse.

Preocupação do Conselho Federal de Psicologia

O caso da IA considerada como psicanalista tem sido levado tão a sério que o Conselho Federal de Psicologia criou, em 2025, um grupo de trabalho dedicado a discutir o tema. Eles têm  preocupações éticas e de privacidade, já que dados sensíveis podem ser armazenados ou expostos indevidamente.

O conselho defende que apenas tecnologias desenvolvidas por profissionais habilitados, com base em métodos reconhecidos pela psicologia, possam ser usadas de forma responsável e segura.