Futebol indígena e sustentabilidade: uniformes do Gavião Kyikatejê são feitos com tecido de garrafa PET e energia solar no Pará

Empresa paraense de Bragança confecciona materiais esportivos a partir de tecidos feitos de garrafas PET e move sua produção com energia solar
A cerca de três horas de Belém — cidade que sediará a COP30 —, a Golkiper, fábrica paraense de materiais esportivos localizada em Bragança (PA), vem mostrando que é possível unir empreendedorismo amazônico e responsabilidade ambiental. A empresa confecciona camisas, shorts e agasalhos a partir de tecidos produzidos com fibras de garrafas PET recicladas.
O exemplo mais emblemático é o Gavião Kyikatejê, primeiro time indígena do futebol brasileiro, que atualmente disputa campeonatos com uniformes 100% em tecido de PET reciclado. “Todo o material do Gavião Kyikatejê […] é 100% garrafa PET”, destaca o fundador da empresa, Cinaldo Luís, que agora prepara uma nova linha de casacos sustentáveis para o clube.
Sustentabilidade
A Golkiper compra de fábricas que produzem as fibras a partir da garrafa PET coletada. O processo começa com empresas que separam tampas, prensam o plástico em fardos e enviam às indústrias, onde o material é triturado, dissolvido e transformado em fibra têxtil. Essas tecelagens produzem o tecido que a Golkiper usa para confeccionar suas peças.
De acordo com Cinaldo, um quilo de tecido consome cerca de 25 a 26 garrafas PET e rende em média cinco camisas, o que equivale a cinco garrafas por camisa. Com a produção atual, ele estima que a fábrica deixe de destinar ao lixo cerca de 320 mil garrafas por ano.
Energia solar e produção limpa
Além do tecido sustentável, a fábrica aposta na energia solar como pilar ambiental. Interligada à rede da Equatorial Energia, a unidade gera e comercializa o excedente de energia, mantendo a produção com 100% de fonte renovável durante boa parte do ano.
“A fábrica é altamente sustentável em relação à energia. A energia que a gente usa é energia solar”, afirma Cinaldo. Ele critica, porém, a falta de incentivos governamentais. “O governo não incentiva, pelo contrário, tenta taxar quem busca alternativas verdes”.
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Da Nike à Amazônia
A trajetória da Golkiper começou em 2014, quando Cinaldo participou de um projeto do SEBRAE para produzir material esportivo para a Nike, que à época desenvolvia camisas da seleção brasileira com tecido derivado de PET.
“A camisa da seleção brasileira é a base de garrafa PET. Quando vi, disse: é isso que eu quero. Eu quero poder deixar um legado”, lembra.
Hoje, a empresa produz de 7 a 20 mil peças por mês, dependendo do tipo de material, e vende para todo o país, com foco em times amadores e clubes regionais. No Pará, a Golkiper já confeccionou uniformes para Tuna Luso, Bragantino, São Raimundo e Caeté, além de clubes de outros estados, como ABC (RN) e CRB (AL).
Uma fábrica amazônica
Mais do que um negócio, a Golkiper virou símbolo de inovação amazônica e economia circular. Cinaldo, ex-goleiro amador, transformou o sonho de juventude em uma empresa que emprega 60 funcionários diretamente e aposta na sustentabilidade como valor de marca.
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Para ele, a COP30 em Belém representa uma chance de inspirar outras empresas. “Hoje chegou a COP30. A gente fica muito feliz que isso agora tá muito mais presente na mentalidade do público, é importante propagar um pouco mais sobre isso e outras empresas também poder aderir nesse processo”.