Proteger as abelhas é proteger a nós mesmos

As abelhas são trabalhadoras incansáveis que sustentam as plantações, nos alimentam e protegem a biodiversidade
Pequenas, porém indispensáveis para a preservação da vida no planeta. As abelhas são responsáveis pela maior parte da polinização dos vegetais que consumimos. Buscando contribuir à reflexão sobre a importância desses seres para a biodiversidade, a segurança alimentar e os meios de subsistência, no Dia Nacional da Abelha, celebrado em 3 de outubro, o CicloVivo compartilha o texto de Yurdi Yasmi, Diretor da Divisão de Produção e Proteção Vegetal da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
O texto foi escrito para o Dia Mundial das Abelhas, celebrado em 20 de maio. Mas a clara mensagem de que “proteger os polinizadores é proteger nosso futuro comum” não tem data de validade e cabe trazê-lo a quem ainda leu. Confira abaixo:
As abelhas falam conosco — não com som, mas por meio de sua presença, ausência e desaparecimento constante. Ao lado de borboletas, morcegos, besouros, alguns mamíferos e aves, essas trabalhadoras incansáveis sustentam as plantações e plantas selvagens que nos alimentam, protegem a biodiversidade e mantêm nossos sistemas agroalimentares resilientes. Quando elas prosperam, os ecossistemas florescem. Quando elas fracassam, nós também podemos fracassar.

Sem polinizadores, alimentos como maçãs, amêndoas, cacau e café se tornam mais difíceis de cultivar e mais caros de acessar. Seu declínio não ameaça apenas a natureza — prejudica nossos sistemas agroalimentares, desde a produtividade agrícola até a segurança alimentar e a nutrição.
Mudanças no uso da terra, perda de habitat, práticas agrícolas insustentáveis, pragas e doenças e espécies invasoras estão causando declínios alarmantes em suas populações. Neste Dia das Abelhas, a mensagem é simples, mas urgente: protejam os polinizadores e nós protegeremos nossos sistemas agroalimentares.
Polinização e segurança alimentar
Os polinizadores são essenciais para a segurança alimentar e nutricional global, permitindo a reprodução de 87 das 115 principais culturas alimentares do mundo e sustentando quase 90% das plantas silvestres com flores. Seu papel abrange desde a manutenção de dietas nutritivas até a garantia da renda rural, com 1,4 bilhão de pessoas, especialmente pequenos agricultores na África, Ásia e América Latina, dependendo da polinização para sua subsistência. O declínio das populações de polinizadores ameaça a disponibilidade de alimentos, compromete a nutrição e enfraquece as economias locais, aumentando o risco de insegurança alimentar e doenças relacionadas à alimentação em regiões vulneráveis.

As abelhas e outros polinizadores são aliados essenciais na construção de sistemas agroalimentares resilientes ao clima, apoiando fazendas diversificadas, mais adaptáveis a choques e capazes de produzir culturas de maior qualidade com menos insumos externos. A FAO lidera esforços globais para proteger e aproveitar os polinizadores por meio da Iniciativa Internacional para a Conservação e Uso Sustentável de Polinizadores e de uma série de projetos em todos os níveis. Sua plataforma Ação Global sobre Serviços de Polinização serve como um recurso fundamental para apicultores, educadores e formuladores de políticas, oferecendo ferramentas práticas e ciência atualizada.
Apicultura como meio de subsistência
Em toda a África, América Latina, Europa e Oriente Próximo, os países estão promovendo a apicultura sustentável e a proteção de polinizadores como ferramentas práticas para a biodiversidade, os meios de subsistência e a resiliência climática. Na Tanzânia, quase 35.000 hectares de floresta de Miombo estão sendo restaurados, juntamente com investimentos em cadeias de valor apícolas. Ruanda treinou mais de 9.000 apicultores, 30% dos quais são mulheres e jovens, enquanto a Etiópia está usando a apicultura para apoiar comunidades afetadas por conflitos na região de Afar. Na América Latina, uma plataforma regional está fortalecendo a colaboração transfronteiriça e o intercâmbio de conhecimento sobre polinizadores, unindo esforços no Brasil, Chile, Costa Rica, México e Peru. Das reformas de manejo florestal do Azerbaijão à revitalização de oásis no Marrocos e ao treinamento comunitário no Iraque, os países estão incorporando práticas favoráveis às abelhas em estratégias de desenvolvimento florestal, agrícola e rural.

Globalmente, a FAO está ajudando governos a alinhar a legislação ambiental com a proteção de polinizadores – desenvolvendo diretrizes políticas para legisladores na África, Caribe e Pacífico. Por meio da iniciativa “Um País, Um Produto Prioritário”, países como Benim, Chile, Ruanda e Vietnã estão promovendo o mel como uma commodity climática inteligente. E, por meio do Fundo Florestal e Agrícola, pequenos produtores em dez países estão adquirindo as habilidades necessárias para adotar uma agricultura favorável aos polinizadores. Esses esforços estão remodelando a forma como cultivamos, governamos e comercializamos — centralizando as abelhas não apenas como indicadores de saúde ecológica, mas como motores da transformação rural.
A agricultura favorável aos polinizadores funciona. Ela fortalece ecossistemas, apoia pequenos produtores e ajuda comunidades a resistir a choques climáticos. Essas práticas são baseadas na ciência e comprovadas em campo (de fileiras de pomares a vales de oásis) e nos mostram um caminho prático e inclusivo para um sistema alimentar duradouro.
Como podemos ajudar as abelhas
Todos nós temos um papel a desempenhar. Ajude plantando flores favoráveis aos polinizadores, especialmente espécies nativas que oferecem o melhor suporte para os polinizadores locais. Evite o uso de produtos químicos nocivos, especialmente durante as épocas de floração, quando os polinizadores estão mais ativos, e apoie os apicultores locais, comprando mel de fontes sustentáveis. Incentive escolas e municípios a criar jardins e corredores de polinizadores, que proporcionem habitats seguros e nutritivos para essas criaturas essenciais.

Embora pequenos em tamanho, os polinizadores têm um impacto descomunal. São heróis do clima, defensores da biodiversidade e arquitetos silenciosos dos nossos sistemas agroalimentares. Protegê-los significa salvaguardar as espécies, mas também garantir a resiliência dos nossos sistemas alimentares e comunidades.