Primeiras impressões da Climate Week em Nova York: o potencial do crédito de carbono azul e o papel do Brasil

Chegar a Nova York para a Climate Week é testemunhar de perto como a agenda da descarbonização global está evoluindo. Entre tantos debates, um tema em especial me chamou atenção já nos primeiros dias: a força crescente do crédito de carbono azul como peça estratégica para a economia de baixo carbono.
Nos últimos anos, os créditos de carbono já vinham ganhando protagonismo como ferramenta para a transição climática. Agora, o segmento azul, vinculado à preservação e regeneração de manguezais, pradarias marinhas e ecossistemas costeiros, começa a ocupar o centro do palco. Esses ambientes são alguns dos sumidouros de carbono mais eficientes do planeta, capazes de estocar volumes significativos, muitas vezes em taxas superiores às das florestas tropicais. Proteger e regenerar esses ecossistemas é, portanto, uma das estratégias mais inteligentes e de maior impacto contra as mudanças climáticas.
Durante o Blue NDC Challenge, realizado dentro da programação da Climate Week, líderes globais reforçaram essa mobilização. John Kerry foi categórico ao defender a integração dos oceanos e manguezais às estratégias climáticas nacionais. E Ana Toni, uma das vozes mais ativas da agenda brasileira, destacou a posição privilegiada do país nesse movimento.
Não por acaso, iniciativas como o Blue Catalytic Fund, a Ocean and Climate Platform e o Mangrove Breakthrough vêm criando métricas e estruturas para ampliar a valorização do carbono azul. O Brasil já sinalizou seu compromisso: em junho, durante a 3ª Conferência do Oceano da ONU, o governo aderiu ao Mangrove Breakthrough, marcando presença na coalizão global.
O Brasil como protagonista natural
Com uma das maiores linhas costeiras do planeta e o maior manguezal contínuo do mundo, o Brasil tem todos os atributos para ser o líder global do carbono azul. O governo brasileiro já começa a se posicionar nas mesas de negociação e a inserir o tema nas estratégias oficiais.
O setor privado, no entanto, ainda está tímido. Poucas empresas têm se aventurado a estruturar projetos, embora alguns movimentos iniciais, como os da Ocean Pact, indiquem que esse cenário pode mudar. É fundamental que investidores, companhias e instituições financeiras brasileiras percebam que o carbono azul não é apenas uma pauta ambiental, mas também uma plataforma de inovação, impacto social e liderança econômica global.
A janela de oportunidade
O mercado de crédito de carbono azul ainda é incipiente, mas o momento pede ambição. As primeiras impressões aqui em Nova York deixam claro: a agenda está ganhando espaço rapidamente, e quem se mover primeiro terá vantagem competitiva.
Para o Brasil, trata-se de mais uma oportunidade histórica de unir ativos naturais únicos – nossos manguezais e costas – a uma agenda global que valoriza soluções baseadas na natureza. Mais do que proteger ecossistemas, é a chance de transformar biodiversidade em capital climático, gerar receitas para comunidades costeiras e consolidar o país como protagonista de uma nova economia azul.
Pedro Plastino – Especialista em negócios climáticos e crédito de carbono, cofundador da Future Carbon e um dos nomes de referência no setor. Graduado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas, construiu carreira nos mercados de carbono e financeiro, tendo liderado a área de créditos de carbono e negociações estratégicas na Future Climate Group, além de atuar em frentes como Equity, DCM e Asset Management. Foi Head de M&A na Potenza Capital, boutique afiliada ao BTG Pactual, e recentemente participou do Leadership Development Program da Harvard Business School, onde foi o único executivo de clima convidado mundialmente.
