Países planejam produzir mais que o dobro dos combustíveis fósseis permitidos pela meta de 1,5°C

Brasil é caso emblemático: promete reduzir emissões em 67% até 2035 enquanto planeja aumentar a produção de petróleo em 56% até 2030.
Exatamente há 10 anos, países de todo o mundo se comprometeram no Acordo de Paris a atuar para limitar o aumento da temperatura média do planeta em 1,5°C sobre os níveis pré-industriais. Para isso, é fundamental eliminar os combustíveis fósseis, cuja queima é a principal responsável pelas mudanças climáticas. No entanto, o que se vê são nações explorando cada vez mais em petróleo, gás fóssil e carvão mineral. Inclusive o Brasil, sede da COP30 e que ambiciona ser um dos líderes da agenda climática global.
O relatório “The Production Gap Report 2025” mostra que os países estão planejando níveis mais altos de produção de combustíveis fósseis para as próximas décadas do que o produzido em 2023, a última vez que dados comparáveis foram compilados, explica o Guardian. Se toda a nova extração planejada ocorrer, o mundo mais que dobrará a quantidade de combustíveis fósseis em 2030 do que seria compatível com a meta de 1,5°C, informam Folha, Capital Reset, Inside Climate News, Down to Earth e Business Green.
“A produção de combustíveis fósseis deveria ter atingido o pico e começado a cair. Cada ano de atraso [em relação ao pico e à queda rápida necessária] aumenta significativamente a pressão [sobre o clima]”, afirmou Emily Ghosh, diretora de programa do Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI, sigla em Inglês). O SEI é um dos produtores do relatório, juntamente com o Climate Analytics e o Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD, sigla em Inglês).
O levantamento analisou 20 grandes produtores de combustíveis fósseis ao redor do mundo. O grupo inclui Estados Unidos, Rússia, Arábia Saudita, China, Canadá, Brasil, Austrália e Reino Unido, que representam cerca de 80% da produção global de combustíveis fósseis.
Apenas Reino Unido, Austrália e Noruega planejam reduzir a produção de petróleo e gás até 2030, em comparação com os níveis de 2023. Onze das 20 nações pesquisadas aumentaram seus planos de produção de combustíveis fósseis desde a última análise, em 2023.
O Brasil, por exemplo, é emblemático. Enquanto promete reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em até 67% até 2035, conforme prevê a meta climática apresentada pelo governo federal à ONU, o governo projeta um aumento de 56% na produção de petróleo até 2030, e de 118% na de gás até 2034, segundo Estadão e UOL.
Uma das frentes brasileiras de exploração de combustíveis fósseis é a Amazônia, o que agrava o cenário. Há uma expectativa de que a Petrobras obtenha licença do IBAMA para perfurar um poço no bloco FZA-M-59, na bacia da Foz do Amazonas. Uma autorização que ameaça “abrir uma porteira” para outros projetos exploratórios de combustíveis fósseis não somente na foz, mas em outras bacias da Margem Equatorial, região de alta sensibilidade ambiental que se estende do litoral do Amapá ao Rio Grande do Norte.