Tomar café faz mal ao coração? Os mitos e verdades que ligam a bebida às doenças cardiovasculares

Durante anos, acreditou-se que o grão poderia causar arritmias ou hipertensão; novas pesquisas, nova entanto, mostram o oposto
Para muitas pessoas, o dia só começa quando servem a primeira xícara de café. O aroma, o sabor e a energia que ele proporciona fazem parte da rotina de muita gente. No entanto, há décadas, essa bebida é cercada por um mito recorrente: o de que seu consumo pode ser prejudicial ao coração.
Atualmente, a ciência começa a contar uma história diferente, e especialistas garantem que, longe de ser prejudicial, o café pode se tornar um aliado para a saúde cardiovascular, desde que consumido com moderação.
Do mito ao suporte científico
Na Colômbia, por exemplo, mais de 300 xícaras de café são consumidas por pessoa anualmente. Essa pausa diária, que parecia inofensiva, mas suspeita aos olhos da medicina tradicional, agora está sendo reavaliada com novas evidências.
“Durante décadas, a recomendação padrão era limitar o consumo de café devido a uma suposta associação com arritmias ou hipertensão. Hoje, evidências científicas de alta qualidade nos mostram uma realidade diferente”, explica Giovanni de La Cruz, chefe do Serviço de Medicina Cardiovascular da Clínica del Country e da Clínica La Colina.
“O consumo regular e moderado de café não só é seguro, como também está consistentemente associado a uma menor incidência de eventos cardiovasculares graves. Estamos passando do mito para a medicina baseada em evidências.”
Pesquisas publicadas em importantes periódicos científicos mostram que três a cinco xícaras de café por dia podem estar associadas à redução do risco de doenças coronárias, ataques cardíacos e derrames. Uma redução na mortalidade por todas as causas também foi documentada entre aqueles que o consomem, em comparação com aqueles que o evitam.
Os benefícios do café não se limitam à cafeína, como muitas vezes se pensa. Esta bebida contém mais de mil compostos bioativos, incluindo antioxidantes e polifenóis como o ácido clorogênico, com propriedades anti-inflamatórias e efeitos positivos na saúde dos vasos sanguíneos.
Esses componentes ajudam a melhorar a função endotelial — ou seja, a capacidade das artérias de relaxar e se contrair adequadamente — um fator essencial na prevenção da hipertensão e da doença aterosclerótica.
“O café é, na verdade, um coquetel natural de moléculas protetoras que, juntas, geram um efeito benéfico no sistema cardiovascular”, ressaltam os especialistas.
Entre as descobertas mais relevantes estão:
- Menor risco de doenças cardiovasculares: estudos em larga escala sugerem que o consumo moderado está associado a uma menor probabilidade de desenvolver doenças cardíacas.
- Proteção contra derrame: algumas pesquisas sugerem que aqueles que bebem café regularmente têm menor risco de derrame.
- Prevenção de insuficiência cardíaca: evidências recentes associam o café a uma menor probabilidade de desenvolver insuficiência cardíaca a longo prazo.
A hora do café importa
Uma descoberta curiosa e reveladora vem de um estudo publicado no European Heart Journal, que analisou mais de 40 mil adultos. Os resultados mostram que aqueles que limitam o consumo de café às primeiras horas da manhã têm um risco até 31% menor de morte por doenças cardiovasculares e um risco 16% menor de mortalidade por qualquer causa.
A explicação está no relógio biológico. Tomar café à tarde ou à noite pode interferir na produção de melatonina e interromper o sono, o que afeta fatores como pressão arterial e inflamação. Por outro lado, o café da manhã atua em harmonia com o ciclo natural do corpo, potencializando seus efeitos benéficos.
Especialistas alertam, porém, que isso não é uma “licença para beber café sem moderação”. Os benefícios observados se concentram no consumo moderado — no máximo cinco xícaras por dia — e em preparações simples, como café preto ou com pouca adição de leite e açúcar.
“A mensagem principal é moderação e preparação. Os benefícios são observados principalmente com quantidades excessivas de café não processado, não com bebidas ultraprocessadas carregadas de açúcar e gordura”, enfatiza De La Cruz.
O médico também lembra pessoas com hipertensão não controlada, arritmias complexas ou alta sensibilidade à cafeína a consultar um médico antes de incluir café em sua dieta diária.
Concluindo, o café parece ter conquistado um lugar na lista de aliados do coração. Embora a ciência continue a explorar as nuances dessa relação, hoje se pode afirmar que desfrutar de uma xícara por dia não é apenas um prazer cultural, mas também um hábito com potencial proteção para a saúde cardiovascular, desde que acompanhado de um estilo de vida equilibrado.