Pintar sua casa de branco pode ajudar a reduzir calor interno

Estratégias ancestrais de resfriamento ganham urgência num mundo em aquecimento e oferecem soluções acessíveis para temperaturas extremas
Em meio a ondas de calor cada vez mais intensas e frequentes, soluções ancestrais de arquitetura reemergem como respostas eficazes e acessíveis. Técnicas mediterrâneas, testadas pelo tempo, mostram-se cada vez mais relevantes para climas temperados, como o do Reino Unido, que enfrenta verões progressivamente mais tórridos. O simples ato de pintar telhados e paredes de branco surge como uma estratégia poderosa, capaz de reduzir drasticamente a temperatura interna dos edifícios.
Estudos demonstram que superfícies brancas, ao refletirem a luz solar em vez de absorvê-la, podem baixar a temperatura interna de uma construção em mais de 1°C, podendo atingir reduções superiores a 4°C em alguns casos. O efeito positivo transcende as paredes individuais, contribuindo para amenizar o fenômeno conhecido como ilha de calor urbana, reduzindo a temperatura do entorno externo em até 2°C. Esse fenômeno ocorre quando superfícies construídas pelo homem absorvem calor, tornando as cidades significativamente mais quentes que as áreas rurais vizinhas.
A eficácia máxima dessa técnica, no entanto, é alcançada quando integrada a outras estratégias passivas de baixo consumo energético. O uso de persianas, venezianas ou toldos externos para bloquear a entrada do sol durante os períodos mais quentes do dia é fundamental. Manter as janelas fechadas nesse intervalo potencializa o efeito do telhado reflexivo. Para que esse conforto se mantenha, é vantajoso que a construção possua paredes e pisos com alta massa térmica, materiais que armazenam o frescor do ar noturno e libertam-no gradualmente durante o dia.
A ventilação noturna assume um papel vital nesse equilíbrio térmico, desde que a temperatura externa efetivamente baixe após o pôr do sol. Em metrópoles como Londres ou Manchester, onde o efeito de ilha de calor é intenso, a combinação de telhados refletores e a minimização do calor residual gerado por unidades de ar-condicionado é particularmente benéfica para o ambiente urbano.
Um questionamento comum gira em torno do desempenho dessas estratégias durante o inverno. A preocupação de que um telhado branco possa tornar uma casa mais fria na estação é considerada marginal, especialmente se a cobertura for bem isolada. O aquecimento de um imóvel depende principalmente da capacidade de sua envoltória reter o calor interno, e não de evitar a entrada de calor externo. Em climas do norte, a luz solar invernal é fraca e frequentemente bloqueada por nuvens. Caso haja necessidade de aproveitar a energia solar para aquecimento, a alternativa mais eficiente é permitir a entrada de luz através de janelas com vidros duplos, em vez de confiar em materiais de construção escuros.
Do ponto de vista prático, repintar uma casa de branco não constitui uma despesa excessiva, especialmente quando comparada aos custos gerais de manutenção e aquecimento de um lar. Em telhados planos ou de baixa inclinação, revestimentos refletores podem ser aplicados a um custo relativamente baixo. Para telhados com inclinação acentuada, a aplicação direta de tinta é inviável, pois se desgastaria rapidamente e necessitaria de repintura constante. Nesses casos, a solução ideal é substituir telhas escuras de ardósia ou betume por opções mais reflexivas, como telhas de barro claras, que reduzem a temperatura superficial. Esta é uma opção mais demorada e dispendiosa.
A mudança climática é uma realidade inegável. Diante desse cenário, as soluções mais eficazes nem sempre são as de alta tecnologia ou as mais caras. Uma demão de tinta branca, somada a outras estratégias de design simples, pode manter as residências mais frescas, com custos operacionais reduzidos e melhor preparadas para enfrentar as transformações do clima e os preços elevados de energia projetados para as próximas décadas.