O que é o Mar da Tranquilidade na Lua — e onde ele fica? Veja imagens

Se você olhar para cima agora, talvez o veja. Entenda quantas regiões tem a Lua, e como elas estão distribuídas por lá
Daqui da Terra pode até não parecer, mas a Lua tem várias divisões. Você provavelmente já ouviu falar no “lado escuro”, por exemplo, que é o lado que fica invisível para nós, terráqueos. Como o tempo em que a Lua gira em torno do próprio eixo, cerca de 27 dias, é o mesmo que ela leva para dar uma volta ao redor da Terra, ela está sempre com a mesma face voltada para nós. Mas não estamos falando exatamente disso, leitor.
A superfície da Lua é dividida em dois tipos principais de regiões, que conseguimos observar a olho nu ou em telescópios simples: os mares (no latim, mare, com o plural maria) e as terras altas, cheias de crateras. “Mare” vem do latim e literalmente significa “mar”. Os mares são as áreas relativamente escuras e lisas, que para nós parecem grandes manchas escuras na superfície lunar. Eles ocupam cerca de 16% da superfície lunar, concentrando-se mais no lado visível.
Já as terras altas são as áreas mais claras e brilhantes, que refletem mais a luz do Sol. Elas estão repletas de crateras de impacto de todos os tamanhos, desde pequenas até gigantescas (como a Bacia do Polo Sul-Aitken, uma das maiores crateras de impacto do Sistema Solar). Essas crateras têm cerca de 4,5 bilhões de anos e são um registro da intensa fase de bombardeio de meteoros no início da história do Sistema Solar.
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Os mares têm nomes curiosos: Mare Tranquillitatis (Mar da Tranquilidade), Mare Serenitatis (Mar da Serenidade), Mare Imbrium (Mar das Chuvas), Mare Nubium (Mar das Nuvens), Mare Crisium (Mar das Crises) e outros. Mas de onde vêm esses nomes?
O astrônomo neerlandês Michael van Lagren foi o primeiro a dar nomes às regiões escuras da Lua, e foi ele quem teve a ideia de chamá-las de maria. Seu mapa da Lua, de 1647, foi o primeiro a ter nomes para as diferentes áreas do satélite.
Em 1651, o astrônomo jesuíta Giovanni Battista Riccioli publicou um grande atlas astronômico chamado Almagestum Novum. Ele e seu colaborador, Francesco Grimaldi, inovaram ao dividir a Lua em oito zonas, um sistema que facilitou o entendimento. Em seguida, Riccioli nomeou os mares e crateras conforme achou conveniente.
É a partir desse atlas que a maioria dos nomes usados hoje para os mares e crateras foram criados. Dos 210 nomes que Riccioli deu, apenas 23 foram abandonados ao longo do tempo — os outros todos sobreviveram. Veja no esquema abaixo.
Os 11 mares e 1 oceano nomeados por Riccioli:
- Mare Imbrium (Mar das Chuvas)
- Mare Serenitatis (Mar da Serenidade)
- Mare Tranquillitatis (Mar da Tranquilidade)
- Mare Crisium (Mar das Crises)
- Mare Fecunditatis (Mar da Fertilidade)
- Mare Nectaris (Mar do Néctar)
- Mare Vaporum (Mar dos Vapores)
- Mare Nubium (Mar das Nuvens)
- Mare Humorum (Mar da Umidade)
- Oceanus Procellarum (Oceano das Tempestades)
- Mare Frigoris (Mar do Frio)
- Mare Australe (Mar Austral – parcialmente visível da Terra)
E os 5 adicionados depois por outros astrônomos:
- Mare Moscoviense (Mar de Moscóvia)
- Mare Ingenii (Mar da Inteligência)
- Mare Marginis (Mar da Margem)
- Mare Smythii (Mar de Smyth)
- Mare Orientale (Mar Oriental)
Riccioli nomeou os mares com base na ideia folclórica de que a Lua crescente significava bom tempo e a Lua minguante indicava mau tempo. Assim, os mares visíveis no quarto crescente incluem os Mares da Serenidade, da Tranquilidade, da Fertilidade e do Néctar. No quarto minguante, por outro lado, vemos o Mar das Chuvas, o Mar das Nuvens, o Mar da Umidade e o Oceano das Tempestades.
“Um mar que parece não se encaixar nesse padrão é o Mar das Crises, que fica próximo aos Mares da Tranquilidade e da Fertilidade. No entanto, a palavra grega krisis, incorporada ao latim e depois ao inglês como ‘crise’, originalmente significava um ato de separar ou distinguir. Isso pode explicar o nome Mare Crisium, já que esse é o primeiro mar revelado à medida que cada Lua Nova se torna crescente”, conta o astrônomo James Wooten.
As crateras também têm nomes curiosos, em homenagens a grandes figuras históricas (Platão, Pitágoras, Aristóteles, Arquimedes), a nomes importantes do Império Romano (Júlio César, Hiparco) e a personagens mitológicos (Hércules, Atlas, Endimião).
Ao longo dos anos, o mapa de Riccioli foi ganhando adições de outros astrônomos, que foram batizando outras crateras — o alemão Johann Schröter, por exemplo, incluiu 70 nomes, como o de Isaac Newton. Johann Mädler e Wilhelm Beer acrescentaram mais de 130 nomes em 1836. Todos esses nomes, junto com a regra de que crateras recém-descobertas fossem nomeadas em homenagem a cientistas famosos, tornaram-se oficiais quando a União Astronômica Internacional (IAU) publicou sua lista em 1935.
Mas o grande momento desses mares aconteceu em julho de 1969, quando o homem pisou na Lua pela primeira vez após a chegada da missão Apollo 11. Os astronautas Buzz Aldrin e Neil Armstrong pousaram o módulo Eagle na parte sudoeste do Mar da Tranquilidade e nomearam o ponto exato do pouso como Base da Tranquilidade. “Houston, Base da Tranquilidade aqui. A Eagle pousou”, disse Armstrong, ao falar com a Terra.