Ozempic: Fiocruz vai desenvolver versão própria da caneta emagrecedora e pode abrir caminho para incorporação no SUS

A fundação anunciou um acordo com a farmacêutica EMS para a fabricação de versões próprias da liraglutida, princípio ativo do Saxenda, e da semaglutida, ingrediente do Ozempic e do Wegovy
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), anunciou um acordo com a farmacêutica EMS para a fabricação de versões próprias da liraglutida, princípio ativo do Saxenda, e da semaglutida, ingrediente do Ozempic e do Wegovy. Os fármacos, indicados para tratar diabetes tipo 2 e obesidade, foram desenvolvidos pelo laboratório dinamarquês Novo Nordisk. No entanto, a patente da liraglutida já chegou ao fim, e a da semaglutida termina no ano que vem.
Os acordos assinados estabelecem a transferência da tecnologia usada para a síntese do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) e do medicamento final dos remédios para Farmanguinhos pela EMS. Até que toda a tecnologia de produção seja transferida para o Complexo Tecnológico de Medicamentos de Farmanguinhos, no Rio de Janeiro, a produção será realizada na fábrica da EMS em Hortolândia, São Paulo.
Em nota, a diretora de Farmanguinhos, Silvia Santos, diz que “a liraglutida e a semaglutida inauguram a estratégia da Fiocruz de se preparar também para a produção de medicamentos injetáveis, com a possibilidade de incorporação de uma nova forma farmacêutica”, e que o acordo “é mais uma ação para fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde”.
A parceria foi anunciada durante a terceira edição do Fórum Saúde, realizado em parceria entre o think tank, Esfera Brasil e a EMS. O evento aconteceu em Brasília nesta semana. Além de Silvia, a vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Priscila Ferraz, o presidente da EMS, Carlos Sanchez, e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, estiveram presentes.
Assim como em outras ocasiões, Padilha reforçou que, se comprovado um custo-benefício, as canetas emagrecedoras, como ficaram conhecidos os medicamentos, poderão ser incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS). A produção numa instituição pública, como a Fiocruz, facilita o processo por viabilizar custos menores para o governo. Para isso, porém, é preciso que o medicamento passe antes por análise na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec).
Em publicação no Instagram após o evento, o ministro descreveu a parceria como “um grande acordo” e anunciou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também vai fazer um chamado público para que “outras empresa que tenham produtos como esses possam correr para fazer registros”. O objetivo é acelerar a aprovação de novas canetas e “termos mais concorrência e produção nacional no país”.
A liraglutida e a semaglutida fazem parte da classe de medicamentos chamada de análogos de GLP-1, que simulam o hormônio GLP-1 no corpo humano. No pâncreas, essa interação estimula a produção de insulina, por isso o uso para diabetes. No estômago e no cérebro, os remédios reduzem a velocidade da digestão e ativam a sensação de saciedade, levando a uma menor ingestão de comida e à consequente perda de peso.
A liraglutida, presente no Saxenda, para obesidade, e no Victoza, para diabetes, foram os primeiros aprovados no Brasil. Em relação ao emagrecimento, o remédio foi considerado uma revolução ao levar a uma redução de, em média, 8% no número da balança após 56 semanas nos estudos. Fármacos anteriores não tinham uma eficácia tão relevante e causavam muitos efeitos colaterais.
Alguns anos depois, a Anvisa aprovou a semaglutida, do Wegovy, para obesidade, e do Ozempic, para diabetes. A molécula também foi desenvolvida pela Novo Nordisk, mas levou a uma perda de peso de peso significativamente maior (17,4% após 68 semanas) e demanda apenas uma injeção semanal, contra a diária no caso da liraglutida.
Em março deste ano, a patente da liraglutida chegou ao fim no Brasil, abrindo o caminho para que outras farmacêuticas começassem a vender versões genéricas e similares do Saxenda. É o caso do Olire, a primeira caneta emagrecedora nacional, lançada nesta semana no mercado brasileiro pela EMS.
A partir de março do ano que vem, porém, a patente da semaglutida também chegará ao fim. Por isso, laboratórios como a EMS, e agora a Fiocruz, já se movimentam para trazer versões genéricas e similares do Wegovy e Ozempic ao país. A Novo Nordisk tenta estender a patente na Justiça, mas perdeu na primeira e na segunda instância. O caso está agora no Superior Tribunal de Justiça (STJ).