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Animais dispersores de sementes têm papel crucial na regeneração das florestas, ressalta novo estudo do MIT

Animais dispersores de sementes têm papel crucial na regeneração das florestas, ressalta novo estudo do MIT

Pesquisadores mostram que a perda de biodiversidade reduz significativamente a capacidade das florestas de sequestrar gases do efeito estufa. Redução chega a 57% do potencial de acumulação local de carbono.

O que um animal comendo fruta tem a ver com o combate às mudanças climáticas? Muita coisa, mostra um novo estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), dos Estados Unidos, e publicado no periódico científico PNAS. A equipe demonstrou que espécies como macacos, aves e morcegos, ao dispersarem sementes de alimentos que consumiram, exercem um papel decisivo na regeneração das florestas tropicais e, consequentemente, na capacidade dessas áreas de absorver carbono da atmosfera.

“Os resultados ressaltam a importância dos animais na manutenção de florestas tropicais saudáveis e ricas em carbono”, disse o principal autor, Evan Fricke, pesquisador do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental do MIT, em comunicado. “Quando os animais dispersores de sementes diminuem, corremos o risco de enfraquecer o poder de mitigação climática das florestas tropicais.”

Macaco comendo uma fruta em Uganda, na África — Foto: Unsplash/ Caleb Ellis
Macaco comendo uma fruta em Uganda, na África — Foto: Unsplash/ Caleb Ellis

Fricke e seus colegas afirmaram que suas descobertas são a evidência mais clara até agora de que os animais dispersores de sementes desempenham um papel importante na capacidade das florestas de absorver carbono, e ressaltam a necessidade de abordar a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas como partes conectadas de um ecossistema delicado, em vez de problemas separados, isoladamente.

“As mudanças climáticas ameaçam a biodiversidade, e agora este estudo mostra como as perdas de biodiversidade podem agravar as mudanças climáticas”, apontou o pesquisador.

“Compreender essa via de mão dupla nos ajuda a entender as conexões entre esses desafios e como podemos enfrentá-los. São desafios que precisamos enfrentar em conjunto, e a contribuição dos animais para o carbono das florestas tropicais demonstra que há vantagens mútuas quando se apoia a biodiversidade e se combate as mudanças climáticas simultaneamente.”

Combinação de dados

Para esse trabalho, a equipe de pesquisa combinou dados de milhares de estudos distintos e usou novas ferramentas para quantificar processos ecológicos díspares, porém interconectados. Após analisar dados de mais de 17.000 parcelas de vegetação, os envolvidos decidiram se concentrar em regiões tropicais, verificando dados sobre onde vivem os animais dispersores de sementes, quantas sementes cada um dispersa e como eles afetam a germinação, explica o site especializado Phys.

Eles, então, incorporaram dados que mostram como a atividade humana impacta a presença e a movimentação de diferentes animais dispersores de sementes. Descobriram, por exemplo, que eles se movimentam menos quando consomem sementes em áreas com maior presença humana.

Combinando todos esses dados, os pesquisadores criaram um índice de perturbação da dispersão de sementes que revelou uma ligação entre atividades humanas e declínios na dispersão de sementes por animais. Em seguida, analisaram a relação entre esse índice e os registros de acumulação de carbono em florestas tropicais em regeneração natural ao longo do tempo, controlando fatores como condições de seca, prevalência de incêndios e presença de gado pastando.

“Foi uma tarefa enorme reunir dados de milhares de estudos de campo em um mapa da perturbação da dispersão de sementes”, comentou Fricke. “Mas isso nos permite ir além de apenas perguntar quais animais existem, para efetivamente quantificar os papéis ecológicos que esses animais desempenham e entender como as pressões humanas os afetam.”

Morcego de aproximando de uma flor de bananeira — Foto: Unsplash/Birger Strahl
Morcego de aproximando de uma flor de bananeira — Foto: Unsplash/Birger Strahl

Quantificação do carbono perdido

Em florestas identificadas como potenciais locais de recrescimento, os cientistas descobriram que o declínio na dispersão de sementes estava ligado a reduções na absorção de carbono a cada ano, com média de 1,8 toneladas métricas por hectare, o que equivale a uma redução no recrescimento de 57% no potencial de acumulação local de carbono.

Eles disseram que os resultados mostram que os projetos de regeneração natural terão mais impacto em paisagens onde os animais dispersores foram menos afetados, incluindo áreas que foram desmatadas recentemente, estão perto de florestas de alta integridade ou têm maior cobertura de árvores.

“Na discussão sobre plantar árvores versus permitir que elas cresçam naturalmente, a regeneração é basicamente gratuita, enquanto plantar árvores custa dinheiro e também resulta em florestas menos diversas”, observou César Terrer, professor associado no MIT.

“Com esses resultados, agora podemos entender onde a regeneração natural pode ocorrer de forma eficaz, porque há animais plantando as sementes gratuitamente, e também podemos identificar áreas onde a regeneração natural não ocorrerá e, portanto, plantar árvores ativamente é necessário.”

Para apoiar os animais dispersores de sementes, as recomendações da equipe incluem intervenções que protejam ou melhorem seus habitats e reduzam as pressões sobre as espécies, desde corredores de vida selvagem até restrições ao comércio de animais selvagens. Além disso, indicam a reintrodução de espécies dispersoras de sementes onde elas foram perdidas ou plantando certas árvores que atraem esses animais.