Você deve comer as ‘linhas brancas’ presentes na tangerina? Especialistas explicam

Embora seja frequentemente descartada, a camada branca entre a casca e a polpa das frutas cítricas é uma fonte natural de fibras e antioxidantes
O mais nutritivo nem sempre é o mais tentador, e às vezes é descartado sem pensar duas vezes. É o caso do albedo: a camada interna branca encontrada entre a casca e a polpa de todas as frutas cítricas, como laranjas, tangerinas, limões, limas e toranjas.
Embora a grande maioria das pessoas opte por separar os fios brancos que recobrem os gomos das frutas que os contêm, a ciência diz que pode ser bom começar a incorporá-los à dieta devido aos benefícios que eles têm para a saúde digestiva.
— Culturalmente, o albedo é frequentemente desprezado devido ao seu sabor amargo e textura fibrosa e seca , que contrasta fortemente com a doçura e o suco esperados da polpa de frutas cítricas. Isso também se deve à falta de conhecimento sobre seu perfil nutricional — explica a nutricionista Milagros Sympson
A espessura do albedo varia dependendo da espécie e variedade da fruta cítrica. Em toranjas, por exemplo, tende a ser muito mais proeminente do que em tangerinas.
— Ao contrário da polpa — que concentra principalmente água, açúcares e ácidos orgânicos — o albedo contém uma alta proporção de fibras alimentares e compostos bioativos benéficos para o corpo — acrescenta Sol Candotti, especialista em nutrição.
Benefícios
Entre os principais nutrientes do albedo, os especialistas destacam as fibras solúveis (especialmente a pectina), os flavonoides (naringenina e hesperidina), a vitamina C , os carotenoides, os polifenóis e os compostos fenólicos antioxidantes e, em menor quantidade, os trepenos e os minerais como o cálcio, o potássio e o magnésio.
— Vários estudos mostraram que o consumo de albedo ajuda a reduzir os níveis de colesterol LDL, melhora a digestão, regula o açúcar no sangue e pode reduzir a inflamação sistêmica — diz Candotti.
Estes são os principais benefícios do consumo do albedo das frutas cítricas:
1. Melhora a saúde intestinal
Segundo Candotti, no nível digestivo, a fibra de albedo melhora o trânsito intestinal, reduz a constipação e modula a microbiota intestinal.
— A pectina atua como um prebiótico , alimentando bactérias benéficas no intestino e promovendo um microbioma saudável — esclarece Sympson.
Além disso, promove a sensação de saciedade e retarda a absorção de açúcares , sendo um aliado na prevenção da síndrome metabólica.
2. Propriedades antioxidantes
Os flavonoides presentes no albedo — como naringina e hesperidina — atuam como potentes antioxidantes, combatendo o estresse oxidativo e reduzindo os danos celulares, de acordo com os especialistas consultados.
De fato, Candotti cita estudos da Universidade de Valência, que descobriram que as concentrações de flavonoides no albedo podem ser ainda maiores do que no suco ou na polpa.
3. Regulação da glicose
Outra função da fibra solúvel presente nas frutas cítricas é retardar a absorção de açúcares, ajudando a estabilizar os níveis de glicose no sangue. Isso, explica Sympson, é benéfico para pessoas com diabetes ou resistência à insulina.
4. Redução do colesterol
A pectina também pode se ligar aos ácidos biliares no intestino, reduzindo os níveis de colesterol LDL (“ruim”) ao promover sua excreção. Isso é combinado e potencializado pelo efeito dos flavonoides na inibição da oxidação do colesterol LDL, um fator-chave na formação de placas arteriais, de acordo com Sympson.
Consumo e incorporação
Embora não seja necessário incluir albedo na dieta diária, ele pode ser um complemento valioso para quem busca aumentar a ingestão de fibras e antioxidantes, explica Sympson.
Candotti concorda, explicando que o consumo regular de frutas cítricas como parte de uma dieta de rotina pode potencializar os benefícios nutricionais da fruta e que não é necessário consumir grandes quantidades.
— Basta não eliminar sistematicamente o albedo comendo laranjas, tangerinas ou toranjas. Para pessoas com síndrome metabólica, diabetes tipo 2 ou dislipidemia, incluí-las pode ser especialmente útil — aponta.
Quanto às formas de incorporá-lo, os especialistas sugerem:
- Rale um pouco e adicione em vitaminas ou sucos naturais;
- Inclua em geleias caseiras;
- Seque para infusões; e
- Seque e moa para usar como pó em receitas doces ou assados.
Candetti alerta que consumir a opção crua ou pouco processada é a mais aconselhável. Quanto às contraindicações, Sympson afirma que o albedo é seguro para a maioria das pessoas, mas que pessoas com gastrite, alergia a frutas cítricas, problemas dentários ou dietas pobres em fibras ou predisposição a pedras nos rins devem consumi-lo com cautela — e em alguns casos evitá-lo — devido ao seu alto teor de fibras.
Pessoas com síndrome do intestino irritável (SII), intestino sensível ou que seguem dietas com baixo teor de FODMAP podem apresentar inchaço ou desconforto digestivo leve. Recomenda-se introduzir o produto gradualmente e monitorar a tolerância individual.