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Núcleo de Marte pode ter cheiro de ovo podre? Estudo sugere que sim

Núcleo de Marte pode ter cheiro de ovo podre? Estudo sugere que sim

Pesquisadores do Centro Espacial Johnson, da NASA, descobriram que o núcleo de Marte se formou bem mais rápido que o da Terra. O segredo está nos sulfetos de ferro derretido e de níquel, que mergulharam pela camada de rochas sólidas que cerca o planeta e alcançaram seu centro — que pode muito bem ter cheiro nada agradável.

Para entender, é preciso ter em mente que os planetas são formados por camadas: a mais externa delas é a crosta (que é onde estamos), acomodada sobre o manto. Mais ao fundo, estão o núcleo externo e sólido e o interno e derretido, cuja rotação pode criar um campo magnético global.

Esquema das camadas da Terra (Argonne National Laboratory/CC BY-NC-SA 2.0)
Esquema das camadas da Terra (Argonne National Laboratory/CC BY-NC-SA 2.0)

Os cientistas planetários chamam estas camadas de diferenciação, porque os elementos mais densos (como o ferro e níquel) afundam para o interior dos planetas, enquanto os mais leves permanecem em suas camadas externas. Para a comunidade científica, o interior do planeta precisa ser derretido para o níquel e ferro afundarem até o núcleo.

No caso da Terra, isso pareceu ter ocorrido ao longo de bilhões de anos devido ao calor liberado pelo decaimento do alumínio-26 e do ferro-56. Já em Marte, o cenário é outro: os meteoritos do Planeta Vermelho têm evidências que indicam que seu núcleo se formou poucos milhões de anos após o surgimento do Sistema Solar, ou seja, Marte teria evoluído mais rápido que a Terra.

O problema é que os modelos de formação planetária não conseguiam replicar este processo. Os planetas do nosso sistema nasceram do disco protoplanetário (disco de gás e poeira) ao redor do Sol, e a gravidade do astro atraiu os elementos e minerais mais pesados ali, como o ferro e níquel. Como resultado, estes elementos foram para a área central do disco, enquanto os mais leves ficaram na área mais externa.

Marte se formou entre estas duas áreas, ou seja, havia grandes quantidades de ferro e níquel em seus arredores, mas também havia espaço para elementos mais leves, como enxofre. Os sulfetos de ferro e níquel derretidos podem afundar através das pequenas rachaduras entre os minerais das rochas sólidas. Após milhões de anos, eles se acumulam no núcleo do planeta — e isso ocorre bem antes de o decaimento dos elementos radioativos derreter esta área.

Através de experimentos eles confirmaram que os componentes mais densos e derretidos podem migrar para o centro de um corpo planetário e formar um núcleo ali antes que as rochas nos arredores derreta. Este modelo de formação do núcleo pode ser aplicado a qualquer grande objeto que estivesse naquela região do disco protoplanetário.

Assim, os resultados respondem algumas perguntas importantes sobre a “infância” do Planeta Vermelho e indicam que seu interior deve ser rico em enxofre — o composto responsável pelo mau cheiro típico dos ovos podres.

A pesquisa foi publicada na revista Nature Communication

Space.com