Aves com estômagos cheios de plástico “estalam e rangem” ao serem tocadas

Imagens chocantes revelam o impacto devastador da poluição por plástico em aves marinhas e tartarugas: uma geração de animais condenada antes mesmo de aprender a voar ou nadar
O som não é comum entre aves. Mas em uma remota ilha australiana, filhotes de uma espécie de ave marinha chamada pardela-de-pés-rosados fazem um ruído inquietante: “crack”, “crunch”. Estalos que denunciam um problema silencioso e crescente – seus estômagos estão repletos de plástico.
A cena se repete em Lord Howe, uma pequena ilha vulcânica a leste da Austrália, onde vivem cerca de 44 mil pardelas, também conhecidas como aves-morcego. Ao longo de três meses, os pais dessa espécie alimentam seus filhotes em ninhos subterrâneos. Mas, sem perceber, em vez de peixe e lula, levam de volta pedaços de lixo: clipes de balão, tampas de garrafa, peças de LEGO, rodas de carrinhos e tampas de caneta.
Em um dos casos mais graves, cientistas encontraram 778 pedaços de plástico no estômago de um único filhote com apenas 80 dias de vida. Pesquisas indicam que todos os filhotes hoje ingerem pelo menos 50 fragmentos de plástico — que chegam a representar 10% do peso corporal dessas aves.
“É tanto plástico dentro do corpo que às vezes conseguimos ouvir os estalos quando seguramos o animal”, explica o ornitólogo Dr. Alex Bond, curador sênior do Museu de História Natural de Londres ao Daily Mail. Ele estuda a fauna da ilha desde 2009.
Além de ocupar espaço no estômago, o plástico absorve toxinas presentes na água do mar, que ao serem liberadas no sistema digestivo acabam entrando na corrente sanguínea dos animais. “Esses filhotes ainda nem deixaram o ninho e já têm uma carga tóxica enorme no organismo. Muitos não vão sobreviver à migração até o Japão”, lamenta Bond.
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Para tentar salvar os que ainda estão vivos, pesquisadores coletam aves vivas nas praias da ilha e induzem o vômito ao injetar água salgada cuidadosamente em seus estômagos. Os pedaços de plástico que estavam alojados são expelidos em baldes, junto de pedaços de lula ou peixe — quando há.
Em paralelo, são feitas análises de sangue, penas e órgãos internos dos animais, que revelam danos nos tecidos e acúmulo de contaminantes. Um nome foi dado a essa condição em 2023: “plasticose”, doença causada pelo atrito contínuo de plástico no interior do estômago. A estimativa é que a população de pardelas em Lord Howe esteja em queda acentuada.
A poluição plástica também atinge outros animais marinhos, como as tartarugas. Esses répteis, que se alimentam de algas e vegetação oceânica, muitas vezes confundem pedaços de lixo com alimento. Uma vez ingerido, o plástico não pode ser regurgitado — e pode provocar obstruções fatais no trato digestivo.
Um estudo de 2018 revelou que a ingestão de apenas um pedaço de plástico aumenta em 20% o risco de morte. Com 14 pedaços, esse risco sobe para 50%. Além de bloquear a passagem de alimento e fezes, o plástico pode ferir órgãos internos, comprometendo a saúde do animal até levá-lo à morte.
Especialistas afirmam que é possível reverter esse cenário reduzindo o uso de plásticos descartáveis como copos e garrafas, e intensificando a reciclagem. O Museu de História Natural reforça: qualquer pessoa que encontrar animais enroscados em lixo ou debilitados nas praias deve notificar autoridades ambientais.