‘Bug científico’: apenas 1% das espécies de insetos são bem conhecidas

Desconhecimento sobre insetos ameaça o equilíbrio ecológico
Apesar da importância dos insetos para a produção de alimentos e para o equilíbrio ecológico, a ciência ainda sabe muito pouco sobre a grande maioria dessas espécies. De acordo com um novo estudo realizado pelo Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido (UKCEH) e a Sociedade Zoológica de Londres (ZSL), apenas 1% das espécies de insetos são bem compreendidas, o que levanta preocupações sérias sobre o futuro.
Embora o declínio de espécies “carismáticas”, como as abelhas, seja amplamente discutido, a falta de dados sobre a maioria das espécies de insetos dificulta a implementação de medidas de proteção adequadas. O estudo revela que, das cerca de um milhão de espécies conhecidas, apenas 12.100 foram avaliadas pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), e 20% dessas espécies estão em risco. A grande questão, no entanto, é: e os outros 99%?
O monitoramento de insetos é escasso fora da América do Norte e Europa, e regiões como a Ásia, América do Sul e África têm dados limitados, tornando ainda mais difícil entender o real estado de muitas espécies. Enquanto borboletas, abelhas e libélulas são frequentemente estudadas, as outras espécies, muitas vezes consideradas “menos atraentes”, recebem pouca atenção, embora desempenhem funções cruciais para o ecossistema. Por exemplo, o grilo, apesar de sua aparência repulsiva, é excelente no controle de pragas, especialmente em árvores frutíferas.
Declínio silencioso
Nos últimos anos, observou-se uma queda acentuada nas populações de borboletas e abelhas, com a perda de 60% das abelhas desde a década de 1990. Porém, essas não são as únicas espécies polinizadoras e importantes para o ambiente. O estudo destaca que a falta de atenção a outras espécies pode ser um erro fatal, pois todos os insetos têm um papel vital na manutenção dos ecossistemas.
A perda de habitat, o uso indiscriminado de pesticidas e a escassez de alimentos estão contribuindo para o declínio de muitas espécies. No entanto, sem um entendimento mais profundo das populações de insetos e dos impactos humanos sobre elas, é impossível formular soluções eficazes. O desafio, segundo os cientistas, é como um gigantesco quebra-cabeça, onde milhares de peças estão faltando e o tempo é escasso para preencher essas lacunas e agir.
Uma nova abordagem
Para lidar com essa lacuna de dados, os pesquisadores propõem uma nova estrutura para entender como diferentes fatores afetam as espécies locais de insetos. O objetivo é usar as informações disponíveis para implementar ações em larga escala que beneficiem o maior número de espécies possíveis, em vez de tentar encontrar soluções específicas para cada uma das milhões de espécies existentes.
O próximo passo é testar essa abordagem, utilizando diversas metodologias de pesquisa para modelar como diferentes espécies de insetos respondem às ameaças, ajudando a formar uma visão mais clara da saúde global da população de insetos. Em um momento em que o futuro dos insetos é incerto, é crucial que a comunidade científica e a sociedade reconheçam a urgência de um esforço colaborativo para entender e proteger essas espécies antes que seja tarde demais.