Saiba como fazer o alimento durar mais no calorão

A principal preocupação é com as hortaliças e as frutas, que são mais perecíveis, já que o calor acelera a deterioração dos alimentos e aumenta o risco de desperdício.
“Compro menos, né, pra poder consumir durante a semana, porque tudo apodrece muito rápido. Coloco na geladeira o que tem que colocar, ou eu seco e congelo pra durar mais. Legumes, essas coisas, eu procuro eu colocar na geladeira. Eu procuro deixar eles um pouco mais reservados nos saquinhos, pra eles demorar mais tempo, pra estragar mais rápido. Também, sim, como eu vejo que tá nessa condição, eu não compro muita quantidade. Compro pouca quantidade que eu vou usar pela semana, pra próxima semana eu tenho que vir na feira de novo e repor.”
Essas são algumas das estratégias adotadas pelos consumidores para tentar preservar alimentos em meio às altas temperaturas que atingem o país. A principal preocupação é com as hortaliças e as frutas, que são mais perecíveis, já que o calor acelera a deterioração dos alimentos e aumenta o risco de desperdício.
A pesquisadora da Embrapa Hortaliças, Milza Lana, explica que os processos que fazem com que estes produtos estraguem são influenciados diretamente pela temperatura, porque eles perdem água de sua composição.
“No caso das frutas e hortaliças, você vai pensar que os que vão durar menos, que vão ser mais afetados pela temperatura, são as folhas, alface, couve, rúcula, porque são estruturas da planta que foram feitas para perder água. São fininhas, não tem uma casca grossa, como, por exemplo, uma banana. Então, as folhas e os brotos, por exemplo, o brócolis, essas são as hortaliças que vão mais rapidamente sofrer o efeito do calor. Depois você vai ter os frutos verdes, abobrinha, pepino, pimentão, porque eles são frutos que não têm uma casca tão desenvolvida. Depois você vai ter os frutos maduros, tomate, abóbora, maçã, banana, pera, porque esse produto tem uma casca mais grossa, mais serosa, que inibe um pouco a perda d’água. E aí, por último, você vai ter aquelas hortaliças que são estruturas de reserva. Cebola, alho, cará, inhame, batata, que são hortaliças que duram mais.”
A pesquisadora explica ainda que cada alimento exige cuidados específicos para preservar a qualidade e os nutrientes.
“Na fruteira, são aqueles que são raízes. Batata, cebola, alho, cará, inhame. A não ser que ele já esteja descascado e cortado. As frutas, até elas estarem maduras, elas devem ficar fora da geladeira. Se você for consumir até dois dias, não precisa ir para a geladeira. Mas se for demorar mais tempo, ela está madura, você já pode colocar com a exceção da banana. As folhagens todas devem ir para a geladeira. E as hortaliças como vagem, abobrinha, quiabo, se você for usar no mesmo dia, não precisa, senão elas também devem ir para a geladeira quando estiver muito quente. Sempre embalada.”
Nas redes sociais, viralizaram vídeos com dicas de como conservar melhor frutas, legumes e verduras, principalmente nas altas temperaturas – por exemplo, cenouras e pepinos duram mais tempo na geladeira se forem guardados em potes fechados com água.
Foi em um desses vídeos que a engenheira Giovanna Muniz aprendeu como guardar melhor as bananas – fruta mais consumida na casa dela.
“Eu optei por fazer foi soltar as bananas da penca, envolver o cabo da banana com papel filme e colocar na geladeira. Se eu quero que elas durem por mais tempo, eu coloco no freezer. Uma outra coisa que eu faço também, se eu for utilizar em alguma outra receita, eu pego as bananas, pico as bananas e já congelo as bananas picadas para usar depois. Mas no geral eu opto pela geladeira e já é o suficiente para que elas durem por mais tempo e que eu consiga consumir.”
Na outra ponta, os feirantes também precisam “se virar” para tentar conservar os alimentos frescos e garantir as vendas. Usar cooler com gelo e fechar a barraca mais cedo foram algumas das soluções encontradas por quem trabalha em um feira em Copacabana, na Zona Sul do Rio.
“Preciso de um gelo e aí no dia a dia o gelo já vai derretendo, porque como a gente trabalha na rua, preciso estar mantendo ali alguma coisa no gelo para conseguir fazer as entregas no final do dia. E muita coisa não aguenta, o gelo por si só ele já não aguenta o calor, mesmo no isopor, mesmo armazenado direitinho, ele não aguenta. Eu trago a banana mais verde, que trago duas, que acho que é só uma armadura. Essa cita que teve aí, a mercadoria está escassa. Quando está muito calor, você compra uma mercadoria mais fresca e mantém ela no frigorífico. A mais verdinha você mantém ela no frigorífico. Se comprar muito madura, a gente traga mais rápido. Arruma rápido e embora mais cedo, para evitar queimar a mercadoria.”
O calor também impactou os produtos vendidos pelos supermercados. O diretor-executivo de operações do Carrefour, Marco Alcolezi, afirma que as unidades da rede estão utilizando ferramentas de inteligência artificial para monitorar a demanda de consumo dos alimentos, para evitar que alguns estraguem.
“Ele inicia nosso abastecimento olhando para a temperatura de duas ou três semanas para frente, para poder determinar onde ele acelera abastecimento. Porque o calor ele acelera a demanda de alguns produtos, olhando para a participação de vendas desses itens, como também reduz de outro. Eu posso dizer, assim, no Rio de Janeiro ou em qualquer outra cidade do Brasil, é conhecida a famosa feijoada, mas com o calor extremamente alto, diminui o consumo. E nós produzimos a feijoada e também produzimos os ingredientes, e a gente acaba reduzindo isso daí. Então eu tenho uma redução na produção disso, de compra de isso e de abastecimento, o que acaba me ajudando a diminuir essa possível perda entre tudo do calor.”
Já o Jaime Valente, Supervisor Comercial do Supermercados Mundial, conta que os consumidores têm ‘improvisado’ seus próprios meios de refrigeração.
“Ele leva bolsas térmicas, entendeu, para poder minimizar esse problema e ele mesmo garantir a qualidade do produto até a casa dele. Nós temos um sistema que a gente tem climatizado todos esses produtos, para que a gente não tenha perdas, minimizar realmente as perdas desses produtos.”
Com a proximidade da Páscoa, surge também a preocupação com os ovos de chocolate que têm maiores concentrações de cacau – já que eles derreterem mais rapidamente. Para evitar perdas, supermercados e lojas escolhem áreas mais frescas para a exposição dos produtos e também controlam as temperaturas ideais de refrigeração.