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Plástico preto: o quão perigosos para a saúde são de fato os utensílios de cozinha feitos com o material?

Plástico preto: o quão perigosos para a saúde são de fato os utensílios de cozinha feitos com o material?

Recentemente, um estudo identificou espátulas pretas como fonte de vazamentos químicos em alimentos – mas calculou mal a dosagem. Logo, o quão preocupados deveríramos estar?

No final de 2024, uma pesquisa publicada no periódico Chemosphere apontou que utensílios feitos de plástico preto podem conter substâncias químicas usadas para evitar incêndios, conhecidas como retardadores de chamas. Essas substâncias, embora úteis para prevenir riscos em eletrônicos, podem ser tóxicas quando presentes em itens de uso doméstico, como utensílios de cozinha, e representam um risco potencial à saúde.

O problema, de acordo com o estudo, começa com o processo de reciclagem. Plásticos reciclados, formados a partir da fusão de materiais de diferentes cores, geralmente apresentam uma coloração pouco atrativa.

Para melhorar o aspecto final, fabricantes adicionam um pigmento chamado “carbono negro”, que dá aos produtos um visual uniforme. Contudo, esse pigmento impede que sensores ópticos, usados em instalações de reciclagem, identifiquem e separem os plásticos corretamente. Como alternativa, muitos fabricantes utilizam plásticos reciclados provenientes de resíduos eletrônicos, como carcaças de computadores, TVs e cafeteiras. Esses materiais, tratados com retardadores de chamas para prevenir incêndios, frequentemente contêm substâncias químicas tóxicas já proibidas em vários países, mas que continuam circulando no ciclo de reciclagem e, segundo os pesquisadores, podem parar na nossa comida.

O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, analisou 203 produtos domésticos de plástico reciclado vendidos nos Estados Unidos, incluindo utensílios de cozinha, embalagens e brinquedos. Eles disseram quedetectaram o químico BDE-209, que não se decompõe facilmente no ambiente e tem sido associado a potenciais riscos para a saúde humana, em quantidades que se aproximam dos limites de segurança recomendados.

Segundo a análise, alguns utensílios de cozinha resultariam numa dose provável de 34.700 ng por dia de BDE-209, que os cientistas alertaram que se aproxima do limite de exposição seguro recomendado pela Agência de Proteção da Saúde Ambiental dos EUA (EPA). No entanto, especialistas apontam que os cientistas calcularam mal a dose de referência da EPA por um fator de 10. Isto reduziu a exposição estimada ao BDE-209 das colheres e espátulas pretas para menos de um décimo do limite recomendado pela EPA.

Apesar disso, os autores afirmaram que o erro não alterou a sua conclusão geral de que “a reciclagem, sem a transparência e as restrições necessárias para garantir a segurança resulta numa exposição inesperada a retardadores de chama tóxicos em utensílios domésticos”.

Para especialistas da área, apesar do erro, o estudo demonstra os desafios da conciliação entre sustentabilidade e segurança alimentar. “Conteúdo reciclável é bom. Mas se forem plásticos como estes, eles geralmente contêm coisas horríveis. A reciclagem em contato com alimentos é um dos grandes problemas do mundo das embalagens”, explicou Mark Miodownik, professor da University College London, ao The Guardian.