Em 2024, mundo teve 6 semanas de calor extremo causado pelo aquecimento global

Nos países mais afetados, contagem chega a 150 dias; organizações destacam também eventos extremos como secas e alagamentos que afetaram o Brasil
Um relatório das organizações climáticas World Weather Attribution e Climate Central mostra uma retrospectiva das mais amargas para a humanidade: em 2024, o mundo teve, em média, cerca de 41 dias a mais de calor extremo – praticamente seis semanas completas – por causa das mudanças climáticas, em comparação com o que provavelmente aconteceria sem a influência do fenômeno causado pela ação humana.
A contagem muda a depender da região avaliada. Os países do Caribe e das ilhas do Pacífico foram os que mais sofreram, com cerca de 150 dias a mais de calor extremo por influência do agravamento do aquecimento global. Metade dos países do mundo tiveram cerca de 60 dias nessa situação, e mesmo nos países menos afetados (casos do Reino Unido, Estados Unidos e Austrália) foram pelo menos três semanas de calor extremo que não teriam acontecido sem as mudanças climáticas.
Segundo as organizações, foram mapeadas 3,7 mil mortes influenciadas pelo aquecimento global, em 26 eventos climáticos extremos. Mas elas alertam que, considerando os mais de 1.200 eventos que não puderam ser avaliados em detalhe, a contagem de óbitos deve estar na casa das centenas de milhares.
O aquecimento global teve influência maior até mesmo que o El Niño no aquecimento das temperaturas em 2024, dizem as organizações. “Muitos eventos extremos que ocorreram no início de 2024 foram influenciados pelo El Niño. No entanto, a maioria dos nossos estudos descobriu que a mudança climática desempenhou um papel maior do que o El Niño em alimentar esses eventos, incluindo a seca histórica na Amazônia”, apontam no relatório.
O Brasil, por sinal, teve destaque no balanço das organizações sobre eventos extremos motivados pelas mudanças climáticas. “A floresta amazônica e o Pantanal foram duramente atingidos pelas mudanças climáticas em 2024, com secas severas e incêndios florestais levando a uma enorme perda de biodiversidade. A Amazônia é o sumidouro de carbono terrestre mais importante do mundo, o que a torna crucial para a estabilidade do clima global. Acabar com o desmatamento protegerá ambos os ecossistemas da seca e dos incêndios florestais, pois a vegetação densa é capaz de absorver e reter umidade”, sugerem a World Weather Attribution e Climate Central.
Também foram apontados os vários desastres de alagamentos acontecidos em 2024, incluindo aquele que afetou o Rio Grande do Sul.
Resoluções para 2025
Para que o efeito das mudanças climáticas seja menos desastroso me 2025, as organizações citam algumas medidas básicas a serem tomadas por governos e sociedade civil:
- Afastar-se mais rapidamente dos combustíveis fósseis: A queima de petróleo, gás e carvão é a principal causa do aquecimento global e a principal razão pela qual o clima extremo está se tornando mais severo, apontam. “Na COP28, o mundo finalmente concordou em ‘fazer a transição para longe dos combustíveis fósseis’, mas novos campos de petróleo e gás continuam a ser abertos ao redor do mundo, apesar dos avisos de que isso resultará em um compromisso de longo prazo com [aumento de temperatura de] mais de 1,5 °C.”
- Sistemas de avisos antecipados: World Weather Attribution e Climate Central destacam que sistemas de alerta são “uma das maneiras mais baratas e eficazes de minimizar fatalidades”, representando um modo de prevenir mortes e também grandes custos de reconstrução. “Os avisos precisam ser direcionados dias antes de um evento climático perigoso e delinear instruções claras sobre o que as pessoas precisam fazer”, sugerem.
- Divulgação em tempo real das ondas de calor e suas consequências: “Ondas de calor são o tipo mais mortal de clima extremo. No entanto, os perigos das altas temperaturas são subestimados e subnotificados. Informar os jornalistas locais quando os departamentos de emergência estão sobrecarregados é uma maneira simples de alertar o público de que o calor extremo pode ser mortal”, dizem.
- Financiamento a países em desenvolvimento: Uma das principais discussões em andamento nos fóruns climáticos, o financiamento climático dos países mais pobres também é considerado como chave para o enfrentamento às mudanças climáticas. “Os países em desenvolvimento são responsáveis por uma pequena quantidade de emissões históricas de carbono, mas estão sendo os mais atingidos pelo clima extremo. Garantir que os países em desenvolvimento tenham os meios para investir em adaptação protegerá vidas e meios de subsistência e criará um mundo mais estável e igualitário”, apontam.