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Banhos em excesso podem colaborar no desencadeamento da dermatite atópica em cães

Banhos em excesso podem colaborar no desencadeamento da dermatite atópica em cães

Desencadeada pelo contato com substâncias que ocasionam alergia na pele, deixando a região vermelha e causando muita coceira, a dermatite atópica é uma das doenças de pele mais comuns entre os cães, atingindo cerca de 15%.

O médico-veterinário Bruno Divino, presidente da Comissão Nacional de Estabelecimentos e Práticas Clínicas Veterinárias do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), explica que a desordem cutânea alérgica, no entanto, não acontece entre filhotes.

Neste cenário, quando a coceira surge em animais até os oito meses, o quadro se trata, na verdade, de uma causa parasitária, ou seja, pulga ou carrapato.

“Assim como nos humanos, isso acontece porque o organismo precisa ter contato com substâncias que vão causar a alergia, para depois produzir anticorpos que vão desencadear o processo alérgico”, esclarece.

De caráter inflamatório, crônico e multifatorial – decorrente da perda da integridade da barreira epidérmica – surge quando a pele não apresenta uma camada protetora tão eficiente, o que permite que a poeira, o ácaro, pólen e, às vezes, até mesmo o contato com a grama, entrem em contato com uma parte mais profunda e desencadeie um processo de coceira.

“O que vai causar essa alergia é algo muito individual [variando de caso a caso]. Essa também é uma doença comum ao homem, nesse caso, estando relacionada a bronquite, coriza. Então, por exemplo, existem algumas pessoas que são alérgicas à fumaça de cigarro e que vão desencadear uma bronquite, e nos animais isso funciona da mesma forma. Existem múltiplas possibilidades de se desencadear aquele gatilho inicial do processo da dermatite”.

A dermatite atópica pode atingir qualquer cachorro, inclusive, gatos, no entanto, por ser uma enfermidade de origem genética, algumas raças são mais predispostas. Entre elas, estão: o poodle, sharpei, golden retriever, labrador, buldogue, shih-tzu, lhasa apso, pug e boxer.

Quais são os sinais?

Alguns animais têm o costume de se coçar todos os dias ao longo do ano, no entanto, um ou vários fatores irão estimular a coceira intensa, seja uma picada de pulga ou o contato com algum perfume ou desinfetante, por exemplo.

Segundo o especialista, inclusive, a quantidade de banhos em excesso pode colaborar para o desencadeamento da dermatite atópica: “O ideal é que em um animal saudável os banhos ocorram em um período de tempo mais espaçado possível, e em um cão atópico, então, quando o quadro estiver controlado. A indicação é de que não sejam dados, e ocorram apenas para tratamento com shampoo ou medicamentos”, revela.

Os sinais também podem ser percebidos com mais facilidade em dias mais secos, onde tem muita poeira. A pele fica ressecada e a pólen no ambiente, sendo que na maior parte dos casos, as regiões mais afetadas podem ser: face, olhos, axila, patas e as dobras do cotovelo.

“Já quando está no verão, se tem umidade alta ou não se tem floração, normalmente, eles tendem a se coçar menos”, relata Divino.

O quanto afeta a qualidade de vida?

A coceira afeta diretamente a qualidade de vida dos animais, já que pode fazer com que se cocem, até mesmo, 24 horas por dia, o que pode colaborar no surgimento de outras lesões que podem ser perigosas não apenas para o cão, mas também para o seu tutor, já que servirão como uma porta de entrada para infecções mais sérias.

Atualmente, uma cura para a dermatite atópica ainda não foi descoberta, o que faz com que seja necessário que o tutor entenda que uma solução definitiva não será encontrada, mas sim, que o quadro será controlado. Isso acontece com a redução da intensidade e período da coceira em 50%.

“Curar ou acabar com a dermatite atópica hoje ainda não é possível, existem tratamentos novos e promissores, que tem apresentado resultados muito interessantes, mas a erradicação da doença ainda não existe”, expõe.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico não é fácil, o processo é lento e trabalhoso. “É um diagnóstico de exclusão. A gente tem que excluir se não tem carrapato ou pulga, ou alergia de um deles ou ambos, assim como de algum componente da ração. Só depois obteremos a resposta. Não existe um exame específico que aponte essa resposta”.

De acordo com o médico-veterinário, a base do tratamento se dará em restabelecer a proteção da pele, com opções variando de caso a caso. “Existem desde shampoos até condicionadores e loções que irão colaborar na hidratação da pele e deixá-la mais espessa, mas existem também novos tratamentos para coceira, desde orais até mesmo anticorpos monoclonais injetáveis”.