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Como o aquecimento global intensificou os 10 desastres climáticos mais mortais desde 2004

Como o aquecimento global intensificou os 10 desastres climáticos mais mortais desde 2004

Atividade humanas que contribuem para a alta das temperaturas da Terra, como a queima de combustíveis fósseis, estão por trás de série de tragédias mortais em duas décadas, revela estudo

Um novo estudo da World Weather Attribution revela que a emergência climática causada por atividades humanas intensificou todos os 10 desastres climáticos mais mortais desde 2004, resultando em mais de 570.000 mortes. O relatório, que celebra 20 anos de pesquisas sobre atribuição climática — campo de estudo que investiga como as mudanças climáticas influenciam eventos meteorológicos extremos — destaca a urgência de ações para proteger vidas diante do aumento desses eventos.

Os principais achados do estudo incluem:

Intensificação dos Desastres: A queima de combustíveis fósseis e o desmatamento tornaram os desastres mais frequentes e devastadores, afetando tanto países ricos quanto pobres.

Necessidade de Preparação: É crucial fortalecer infraestruturas, implementar sistemas de alerta precoce e proteger as populações vulneráveis.

Dados Subestimados: O número real de mortes pode ser muito maior, especialmente em relação a ondas de calor, cujas fatalidades não são sempre registradas.

Com um aumento médio de 1,3°C até agora, desde a era pré-industrial, a pesquisa alerta que, se não forem adotadas medidas drásticas para reduzir emissões, o planeta pode enfrentar um aumento de até 3,1°C até o final do século.

Se continuarmos a queimar petróleo, gás e carvão, o sofrimento continuará.
— Friederike Otto, Cofundadora da World Weather Attribution.

Os especialistas pedem que líderes políticos deixem de lado os combustíveis fósseis e acelerem a transição para energias renováveis, e defendem um compromisso global, especialmente na próxima COP29, para financiar ações que combatam as perdas e danos causados por desastres climáticos. “Este estudo é um lembrete do que está em jogo na COP29. Mudanças climáticas continuam a matar milhares e deslocar milhões anualmente”, observa Joyce Kimutai, pesquisadora do Imperial College London

Influência do aquecimento nos 10 eventos meteorológicos mais mortais em 20 anos

Evento (ano) Região afetada Mortalidade Atribuição às mudanças climáticas no ano de ocorrência
Ciclone Sidr (2007) Bangladesh 4.234 – Precipitação mais provável e intensa; Velocidades do vento 16% mais prováveis, 2,4 m/s mais intensas; Temperaturas da superfície do mar 30% mais prováveis, 0,69 °C mais quentes
Ciclone Nargis (2008) Myanmar 138.366 – Precipitação mais provável e intensa; Velocidades do vento 18% mais prováveis, 5,2 m/s mais intensas; Temperaturas da superfície do mar: 47% mais prováveis, 0,66 °C mais quentes
Onda de Calor na Rússia (2010) Rússia 55.736 – Temperaturas de 3 a 7.000 vezes mais prováveis e de 0,3 a 4,3 °C mais quentes.
Seca na Somália (2011) Somália 258.000 – Precipitação: baixa pluviometria durante março a maio mais provável e intensa; A seca provavelmente foi agravada pelo aumento das temperaturas, que evaporam a água dos solos e das plantas.
Enchentes na Índia Uttarakhand, India 6.054 – Precipitação 2 vezes mais provável e 11% mais intensa.
Tufão Haiyan (2013) Filipinas 7.354 – Precipitação mais provável e intensa; Velocidades do vento mais prováveis e intensas; Temperaturas da superfície do mar mais prováveis e mais quentes
Onda de calor Europa (2015) França 3.275 – Temperaturas 2 vezes mais prováveis.
Onda de Calor Europa (2022) Itália, Espanha, Alemanha, França, Grécia, Romênia, Portugal, Reino Unido 53.542 – Alta de temperaturas de 1 dia pelo menos 17 vezes mais prováveis e de 1,9 a 3,6 °C mais quentes; Temperaturas de 2 dias pelo menos 9 vezes mais prováveis e de 1,9 a 4,0 °C mais quentes
Onda de Calor Europa (2023) Itália, Espanha, Alemanha, Grécia, França, Romênia. 37.129 – Alta de temperaturas no Mediterrâneo ocidental ‘impossíveis’ sem mudanças climáticas e de 1,7 a 3,5 °C mais quentes; Temperaturas no sul da Europa pelo menos 1.000 vezes mais prováveis e de 2,0 a 3,2 °C mais quentes
Tempestade Daniel (2023) Líbia 12.352 – Precipitação mais provável e intensa.

Muitas das mortes poderiam ter sido evitadas com sistemas de alerta precoce, aumento da resiliência das cidades e garantia de infraestrutura de suporte especialmente para populações mais vulneráveis. No entanto, alguns desastres estão se tornando tão severos que a adaptação pode não ser rápida o suficiente, e esses eventos se tornarão mais frequentes enquanto as emissões de combustíveis fósseis continuarem a aquecer o clima.

Cada país precisa se preparar para o futuro, investindo em sistemas de alerta e atualizando infraestruturas.
— Roop Singh, Chefe de Urbanização e Atribuição da Red Cross Climate Centre.

Estudos de atribuição

A atribuição climática é um campo de estudo que investiga como as mudanças climáticas causadas por atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis, influenciam eventos meteorológicos extremos. Isso envolve a análise de dados para determinar a probabilidade de um evento específico ter ocorrido devido às alterações climáticas em comparação com um cenário sem essas mudanças.

Os pesquisadores utilizam modelos climáticos e dados históricos para identificar a “impressão digital” das mudanças climáticas em desastres naturais, como ondas de calor, inundações e furacões. Essa ciência ajuda a quantificar o impacto das mudanças climáticas em eventos específicos e a compreender melhor os riscos associados a mundo em aquecimento.

A primeira pesquisa de atribuição foi publicada em 2004, relacionando as mudanças climáticas a uma onda de calor na Europa que matou 70.000 pessoas. Em 2014, a compreensão sobre a influência do aquecimento causado por combustíveis fósseis ainda era limitada, levando à formação da World Weather Attribution, rede científica que se dedica a analisar a relação entre mudanças climáticas e eventos climáticos extremos.

As análises envolvem cientistas climáticos e especialistas em vulnerabilidade, com equipes compostas por membros do Imperial College London, do Royal Netherlands Meteorological Institute e do Red Cross Red Crescent Climate Centre.