Uma Terra para Todos: Nosso modo de vida só se manterá se acabarmos com a desigualdade
Nosso planeta só continuará a ser capaz de fornecer o padrão de vida mais básico para todos no futuro se os sistemas econômicos e as tecnologias forem drasticamente transformados e os recursos críticos forem usados, gerenciados e compartilhados de forma mais justa.
Esta é a conclusão de um relatório compilado por mais de sessenta cientistas de todo o mundo, ligados à entidade internacional Comissão da Terra.
A nova pesquisa se baseia nos “Limites do Sistema Terrestre Seguro e Justo”, publicados pela revista Nature no ano passado, que mostraram que a maioria dos limites vitais dentro dos quais as pessoas e o planeta podem prosperar foram ultrapassados.
Este novo relatório identifica o “Espaço Seguro e Justo”, dentro do qual os danos aos humanos e à natureza podem ser minimizados, garantindo que todos possam ser providos, e define os caminhos para alcançar e permanecer em tal espaço.
Contudo, as projeções futuras para 2050 mostram que esse espaço encolherá ao longo do tempo, impulsionado pela desigualdade, a menos que ocorram transformações urgentes.
[Imagem: Azote for Stockholm Resilience Centre (Richardson et al 2023)]
Reduzir as desigualdades
A única maneira de prover as necessidades de todos e garantir que sociedades, empresas e economias prosperem sem desestabilizar o planeta é reduzir as desigualdades em como os recursos críticos do sistema da Terra, como água doce e nutrientes, são acessados e usados – juntamente com a transformação econômica e tecnológica.
O estudo descobriu que as desigualdades e o consumo excessivo de recursos finitos por uma minoria são os principais impulsionadores da redução do “Espaço Seguro e Justo”. Fornecer recursos mínimos para aqueles que atualmente não têm o suficiente adicionaria muito menos pressão ao sistema da Terra do que a atualmente causada pela minoria que usa recursos muito maiores.
“Estamos começando a perceber o dano que a desigualdade está causando à Terra. O aumento da poluição e a má gestão dos recursos naturais estão causando danos significativos às pessoas e à natureza. Quanto mais continuarmos a aumentar a lacuna entre aqueles que têm muito e aqueles que não têm o suficiente, mais extremas serão as consequências para todos, à medida que os sistemas de apoio que sustentam nosso modo de vida, nossos mercados e nossas economias começam a entrar em colapso,” destacou a professora Joyeeta Gupta, da Universidade de Amsterdã, nos Países Baixos.
[Imagem: Adam Frank et al. – 10.1089/ast.2017.1671]
Uma vida livre da pobreza
Se os Limites do Sistema Terrestre representam o “teto”, acima do qual os sistemas da Terra não podem mais permanecer estáveis e resilientes, e danos significativos podem ser causados às pessoas e à natureza, o Espaço Seguro e Justo representa uma “fundação”, mostrando o mínimo que a população global precisa extrair do sistema da Terra para viver uma vida livre de pobreza.
O espaço entre esse teto e essa fundação está cheio de oportunidades que podemos usar para garantir um futuro melhor para as pessoas e o planeta.
Para atingir esse espaço, a equipe pede mudanças em três áreas.
Primeiro, um impulso por mudanças na forma como administramos a economia, encontrando novas políticas e mecanismos de financiamento que possam abordar a desigualdade, ao mesmo tempo em que reduzimos a pressão sobre a natureza e o clima. Segundo, gestão, compartilhamento e uso de recursos mais eficientes e eficazes em todos os níveis da sociedade – incluindo o tratamento do consumo excessivo de algumas comunidades, que está limitando o acesso a recursos básicos para aqueles que mais precisam deles. Terceiro, investimento em tecnologias sustentáveis e acessíveis, que serão essenciais para nos ajudar a usar menos recursos e reabrir o Espaço Seguro e Justo para todos – especialmente onde há pouco ou nenhum espaço restante.
“Continua sendo possível para todos os humanos escapar da pobreza e estar a salvo dos danos causados pelas mudanças no sistema terrestre, mas a capacidade do planeta de prover e proteger está sendo levada além dos seus limites,” concluiu Gupta.
Artigo: A just world on a safe planet: a Lancet Planetary Health-Earth Commission report on Earth-system boundaries, translations, and transformations
Autores: Kathryn H. Jacobsen, Caryl E. Waggett, Pamela Berenbaum, Brett R. Bayles, Gail L. Carlson, René English, Carlos A. Faerron Guzmán, Meredith L. Gartin, Liz Grant, Thomas L. Henshaw, Lora L. Iannotti, Philip J. Landrigan, Nina Lansbury, Hao Li, Maureen Y. Lichtveld, Ketrell L. McWhorter, Jessica E. Rettig, Cecilia J. Sorensen, Eric J. Wetzel, Dawn Michele Whitehead, Peter J. Winch, Keith Martin
Revista: The Lancet Planetary Health
Vol.: 8, Issue 9, e706 – e713
DOI: 10.1016/S2542-5196(24)00167-0