Quanto calor os polos mandam para a atmosfera? Missão da Nasa já tem respostas

A partir da medição da radiação infravermelha emitida por Ártico e Antártida, pesquisadores poderão prever melhor como as mudanças climáticas vão impactar o futuro da Terra
A mais nova missão climática da Nasa começou a coletar dados sobre a quantidade de calor na forma de radiação infravermelha distante (comprimentos de onda maiores que 15 micrômetros de tamanho) que o Ártico e a Antártida emitem para o espaço. O comprimento dos raios de luz emitido determina a temperatura que eles possuem – e são um indicativo do calor emanado numa região. Ondas mais próximas do vermelho (é o caso do infravermelho) são mais quentes, enquanto ondas na ponta azul do espectro eletromagnético são mais frias.
Em nota, a agência espacial afirma que essas medições são essenciais para prever melhor como as mudanças climáticas afetarão o gelo, os mares e o clima da Terra nos próximos anos.
Nomeada PREFIRE (sigla em inglês para Polar Radiant Energy in the Far-Infrared Experiment), a missão é alimentada com dados obtidos por dois satélites cúbicos do tamanho de uma caixa de sapato (CubeSats). O primeiro sensor foi lançado ao espaço em 25 de maio, e seu gêmeo em 5 de junho. Ambos começaram a transmitir informações para a Nasa durante o mês de julho.
Os CubeSats estão em órbitas assíncronas, quase polares, o que significa que eles passam pelos mesmos pontos com horas de diferença. Isso dá aos pesquisadores uma série de medições sobre fenômenos de vida relativamente curta, como o derretimento de camadas de gelo ou a formação de nuvens.
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O objetivo dos especialistas é que PREFIRE os ajude a obter uma compreensão mais clara de quando e onde os polos terrestres emitem radiação infravermelha distante para o espaço. Esse estudo inclui questionar como o vapor de água atmosférico e as nuvens influenciam na quantidade de calor que escapa da Terra, uma vez que essas formações podem reter a radiação infravermelha distante perto da superfície.
“Estamos constantemente buscando novas maneiras de observar o planeta e preencher as lacunas em nosso conhecimento. Com PREFIRE, estamos fazendo as duas coisas”, indica Karen Germain, diretora da Nasa. “A missão é um ótimo exemplo da ciência inovadora que podemos alcançar por meio da colaboração com parceiros universitários e industriais”.
A Terra absorve grande parte da energia do Sol nos trópicos. O clima e as correntes oceânicas, então, transportam esse calor para o Ártico e a Antártida, que naturalmente recebem muito menos luz solar. Sabe-se que o ambiente polar retransmite boa parte dessa energia de volta para o espaço na forma de radiação infravermelha distante. Contudo, essas emissões nunca foram sistematicamente medidas – daí a importância da PREFIRE.
Os dados da missão [ver abaixo] mostram temperaturas de brilho em vários comprimentos de onda, incluindo o infravermelho distante. Na representação da agência, amarelo e vermelho indicam emissões mais intensas originadas da superfície da Terra, enquanto azul e verde ilustram intensidades de emissão mais baixas, o que coincide com áreas mais frias na superfície ou na atmosfera.
No vídeo, é possível identificar os dados sobre as emissões de infravermelho médio (comprimentos de onda entre 4 e 15 micrômetros) tiradas no início de julho durante várias órbitas polares pelo primeiro CubeSat. Em seguida, a Groenlândia é destacada, onde as faixas se expandem verticalmente para mostrar como o infravermelho varia pela atmosfera. A visualização termina focando em uma área onde as duas passagens se cruzam, mostrando como a intensidade das emissões de mudou ao longo de nove horas entre essas duas órbitas.
Espera-se que o cruzamento de mais dados gerem insights sobre como a humanidade poderá conviver com o aquecimento global. “É emocionante ver os dados chegando. Com a adição das medições PREFIRE, estamos vendo pela primeira vez o espectro de energia completo que a Terra irradia para o espaço, o que é essencial para entender as mudanças climáticas”, conclui Tristan L’Ecuyer, principal pesquisador da missão.