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Cobra que mata pássaros maiores do que consegue comer virou ameaça ambiental

Cobra que mata pássaros maiores do que consegue comer virou ameaça ambiental

É comum que a espécie tente comer aves com 30% de seu peso corporal. Isso seria o mesmo que um humano tentar comer um castor em uma só mordida

A cobra-arbórea-marrom (Boiga irregularis) tem causado a extinção de espécies de pássaros que vivem em Guam, território do Oceano Pacífico que pertence aos Estados Unidos. O réptil foi inserido acidentalmente na região após a 2ª Guerra Mundial. Agora, estudos divulgados na revista Ecology and Evolution, investigaram os impactos ambientais causados pela espécie. E o principal impacto tem a ver com o fato de a cobra-arbórea-marrom ter o apetite maior que a boca — literalmente.

A cobra já foi responsável pela extinção de várias espécies nativas, como lagartos, morcegos e 11 aves. Segundo os pesquisadores, um dos danos ecológicos causados por esses répteis se dá pelo fato de que eles matam pássaros maiores do que são capazes de comer.

Cobra foi encontrada consumindo uma lagartixa que vive na Ilha de Guam — Foto: Melia Nafus/Reprodução
Cobra foi encontrada consumindo uma lagartixa que vive na Ilha de Guam — Foto: Melia Nafus/Reprodução

Por serem boas predadoras, as cobras, que podem c conseguem se lançar em troncos de árvores. Como destacou a revista Science, isso contribui para que elas matem duas vezes mais as aves do que conseguem consumir. Uma das suas principais presas é a espécie de pássaro estorninho-micronésio (Aplonis opaca).

Durante a juventude, as cobras cobra-arbóreas-marrons comem lagartos pequenos. Porém, quando crescem, o cardápio se expande para roedores e pássaros. Na fase adulta, esses répteis atingem até 3 metros de comprimento.

Em 1983, a ave papa-moscas-de-guam (Myiagra freycineti) foi declarada extinta. A espécie de pássaro martim-pescador-de-guam (Todiramphus cinnamominus) ainda sobrevive, mas apenas em cativeiro. As duas espécies foram ameaçadas pela cobra predadora.

A resposta dos cientistas

Devido aos danos ecológicos causados pela cobra, pesquisadores do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) têm feito a remoção e controle biológico da espécie em Guam. O objetivo principal envolve capturar cobras em armadilhas ou removê-las por envenenamento. Para essa última tática, eles estão adotando uma tática curiosa: lançando ratos envenenados com paracetamol nas florestas, usando helicópteros.

A hipótese dos especialistas é que as cobras menores iriam associar que os pássaros são muito grandes para servirem de alimentação — e, com isso, elas não seriam perigosas para o ecossistema. Entretanto, de acordo com o que disse à Science Martin Kastner, estudante de doutorado na Universidade Estadual da Virgínia (Virginia Tech), isso não é exatamente o que acontece.

Kastner estuda sobre a preservação do estorninho-micronésio (Aplonis opaca), e relatou que somente os adultos dessa espécie permanecem seguros contra as cobras enquanto estão em ninhos. Porém, os filhotes dessas aves são presas fáceis, justamente por ficarem fora do ninho nas primeiras semanas de vida, quando ainda não sabem voar.

Durante a investigação em campo, dos 461 pássaros rastreados, 171 foram mortos. Usando dispositivos de comunicação eletrônica, denominados transponders, metade desses filhotes foram encontrados dentro de cobras. Cerca de 48% dessas aves estavam abandonadas e com muco.

O estudo considera que as cobras ingeriam aves que tinham 30% do seu peso corporal. Isso equivale a um ser humano engolindo um castor com uma mordida.

O projeto National Park Service busca fazer a remoção das espécies de cobras-arbóreas-marrons em Guam e os pesquisadores esperam que esse método seja capaz de restaurar a biodiversidade dos animais nativos e dos pássaros, para que se reproduzam sem intervenções predatórias extremas. Algumas das espécies perdidas pela ação das cobras, estão seguras em cativeiro ou nas ilhas das Marianas, o que trás uma possibilidade de restauração do bioma em Guam.