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Biodiversidade salta para a agenda dos investidores: “É risco sistêmico”, diz Rede Internacional de Governança Corporativa

Biodiversidade salta para a agenda dos investidores: “É risco sistêmico”, diz Rede Internacional de Governança Corporativa

Rede lançou relatório para clarificar ferramentas que instituições podem utilizar para melhor compreender o seu risco de exposição, além de identificar as principais oportunidades de ação

Cada vez mais a perda de biodiversidade vem sendo reconhecida como um risco sistêmico, que precisa ser enfrentado pelas instituições de investimento ao lado de outras crises que já mobilizam as agendas e trazem consequências de longo alcance, como a emergência climática e a desigualdade social.

As iniciativas para enfrentar a perda de biodiversidade, que compromete serviços ecossistêmicos vitais sobre os quais a economia mundial se baseia, estão se multiplicando. Mas por onde e como os investidores podem começar?

Buscando clarear esse caminho, a Rede Internacional de Governança Corporativa (ICGN, na sigla em inglês) lançou um “Kit de Ferramentas de Ação de Biodiversidade”, para destacar ferramentas que instituições de investimento podem utilizar para melhor compreender o seu risco de exposição, além de identificar as principais oportunidades de ação.

Para a ICGN, os agentes fiduciários devem alinhar as práticas de investimento com a criação de valor sustentável de longo prazo, minimizando os riscos que podem afetar os retornos futuros. “Os riscos da biodiversidade para os mercados de capitais são sistêmicos e estão conectados aos riscos climáticos de forma complexa e dinâmica”, afirma em nota Robert Walker, Gerente de Política de Sustentabilidade do ICGN.

“Mas eles não são os mesmos que os riscos climáticos. As equipes e conselhos de administração de investimentos precisam pular em um campo em rápida evolução e começar a desenvolver estratégias para lidar com esses riscos.” Reconhecendo que para muitos investidores a biodiversidade representa um novo conjunto de riscos que precisam ser identificados e avaliados, o kit traz principais métricas, termos e ferramentas para familiarizar os investidores com o tema.

A lista inclui o Corporate Biodiversity Footprint (CBF), abordagem para medir até que ponto uma empresa está contribuindo para a degradação dos ecossistemas que impacta e sobre os quais depende; a Mean Species Abundance (MSA), que expressa a abundância relativa de uma espécie nativa em um ecossistema em comparação com sua abundância em um ecossistema não perturbado; e a Mitigation Hierarchy, que orienta empresas e investidores no sentido de evitar e limitar os impactos negativos das atividades sobre a biodiversidade e, na sequência, implementar esforços de restauração, só para citar algumas.

Traz ainda ferramentas de avaliação de biodiversidade open source. É o caso do Forest 500, desenvolvida pela Global Canopy, que avalia empresas na abordagem geral à biodiversidade, avaliando níveis variados de impactos por commodity (óleo de palma, soja, gado, silvicultura) e examina o comprometimento dos negócios na elaboração de reportes e relatórios sobre o tema, além de quaisquer abusos de direitos humanos associados. Seu escopo abrange todos segmentos da cadeia de suprimentos do produtor ao processador, comerciante, fabricante e varejista, o que torna essa ferramenta amplamente utilizada por investidores.

Há grande expectativa entre os investidores para o lançamento da versão final da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (TNFD), prevista para setembro. Inspirada na Força-Tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD), a estrutura visa oferecer uma gestão de risco e divulgação padronizada para as organizações relatarem e agirem sobre a evolução dos riscos relacionados à natureza. O objetivo final é apoiar uma mudança nos fluxos financeiros globais que geram impactos negativos na natureza e em direção a impactos positivos para a natureza.

Em webinário sobre o tema promovido pela Rede Internacional de Governança Corporativa nesta terça-feira (16), Snorre Gjerde, gerente líder de gestão de Investimentos do norueguês Norges Bank Investments, que investe em mais 9 mil empresas, afirmou que a biodiversidade é parte integrante da sistematização de riscos que realiza na hora de investir. “Estamos sempre trabalhando na construção e melhoria de metodologias que nos ajudem a mensurar o desempenho dos portfólios no tema.” Segundo ele, o lançamento da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (TNFD) deverá trazer uma estrutura mais consistente e escalável para ajudar os investidores a medir riscos e oportunidades.

Uma vez lançada a estrutura, será importante que os conselhos de administração estejam monitorando e colocando em prática procedimentos necessários para garantir conformidade. Uma das iniciativas que busca engajar investidores dispostos é a Nature Action 100, criada para impulsionar ações entre empresas em setores-chave considerados sistemicamente importantes para reverter a perda da natureza e da biodiversidade até 2030, como grãos, cacau, papel, madeira e agropecuária.

“Precisamos de colaboração e precisamos entender que a economia humana depende da biosfera”, disse Adam Kanzer, chefe de gestão de investimentos do BNP Paribas Asset Management, defendendo que os investidores levem em conta nas decisões os impactos no Planeta. “É como se estivéssemos em um avião caindo e o pai quisesse colocar a máscara de oxigênio primeiro na criança. A criança é a empresa. Mas a bioesfera é o pai, e ele precisa ser protegido primeiro”, compara.

Lauren Compere, diretora executiva e chefe de gestão e engajamento do Boston Common Asset Management, destacou a importância de entender as especificidades de risco das empresas e dos setores. “Uma área que muitos investidores não pensam é o risco em projetos de energia renovável, como os impactos em comunidades, ambiente e água”, pontuou. Em termos de governança, defende a criação de conselhos nas empresas focados em biodiversidade.

Considerando que 50% do risco de biodiversidade está no uso da terra, também é preciso pensar no impacto nas comunidades indígenas e garantir que os mais vulneráveis tenham voz à mesa, acrescentou. “Essa ideia de olhar a biodiversidade faz parte do desafio ESG, especialmente o aspecto S. Isso não é só sobre materialidade financeira, mas a vida.”