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Propostas de candidatos em 5 capitais não têm o clima como questão prioritária

Propostas de candidatos em 5 capitais não têm o clima como questão prioritária

Segundo relatório da ONG Greenpeace, de 20 planos de governo estudados, somente três apresentam comprometimento com agenda climática; saiba mais

A maioria dos planos de governo de candidatos à prefeitura de cinco capitais do país ignora a gravidade da emergência climática, de acordo com uma análise feita pelo Greenpeace Brasil em parceria com o Instituto Clima de Eleição. Dos 20 planos estudados, somente três estão comprometidos com o clima.

“Nossa análise demonstra que as candidaturas, de forma geral, não colocam a questão climática como prioridade de suas ações à frente das prefeituras, o que é muito preocupante”, afirmou o porta-voz de Justiça Climática do Greenpeace Brasil, Rodrigo Jesus, em comunicado.

O documento analisa as propostas dos quatro candidatos com maior intenção de voto em São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Recife (PE) e Manaus (AM), com base em pesquisas eleitorais dos institutos Datafolha, Quaest e AtlasIntel.

A análise dos planos de governo se baseou em 14 tópicos, sendo eles:

  1. Áreas verdes;
  2. Proteção de animais;
  3. Transporte e mobilidade;
  4. Gestão de resíduos;
  5. Água e saneamento;
  6. Moradia digna e infraestrutura;
  7. Transição energética justa;
  8. Agricultura e segurança alimentar;
  9. Economia verde;
  10. Educação climática, pesquisa e inovação;
  11. Enfrentamento ao racismo ambiental;
  12. Povos e comunidades tradicionais;
  13. Incentivo à participação social;
  14. Adaptação e redução de desastres.

Para cada categoria, os candidatos receberam a avaliação “desfavorável”; “não cita”; “parcialmente favorável” (quando cita medidas, mas não as indica ou elas são superficiais); “favorável” (quando apoia com medidas simples); e “comprometido” (além de apoiar, tem medidas consideradas robustas e específicas).

A presença das palavras-chave “mudanças climáticas”, “clima”, “emergência climática”, “aquecimento global” e “mitigação” em cada plano também foi um critério de análise.

Comprometimento nas capitais

“Transporte e mobilidade” foi o critério com maior número de candidatos comprometidos. De 20 candidaturas, 13 estão comprometidas com transporte coletivo gratuito e de qualidade, modais com menos emissões e mobilidade ativa (que inclui uso de bicicleta e andar a pé).

Em Porto Alegre, onde enchentes inundaram dezenas de bairros e deixaram milhares de pessoas desabrigadas este ano, os quatro candidatos analisados demonstram comprometimento com adaptação e redução de desastres.

Já na capital paulista, três de quatro candidatos também estão comprometidos com esse campo, além de educação climática, agricultura e segurança alimentar, água e saneamento, gestão de resíduos, transporte e mobilidade e áreas verdes – sendo que um deles não demonstrou comprometimento com nenhum dos 14 tópicos analisados.

Em Manaus, dois dos quatro candidatos com as maiores intenções de voto também não estão comprometidos com nenhuma área. No caso do Rio de Janeiro, transporte e mobilidade é um comprometimento de todos os candidatos. Por lá, nenhum deles cita economia verde em suas propostas, assim como em Recife, onde os candidatos também não estão comprometidos com áreas verdes.

A única categoria com a etiqueta “desfavorável” é “moradia digna e infraestrutura” para dois candidatos de capitais diferentes, Manaus e Rio de Janeiro. Ela diz respeito a políticas habitacionais consideradas justas e participativas, incluindo propostas de moradia resiliente aos impactos de eventos climáticos extremos e com eficiência hídrica e energética.

A capital carioca apresenta maior número de propostas para a agenda climática não citadas pelos candidatos: de 14 tópicos, 12 não são citados por ao menos um deles. Já São Paulo é a capital com mais candidatos comprometidos.

Os planos considerados “comprometidos” com a agenda climática são aqueles que obtiveram maior pontuação, conforme a quantidade de propostas “específicas e robustas” para os tópicos avaliados. Somente três pessoas candidatas foram consideradas “comprometidas”: duas delas estão em São Paulo e a terceira, em Porto Alegre.

O plano de governo não é tudo

O plano de governo é um dos fatores que determinam o comprometimento do candidato com a pauta climática, mas o documento destaca que o histórico de atuação de cada candidato e seus posicionamentos públicos, bem como a atuação de seus partidos, também são fatores a se considerar na hora de avaliar o compromisso com essa agenda.

“Além dessa análise, é importante olhar o histórico de votação e diretrizes partidárias para uma visão mais ampla e efetiva, uma vez que existe uma grande lacuna entre o que é prometido nos planos e o real posicionamento político das candidaturas “, afirmou Beatriz Pagy, diretora executiva do Clima de Eleição.